Saiba o que foi destaque no mundo econômico em 2015
Em março desse ano, o Banco Central Europeu deu início ao chamado Quantitative Easing (QE). A política consiste na compra de títulos comerciais por meio da ampliação da base monetária, o que os Estados Unidos já vinham fazendo por 6 anos. Como consequência, as taxas de juros tendem a cair e a inflação a subir.
Após o fracasso de outras medidas para a recuperação da Zona do Euro e o mantimento das metas das taxas de inflação próximas a zero, o presidente do Banco Central, Mario Draghi, deu início ao programa de aquisição de ativos com valor inicial de aproximadamente 1,1 trilhões.
Agora, ao final de 2015, constata-se que as ações do banco Central Europeu estão sendo fundamentais na recuperação da Zona do Euro. A queda nas taxas de juro de longo prazo promove um estímulo à economia, na medida em que incentiva investimentos de longo prazo como os tipicamente relacionados à infraestrutura. Além disso, a ampliação da base monetária tende a gerar inflação. Com a desvalorização do Euro frente ao Dólar, as exportações da Europa são impulsionadas. Estima-se que o efeito isolado do QE foi responsável por uma queda de 12% do valor do Euro, desde a implementação da política.
Apesar do sucesso do programa até o momento, os resultados continuam insatisfatórios. O PIB continua abaixo dos níveis desejados e a inflação abaixo da meta de 2%. Dessa maneira, o ano termina com o Quantitative Easing na Europa sendo estendido até, no mínimo, março de 2017.
Assim como a Europa, o Japão também vem implantando o Quantitative Easing. Deflação e recessão são ameaças a serem combatidas pelo Banco Central Japonês. De forma simplificada. A deflação desestimula o consumo, uma vez que o mesmo valor amanhã comprará mais produtos e serviços. Além disso, pessoas e empresas recebem menos pela venda de um mesmo produto ou serviço no futuro, dificultando o pagamento de dívidas.
No caso do Japão, além da questão deflacionária, há também a estratégia cambial adotada. O Banco Central Japonês mantém o Iene fortemente desvalorizado em relação ao dólar. A economia do país se alicerça sobre as exportações. Com a moeda desvalorizada, os produtos japoneses ganham competitividade no cenário internacional, impulsionando a economia. Em função disso, muitos economistas acusam o Japão de promover uma desvalorização competitiva. Alguns acreditam que o Quantitative Easing é aplicado no país apenas para diminuir ainda mais o valor do Iene e promover um aumento nas exportações japonesas em meio a outros países asiáticos cujas moedas têm baixo valor.
Vale ressaltar que o Quantitative Easing não é isento de riscos. Se levado longe demais pode gerar efeitos negativos para a economia como a supervalorização dos ativos uma bolha – e o excessivo aumento da inflação. Mas para economias sob ameaça de deflação, como o Japão e a União Europeia, foi a maneira encontrada para promover a retomada do crescimento.
PANORAMA BRASIL
Na última semana o governo federal regulamentou o acerto das chamadas pedaladas fiscais. A prática foi reconhecida pela equipe econômica brasileira em 2015, apesar de ter começado a ocorrer já em 2013. Para que as contas públicas aparentassem ter melhores resultados, o governo deixava de repassar dinheiro para bancos e autarquias, que financiavam temporariamente gastos públicos como os benefícios sociais e previdenciários. Dessa forma, reduzia-se as despesas contabilizadas e aumentava-se artificialmente os resultados fiscais do governo. As contas públicas eram momentaneamente aliviadas e o governo buscava atingir as metas de superávit primário diferença entre a arrecadação e os gastos públicos, excluindo-se dos gastos o pagamento de juros da dívida pública.Durante esse ano, o Tribunal de Contas da União confirmou a realização das pedaladas pela presidente. A questão ia além do âmbito econômico e político: Dilma Rousseff poderia ter cometido Crime de Responsabilidade Fiscal. A utilização de um banco público para financiar o Tesouro seria uma infração à Lei de Responsabilidade Fiscal.
Na última semana foi anunciada a forma pela qual serão pagas as dívidas criadas pela prática. O governo tem dívidas atrasadas com o FGTS e com o BNDES, as quais alega que serão pagas com o superávit financeiro – diferença entre o ativo financeiro e o passivo financeiro – gerado no exercício de 2014. A meta do resultado primário de 2015 poderá ser reduzida em até R$ 57 bilhões para o pagamento das pedaladas. Desse valor, em R$ 10,990 bilhões são dívidas junto ao FGTS. O fundo pagou integralmente benefícios sociais como o Minha Casa, Minha Vida. Como por lei o governo teria que subsidiar uma porcentagem do programa, sua dívida com o FGTS é ainda maior.
Com a atual situação econômica do Brasil, para uma retomada do crescimento, ajustes serão imprescindíveis. No entanto, o ajuste fiscal em 2016 não possui um rumo definido. Com a saída de Joaquim Levy e uma piora nas projeções para o próximo ano, não se sabe ao certo quais novas medidas a equipe econômica implantará para reequilibrar as contas públicas. O ano de 2015 chega ao fim com um IPCA de 10,8%, mais do que o dobro da meta, como informou o Banco Central no último dia 23. As expectativas para 2016 não são muito otimistas: o PIB brasileiro deve retrair em 1,9%, segundo estimativa do Banco Central do Brasil. O governo espera essa semana reunir os novos ministros do Planejamento e da Fazenda para estabelecer uma estratégia para combater a inflação e retomar o crescimento nos próximos anos.
Fonte: G1