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Risco-país: Brasil tem 2ª maior queda de emergentes em 1 ano

A julgar pelo risco-país, o Brasil começou 2016 como um Egito e entrou em 2017 como uma Turquia. Pode não parecer muita coisa para quem não se interessa por relações internacionais, mas essa foi uma das maiores quedas na percepção de risco por investidores registradas no último ano. Levantamento feito pelo GLOBO com base em dados de credit default swap – CDS, contrato que funciona como uma espécie de seguro e é comprado por aplicadores contra eventual calote da dívida soberana de um país – mostra que o Brasil conseguiu reduzir seu nível de risco em 46,6% nos últimos 12 meses, apesar da continuidade da recessão. Só o Cazaquistão, país dependente do petróleo, registrou diminuição mais intensa (47,4%) entre 42 países emergentes no período.

Há um ano, o Brasil registrava 489 pontos-base em seu contrato de CDS com prazo de cinco anos (em dólares). Agora, o indicador está em 261 pontos-base. Quanto maior o número, maior o risco associado ao país. Com a melhora, o Brasil saiu da 5ª para a 10ª posição entre os maiores níveis de risco-país entre economias emergentes. Considerando-se Ucrânia e Argentina – que não tinham dados disponíveis há 12 meses porque estavam fora do mercado internacional devido à guerra, no primeiro, e ao calote, no segundo -, o Brasil cai para a 12ª posição. Mesmo assim, os investidores veem mais risco no Brasil do que em países como Chipre (230 pontos), África do Sul (206), Rússia (172) e Indonésia (154).

Leonardo Fonseca, economista do Credit Suisse, lembra que o último ano foi favorável para países emergentes em geral. Tanto que apenas três dos 42 países pesquisados registraram alta no seu prêmio de risco – Líbano e Tunísia, afetados pela turbulência geopolítica, e a China, que ficou praticamente estável. Segundo o especialista, uma das razões foi a reticência do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) em elevar os juros no ano passado, além da continuidade dos estímulos financeiros no Japão e Europa. Outro fator foi a valorização das commodities: em 2016, o petróleo avançou 23%, e o minério de ferro, 81%.

– O movimento de recuperação no Brasil foi maior por causa do contexto doméstico. Isso tem a ver com a mudança de governo, no qual o mercado financeiro passou a ver preocupação maior com a política econômica e com uma reversão de política fiscal. Tanto que a tendência de queda do prêmio de risco começou quando surgiram as especulações sobre o impeachment – afirma.

Essa recuperação foi sentida também no câmbio e na Bolsa: a moeda brasileira e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foram as que mais se valorizaram entre seus pares no ano que passou. O cenário doméstico também blindou parcialmente o Brasil da elevação de risco em emergentes após a vitória de Donald Trump, cujas promessas econômicas expansionistas valorizaram o dólar após as eleições.

PREOCUPAÇÕES EXTERNAS E INTERNAS Segundo Fonseca, um efeito positivo da queda do risco é a redução dos juros cobrados de grandes empresas quando elas emitem títulos de dívidas no exterior. Mas ele admite que isso não se materializou em melhoras na economia real na mesma velocidade registrada pelo mercado financeiro. Fonseca aponta como um dos motivos a situação financeira das empresas, imprensadas entre a recessão e uma taxa de juros em torno de 14%. Outra razão é a reticência dos bancos em emprestar recursos. No lado político, há ainda incerteza sobre a reforma da Previdência.

– O tempo do mercado é o do segundo, mas o das decisões econômicas demora muito mais, sobretudo quando o setor público está falido, e as famílias e empresas, endividadas. – diz Silvio Campos Neto, da Tendências, acrescentando que a dívida bruta do Brasil chegará a 85% do PIB até 2020. – Para a queda do CDS chegar à economia, é preciso dar tempo ao tempo.

O economista cita dois fatores que podem voltar a elevar o prêmio de risco do país. O primeiro é uma eventual postura comercial radical de Trump. O segundo é interno: – Desdobramentos mais graves da Lava-Jato, atingindo o presidente Michel Temer ou impedindo a reforma fiscal, são um risco que deve ser observado.

Fonte: O Globo

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