Seguradora quer crescer sem perder a cultura do cuidado
Paulo Kakinoff assumiu a presidência do grupo Porto em janeiro de 2024, com a missão de conduzir uma das maiores seguradoras do país por um caminho de transformação. Com um portfólio cada vez mais diverso, que vai de um simples serviço de guincho a um cartão de crédito internacional com isenção de IOF, do plano de saúde à gestão de patrimônio, sua missão é expandir a atuação do grupo, que atua com seguros, serviços, saúde e banco, numa trajetória com consistência do crescimento – mesmo diante de um cenário macroeconômico desafiador –, preservando a cultura organizacional e impulsionando a inclusão de mais brasileiros ao sistema de proteção.
Com a regulamentação de novos concorrentes no horizonte — como cooperativas e associações de proteção veicular — e desafios crescentes no ambiente regulatório e climático, Kakinoff lidera um grupo em movimento, que busca inovar sem perder a essência que o consolidou como referência no setor de seguros brasileiro. “Nosso maior desafio é preservar a cultura mesmo com a empresa crescendo muito. A Porto valoriza o cuidado com o cliente, o papel do corretor, a ética. Isso tem que continuar sendo o nosso norte. É o que nos diferencia”, afirma Kakinoff, em entrevista exclusiva ao Sonho Seguro.
Conhecido pelo perfil afável, pela capacidade de comunicação e por seu estilo de liderança próximo e inspirador, Kakinoff acumula mais de duas décadas de experiência em posições estratégicas em grandes empresas — com destaque para os dez anos em que presidiu a Gol Linhas Aéreas, onde liderou processos relevantes de reestruturação e inovação digital.
Conta que o maior impacto ao assumir a liderança da Porto foi o encantamento com a cultura da empresa. “Eu não conhecia o setor de seguros a fundo. Fiquei impressionado com a sofisticação dos produtos e com o quanto o setor é essencial para todas as áreas da economia. Mas o que me encantou foi a cultura da Porto, essa coisa de cuidar genuinamente do cliente.” Ele acredita que essa cultura é o principal legado a ser preservado e transmitido. “Não sei se a Porto atrai naturalmente pessoas com esse perfil ou se ela desperta isso nas pessoas. Mas a verdade é que esse senso de cuidado está muito enraizado.”
Na Porto, tem reforçado o posicionamento da companhia como um ecossistema de serviços e soluções, indo além do seguro tradicional. Sua gestão dá sequência ao que vem sendo construído nos últimos cinco anos, um período em que o grupo dobrou de tamanho e Kakinoff acompanhava como membro do Conselho.
Internamente, a cultura organizacional ganhou atenção especial, com iniciativas voltadas à excelência no atendimento e à construção de uma empresa cada vez mais ágil e conectada às demandas da sociedade. A empresa tem investido fortemente em iniciativas que ampliam o relacionamento com o cliente e com os corretores, ao mesmo tempo em que reforça sua presença no cotidiano das pessoas. Patrocínios ao Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1, ao festival The Town, à peça musical “Rita Lee”, que contou com longa temporada no Teatro Porto, a eventos esportivos como corridas de rua e ações voltadas ao bem-estar fazem parte de uma estratégia ampla de engajamento com diferentes públicos e de valorização da marca.
Entre os pilares desta estratégia estão o reforço nos canais digitais, com um app consolidado, o modelo híbrido de distribuição (digital com atendimento humano), a expansão geográfica da infraestrutura da companhia e o olhar para nichos com potencial, como o seguro patrimonial para pequenas e médias empresas, serviços para residências e também o consórcio.
A Porto vem crescendo acima do mercado nos últimos anos, com expansão tanto orgânica quanto via aquisição de pequenas e médias empresas para reforçar sua infraestrutura de serviços. São Paulo continua sendo o principal mercado, mas a presença em outras regiões vem crescendo. Para isso, o comitê executivo da companhia visita presencialmente as sucursais fora do eixo RJ-SP-Brasília todos os meses, fortalecendo os vínculos locais com corretores e prestadores de serviço.
O grupo realiza cerca de 6 mil atendimentos residenciais e 6 mil de solicitações de guinchos por dia em todo o país. “Fizemos reforço recente de infraestrutura em Minas, por exemplo. Não dá para expandir tudo ao mesmo tempo, mas estamos fazendo isso de forma orgânica, acelerando o investimento onde já vemos demanda”, afirma. Kakinoff destaca histórias como a de um corretor em Sergipe que leva um cambão no carro para rebocar pessoalmente os clientes em situações emergenciais. “Você não consegue controlar isso com regra. Mas pode estimular. Isso é cultura.”
O CEO destaca que o setor segurador ainda é mal compreendido e pouco valorizado. “Você vê uma enchente no Rio Grande do Sul e constata que só 5% das casas tinham proteção. Isso não pode ser tratado como uma questão individual. Há espaço para o setor propor soluções coletivas, sustentáveis economicamente e que caibam no bolso.”
Conhece mercados maduros europeus de seguros, tanto por sua atuação como executivo como também por ter morado em outros países, o que o faz defender a necessidade de soluções mutualistas de proteção para riscos sociais, como acidentes de trânsito e desastres naturais. Cita que na Alemanha, por exemplo, há seguros obrigatórios, e acredita que a tecnologia será decisiva para tornar o seguro mais acessível e sustentável.
“Quando a sociedade tem uma cobertura ampla e economicamente viável para determinados riscos, com base no mutualismo, devemos colocar todos os esforços para viabilizar. Como sociedade mesmo. Pode ser seguro de responsabilidade civil, ou algo com a finalidade do extinto DPVAT. Mas essa é uma discussão que exige maturidade dos dois lados”, afirma.
O CEO enfatiza que os desafios da sociedade, como a judicialização da saúde ou a falta de cobertura contra enchentes, só serão superados com um olhar sistêmico, baseado em ciência e matemática. “Quando o individual prevalece sobre o coletivo, criamos distorções que encarecem o sistema para todos. A conta sempre chega. Não há milagre. O seguro precisa funcionar com base no mutualismo, com boa técnica, boa gestão e educação”, afirma.
Ele defende mais letramento em seguros e previdência para que a sociedade possa evoluir no entendimento dos benefícios e dos limites do sistema. “Não adianta vilanizar ninguém. Quem busca um tratamento caríssimo na Justiça está agindo dentro da sua lógica de sobrevivência. Mas é preciso também entender o impacto coletivo dessas decisões.”
Entre os segmentos que mais se destacam em potencial de crescimento estão os ramos patrimoniais (seguros contra furto, incêndio, roubo, equipamentos, celular), os serviços financeiros (como consórcios, cartões e crédito) e as assistências. Em todos esses casos, há uma combinação de baixa penetração, maior consciência da população e avanço das plataformas digitais. “Tem muita coisa que você resolve de forma digital. Mas instalar fogão, limpar ar-condicionado, rebocar carro… isso exige gente competente, disponível e ágil. E esse é um mercado enorme que estamos estruturando com tecnologia e escala”, diz.
Kakinoff vê a tecnologia como grande aliada para promover ética, eficiência e acesso no setor. “Fraudes em seguros de celular, por exemplo, podem ser combatidas com uso de apps que verificam se o aparelho está íntegro. Já temos avanços enormes nisso.” Para ele, a inteligência artificial e a vigilância digital também podem ter efeitos positivos sobre o comportamento social. “Experimenta jogar um papel pela janela do carro na rua. Será repreendido imediatamente por quem estiver próximo. Se a tecnologia for usada com ética, para promover uma responsabilidade coletiva, pode ser muito positiva para todos.”
No fim da conversa, o CEO faz um balanço otimista. “Tenho muita fé na capacidade evolutiva da sociedade. Vamos continuar enfrentando desafios, mas estamos caminhando. E o seguro tem um papel fundamental nesse caminho.”
Fonte: Sonho Seguro