Resseguradoras reavaliam seus planos
Num momento em que as resseguradoras redefinem estratégias e anunciam prejuízos recordes, fazer resseguro vai continuar sendo uma tarefa cara e difícil. Algumas das maiores companhias do mundo, como a Munich Re, a primeira estrangeira a operar localmente no Brasil, estão pouco otimistas sobre os desdobramentos da crise. Nesse cenário, os preços do resseguro já ficaram 20% mais caros.
O mundo passa por uma recessão, marcada por falências bancárias e pouco capital na praça, que pode durar um ano, avalia Georg Daschner, membro do board da Munich Re. A dúvida é se esse quadro pode evoluir para uma “crise aguda”, que duraria vários anos e teria a falência de vários outros bancos. De qualquer modo, diz ele, as seguradoras e resseguradoras vão ter que reavaliar suas operações.
Algumas companhias já tomaram decisões importantes nos últimos meses. A Paris Re resolveu reavaliar seus planos para o Brasil, diz seu presidente (CEO) Hans-Peter Gerhardt. Em meio à crise, a companhia optou por adiar o início de operações no mercado brasileiro. “Provavelmente vamos voltar a investir no país”, diz ele, sem citar datas. Para o executivo, a principal lição da crise é que os ratings de crédito, por melhor que sejam, podem perder o significado do dia para a noite. Basta ver a AIG, que tinha a nota máxima “AAA” e quebrou.
A Swiss Re, a maior resseguradora do mundo, também afirmou que vai se dedicar a fazer resseguro e só. Ainda assim, de forma mais seletiva. Corretores de seguro e resseguro ouvidos pelo Valor dizem que a companhia está mais cautelosa e vem, no Brasil, recusando riscos na área de garantia (seguro feito para obras e que garante que o empreendimento será concluído dentro do previsto no contrato). O lucro do grupo caiu 76% no primeiro trimestre.
Depois do fim da farra de ganhar dinheiro fácil aplicando na bolsa, em derivativos exóticos e papéis do setor imobiliário, a mensagem do executivo da Munich Re é simples: as seguradoras e resseguradoras terão que se focar no que melhor sabem fazer, ou seja, subscrição de riscos. Nada de aplicações mirabolantes no mercado financeiro ou “atividades adjacentes”.
Nos investimentos, a ordem é ter uma postura defensiva, para preservar os ativos, afirma Stephen Carlin, CEO da Catlin Group, um dos maiores sindicatos que atuam no Lloyds, o maior mercado de seguros e resseguros do mundo.
“A Catlin é focada na subscrição e nosso risco tem que ser na subscrição, não com aplicações no mercado”, diz ele. Risco foi o que não faltou no setor nos últimos anos. “Reconstruímos (se referindo a todo o setor de seguros e resseguro) New Orleans, pagamos o 11 de setembro. Nosso negócio é esse, o risco.”
Os executivos participaram ontem em Londres do “Insurance Day Summit London”, evento que discutiu os rumos do setor em um luxuoso hotel às margens do rio Tâmisa e bem perto da City, o distrito financeiro da capital inglesa, abalado como nunca pela crise. No evento, que reuniu até resseguradores da Índia, os executivos disseram que alguns riscos simplesmente estão sendo recusados. Em meio ao caos financeiro, não basta avaliar apenas um modelo de risco. Para Costas Miranthis, CEO da Partner Re, resseguradora que abriu escritório no Brasil no ano passado, 2008 foi um ano de testes para o setor, que, além da crise, da queda no valor dos ativos e no capital disponível, foi abalado pelos furacões Ike e Gustav.
Fonte: Valor