Saúde suplementar mostra recuperação modesta
O setor de saúde suplementar encerrou 2020 com 74,6 milhões de usuários, número 2,4% superior ao de 2019. Os planos de assistência médica, que representam 64% do mercado, registraram um acréscimo de 554,6 mil pessoas, totalizando 47,6 milhões de usuários, 1,2% acima do patamar de 2019. Foi o melhor resultado desde 2014, uma modesta recuperação ante a perda de 3,5 milhões de associados entre 2014 e 2019. Os planos odontológicos conquistaram mais 27 milhões de beneficiários, um aumento de 4,7%, conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Para Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa 15 grupos de operadoras de planos e seguros privados, o crescimento reflete a valorização da saúde suplementar ante a crise sanitária. “O aumento demonstra a busca das pessoas por um plano, num momento em que temem precisar e não ter a assistência adequada”, afirma.
Marcos Paulo Novais, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), com 136 operadoras associadas, acredita que o aumento foi influenciado também pelo saldo positivo da criação de empregos formais em 2020, de 142,7 mil postos de trabalho. A elevação do número de associados ainda é pequena em relação à perda causada pelos anos de recessão, diz Vera Valente.
Para ampliar o acesso à saúde privada, as operadoras defendem a criação de novas modalidades de planos individuais, com coberturas menores que as atuais, por preços mais baixos. “Com a crise sanitária, o plano de saúde tornou-se um serviço ainda mais valorizado pela população”, diz Manoel Peres, diretor-presidente da Bradesco Saúde.
Com 3,5 milhões de beneficiários, Bradesco Saúde e Mediservice apresentaram em conjunto faturamento superior a R$ 26,5 bilhões em 2020, crescimento de 4,46% em relação a 2019. A pandemia também levou as operadoras a investir em atendimento remoto. Entre as associadas da FenaSaúde, foram 1,6 milhão de teleconsultas e teleatendimentos em 2020. Na Bradesco Saúde, desde o lançamento do saúde digital, em 2020, já foram realizadas mais de 111 mil atendimentos on-line, seguindo o modelo de atenção primária, baseado no cuidado integrado e no médico de família.
Na Porto Seguro, o serviço Alô Saúde atingiu média de 4.500 atendimentos mensais no segundo semestre. Em janeiro e fevereiro foram respectivamente 6 mil e 5.300 teleatendimentos. “Orientamos os contratantes a usar o serviço como primeiro atendimento, como médico de família”, diz Marcelo Zorzo, diretor executivo de saúde, odontológico e saúde ocupacional da Porto Seguro. A operadora encerrou 2020 com uma carteira de 280 mil vidas, 6% acima de 2019, e faturamento 13% superior.
O crescimento no número de vidas foi assegurado pela conquista de novas empresas. O resultado foi influenciado também por um novo produto, lançado em 2020, para pequenas empresas, a partir de 3 vidas. Reforçando a aposta na medicina preventiva e na redução do ticket médio, a Porto Seguro vai lançar em abril o Saúde Mais, por um valor cerca de 15% mais baixo do que seu plano de entrada. Outro efeito inesperado da pandemia foi a queda da sinistralidade.
Com receio do contágio, as pessoas adiaram consultas, atendimentos e cirurgias eletivas. Em meados de 2020, o índice de sinistralidade chegou à casa dos 60%, encerrando o ano em torno de 78%, conforme levantamento da FenaSaúde. Com a menor utilização dos procedimentos, os planos corporativos acusaram gastos menores em 2020, como aponta pesquisa da consultoria e corretora de seguros americana Lockton com empresas de capital nacional e multinacionais.
Das 469 companhias ouvidas, 38% demonstraram custos iguais ou menores do que em 2019 nos planos oferecidos aos funcionários. “É um benefício temporário, em algum momento a conta da demanda reprimida vai aparecer”, diz Cesar Lopes, diretor atuarial da Lockton. Desde o último trimestre de 2020, solicitações vinham sendo retomadas, mas o recrudescimento da pandemia, a partir de meados de fevereiro, barrou o movimento. “A situação agora é absolutamente crítica, os pacientes de covid-19 estão tomando conta dos hospitais”, diz Vera Valente.
Com a explosão recente de internações, os custos voltaram a crescer. O atendimento de pacientes de covid chega a custar três vezes mais do que a média, o que deve pressionar mais os reajustes dos planos em 2022. Neste ano, os usuários já estão tendo de arcar com os reajustes do ano passado, que foram adiados para 2021.
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