Seguradoras de patrimônio encaram desafio no resseguro
A escassez de crédito e a menor procura pelo resseguro devido a crise financeira não são as únicas dificuldades enfrentadas pelo mercado de seguros neste ano. Representantes do setor acreditam que as seguradoras de property (seguro patrimonial) terão mais dificuldades de retroceder seus riscos já neste mês, quando passou a valer a retrocessão de riscos somente com resseguradoras autorizadas a atuar no Brasil – locais, admitidas e eventuais. O prazo estipulado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), anteriormente programado para outubro de 2008, foi adiado, já que a maioria dos riscos das seguradoras de property estava pulverizado por meio do IRB-Brasil Re com diversas resseguradoras ainda não cadastradas no Brasil.
De acordo com Alexandre Malucelli, vice-presidente da J.Malucelli Seguradora, essa restrição vai dificultar as seguradoras de property, que precisam retroceder grandes valores, normalmente pulverizados com diversos resseguradores internacionais. “O impacto vai ser muito grande neste segmento, já que há muitos players envolvidos na retrocessão de riscos e isso vai ficar restrito”. Segundo Malucelli, a nova regra não vai afetar a seguradora. “Operamos como seguro garantia, que atua com poucos resseguradores e a maioria já é registrada aqui”.
A Susep encerrou o ano de 2008 com 48 resseguradoras cadastradas entre as modalidades local (com 60% de preferência e capital mínimo de R$ 60 milhões, mais capital adicional), admitida (com escritório de representação no Brasil e patrimônio líquido superior a US$ 100 milhões e reservas de US$ 5 milhões no Brasil) e eventual (com apenas 10% de preferência no resseguro, como sede no exterior e patrimônio líquido superior a US$ 150 milhões).
O vice-presidente da seguradora acredita que o ramo de seguro garantia vai crescer com a crise, mas em 2009, dificilmente a companhia chegará a 20% de crescimento, enquanto nos últimos anos, crescia entre 60% e 70%. “O resseguro já está mais caro no exterior e aumento de custo é passado aos clientes”. Para ele, nos grandes negócios, como o ramo de garantia e de engenharia os preços devem aumentar entre 25% e 40% e nos outros ramos o efeito deve ser menor devido a maior possibilidade de distribuição de riscos.
Segundo Salazar Júnior, professor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg) e sócio da Correcta Seguros, as seguradoras de property vão ter mais dificuldades com a crise, já que a capacidade mundial diminuiu e as empresas estão com aversão ao risco. “Antes, se precisava de 20 resseguradoras para pulverizar riscos, hoje vai precisar de 30 e com a retrocessão somente às resseguradoras cadastradas aqui (local, admitida e eventual), os ramos de property vão ter menos opção para procurar maior proteção”.
De acordo com Lauro Faria, consultor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg) o aumento de preço do resseguro já é esperado no Brasil, principalmente com a abertura do mercado. “O IRB, por exemplo, como um grande competidor, deve se pautar em preços internacionais”.
Eduardo Nakao, presidente o IRB, confirma essa possibilidade. Segundo ele, o Brasil passará por uma pausa, com diminuição no ritmo dos investimentos privados. O resultado líquido do confronto entre a redução da capacidade de absorção dos riscos excedentes do País, pelos resseguradores internacionais, e a menor solicitação por resseguro deverá ser uma elevação dos prêmios, pela sua característica de commodity. “A situação externa, definida na recessão por que passarão algumas economias consideradas desenvolvidas e no aumento do grau de incerteza no produto dos investimentos, deverá prevalecer na fixação dos prêmios de resseguro, dentre outras variáveis”, diz o executivo do IRB.
Nakao explica que com os resseguradores cadastrados na Susep em atividade, a arrecadação de prêmios de resseguro do IRB aumentou em termos reais. “O desempenho do IRB-Brasil Re para 2009, independentemente dos efeitos da crise dos mercados financeiros externos sobre o crescimento da economia brasileira, deverá ser positivo, tanto em razão da própria trajetória de evolução do mercado de seguros, quanto pela credibilidade depositada pelas seguradoras no cumprimento tradicionalmente correto, pronto e cooperativo de nossas obrigações”.
Segundo Max Thiermann, presidente da Allianz Seguros, o mercado vai continuar com a tendência de investimento no ano que vem, mas não a taxas esperadas antes da crise, devido a retração da oferta. A Allianz opera com resseguradores na Suíça, em Londres e nos Estados Unidos.
Fonte: DCI OnLine