Resseguradoras alertam para riscos crescentes
No tradicional encontro anual de Monte Carlo, que marca o início das discussões para as renovações de janeiro, Munich Re e Swiss Re trouxeram mensagens claras: o mercado global de resseguros vive um ambiente de riscos crescentes e demanda elevada, no qual a disciplina de preços, a robustez de capital e a inovação em soluções de transferência de risco serão determinantes para garantir a resiliência da indústria.
Para a Munich Re, a conjuntura geopolítica e macroeconômica aumenta a incerteza e pressiona a necessidade de proteção. Inflação volátil, tarifas comerciais imprevisíveis e perdas naturais em escala recorde — que desde 2020 superam US$ 100 bilhões anuais em indenizações seguradas — colocam o gerenciamento de riscos no centro da agenda.
Segundo Thomas Blunck, membro do board da companhia, o setor seguirá como “escudo protetor das economias nacionais contra grandes riscos”. No primeiro semestre de 2025, os desastres naturais já resultaram em US$ 80 bilhões em perdas seguradas e US$ 131 bilhões em perdas econômicas totais, com destaque para tempestades severas nos EUA.
Stefan Golling, também membro do board, reforçou que a Munich Re mantém capacidade estável e independente de retrocessão, capaz de suportar até mesmo um furacão de mais de US$ 100 bilhões em perdas de mercado sem comprometer sua solvência.
Outro ponto central é o avanço do risco cibernético, cuja percepção cresce entre empresas, mas ainda encontra baixa penetração de seguro. A Munich Re projeta que esse mercado dobre de tamanho até 2030, alcançando US$ 30 bilhões em prêmios.
A resseguradora também destacou investimentos em novas fronteiras de cobertura — de baterias de armazenamento a energia geotérmica, passando por soluções paramétricas e aplicações de inteligência artificial — fruto da integração entre seguro primário, seguros especializados e resseguro.
Em Monte Carlo, a Swiss Re chamou atenção para o impacto da incerteza global no mercado de (re)seguros. Tensões geopolíticas, políticas protecionistas e mudanças econômicas estão remodelando cadeias de suprimentos, elevando custos e aumentando os riscos de fragmentação de longo prazo. Nos últimos 12 meses, mais de 70 países registraram protestos significativos, reforçando a necessidade de uma compreensão holística dos riscos e de uma subscrição disciplinada.
As catástrofes naturais continuam no centro das preocupações da indústria. Segundo o Swiss Re Institute, a combinação de crescimento econômico, inflação de sinistros e eventos mais intensos levou as perdas seguradas anuais a superar consistentemente a marca de US$ 100 bilhões. Em anos de pico, esse valor pode chegar a US$ 200 bilhões ou até US$ 300 bilhões, ressaltando a importância de medidas preventivas, como padrões de construção mais robustos, melhor zoneamento urbano e investimentos em resiliência climática por meio de parcerias público-privadas.
Outro ponto central foi o papel transformador da inteligência artificial. A Swiss Re avalia que o uso de IA para processar dados não estruturados — como e-mails, contratos e arquivos de sinistros — deixou de ser uma aspiração técnica e se tornou requisito competitivo. Para a resseguradora, a combinação de expertise, tecnologia e parcerias será decisiva para transformar esse potencial em realidade e fortalecer a resiliência do setor diante de riscos crescentes.
Crescimento das receitas de P&C
A Swiss Re destacou o crescimento do mercado global de property & casualty (P&C), que dobrou em 20 anos, alcançando US$ 2,4 trilhões em prêmios. Segundo o Swiss Re Institute, a tendência é que o setor siga crescendo em linha com o PIB mundial, quase duplicando novamente até 2040.
De acordo com Jérôme Jean Haegeli, economista-chefe global da Swiss Re, o crescimento não é apenas de escala, mas de “capacidade e resiliência”, com maior eficiência na precificação, gestão e transferência de riscos. A demanda crescente por resseguro confirma o papel da indústria como absorvedora de choques sistêmicos.
O relatório sigma mostra que a desagregação da cadeia de valor é um vetor de eficiência, com brokers e MGAs assumindo funções de subscrição e distribuição. Ao mesmo tempo, soluções alternativas — como cativas e pools públicos-privados — ampliam a capacidade em regiões expostas a catástrofes.
Para Gianfranco Lot, Chief Underwriting Officer de P&C Reinsurance da Swiss Re, a adoção de inteligência artificial tende a dividir o setor entre “seguradoras globais orientadas por dados e players especializados mais ágeis”, em um contexto de transferência crescente de riscos para resseguradoras.
Ambas as companhias reforçam que o mercado entra na temporada de renovações de 2026 com demanda em alta e capacidade estável, o que deve garantir equilíbrio, mas também manter a disciplina de preços. Para a Munich Re, preços adequados ao risco são condição inegociável. Já a Swiss Re aponta que a diversificação de players e estruturas vem ajudando a manter o seguro acessível, mesmo em um mundo mais arriscado.
Fonte: Sonho Seguro – Denise Bueno