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Real sofre maxidesvalorização com aumento de risco

Em apenas algumas horas, o mercado de câmbio brasileiro voltou quase duas décadas no tempo, relembrando a maxidesvalorização do real, em janeiro de 1999. A crise política que mergulhou o Brasil em novo momento de incerteza fez o dólar subir 8,06%, para R$ 3,3836. A alta é a mais forte desde 15 de janeiro de 1999, quando a cotação disparou 11,10%, na esteira da mudança do regime de câmbio para flutuante.

Tentando barrar a pressão, o Banco Central anunciou um miniprograma de oferta de liquidez no mercado. A autoridade monetária fará, diariamente, oferta líquida de 40 mil contratos de swap cambial tradicional (US$ 2 bilhões) nos dias 19, 22 e 23 de maio. No final da tarde, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou que a autoridade monetária tem atuado para fazer o seu papel de “manter a funcionalidade do mercado”. Goldfajn disse ainda que o BC esteve intervindo nos mercados de swaps em coordenação com o Ministério da Fazenda e do Tesouro Nacional. “Temos vários instrumentos. Estamos trabalhando para acalmar os mercados, para atravessar esse período e é um trabalho contínuo, um trabalho sereno, um trabalho firme”, afirmou.

Na máxima, o dólar subiu 8,85%, para R$ 3,4083. O alívio frente a esses patamares veio na esteira das quatro ofertas líquidas de swap cambial tradicional realizadas pelo BC. No total, a autoridade monetária injetou no mercado US$ 4 bilhões. É a maior colocação de liquidez em um só dia desde junho de 2013, mês em que o BC chegou a vender US$ 4,51 bilhões via swaps. Na ocasião, o câmbio operava sob forte estresse vindo do exterior, em meio à sinalização do então presidente do Federal Reserve (Fed, BC americano) Ben Bernanke de que começaria a reduzir a disponibilidade de liquidez.

Com a colocação de US$ 4 bilhões pelo BC apenas ontem, o montante já se aproxima de US$ 22 bilhões. Ainda assim, muito abaixo dos US$ 114,9 bilhões alcançado em março de 2015.

De toda forma, a expectativa é que os departamentos econômicos começarem a rever para cima suas estimativas para o dólar. O Credit Suisse deu o pontapé inicial. O banco revisou de R$ 3,20 para R$ 3,50 a expectativa para o dólar em três meses. Para 12 meses, a estimativa saiu de R$ 3,50 para R$ 3,70. Essa taxa embute expectativa de que o dólar se aprecie mais 9,4% ante o fechamento de quinta.

Durante toda a sessão de ontem, operadores chamaram atenção para a falta de liquidez no mercado. Com todos os investidores correndo para tomar dólar, o custo da moeda disparou. A taxa do cupom cambial – medida do juro em dólar – chegou a subir 100 pontos-base no vencimento mais curto, para máximas desde dezembro.

A disparada do dólar atraiu exportadores, que aproveitaram para internalizar recursos. Mas esses fluxos no máximo impediram que o dólar subisse mais. O operador de uma tesouraria relatou estrangeiros “desesperadamente” na ponta de compra, tentando proteger posições na renda fixa, que sofreram tombos históricos.

Os investidores voltaram a ficar mais estressados no fim da tarde, após em pronunciamento o presidente Michel Temer dizer que não renunciará. “O mercado não gostou do pronunciamento de Temer porque mostra que ele quer enfrentar a situação. Isso aumenta a incerteza, pois as provas contra ele parecem ser muito contundentes”, diz o sócio-gestor da Rosenberg Associados Marcos Mollica.

Mas em meio ao turbilhão que tomou conta do mercado, alguns profissionais já afirmam que o movimento pode ter ido além. Um profissional de tesouraria já recomenda venda de dólar a R$ 3,40, com o real sendo amparado pelas intervenções do BC. “Os preços dos ativos parecem estar oferecendo um bom ponto de entrada”, diz.

Mesmo os estrategistas do Credit Suisse, que elevaram suas projeções para o dólar, ponderam que o real ainda tem alguns pontos fundamentais de suporte. Um dos argumentos é o fato de o déficit em conta corrente do Brasil estar em níveis mais baixos e totalmente financiados por investimentos produtivos. Dessa forma, os profissionais viram um movimento da magnitude do ocorrido entre o fim de 2014 e 2015, quando o dólar saiu de R$ 2,50 para mais de R$ 4.

“Isso sugere que a forte deterioração dos ativos brasileiros pode representar uma oportunidade de compra no médio prazo. Esse dia, porém, ainda não chegou”, afirmam os estrategistas.

No mercado, fato é que empresas não financeiras ampliaram posição comprada em dólar na BM&F. A aposta que ganha com a alta da moeda americana saiu de 13.880 contratos no fim da segunda-feira para 23.240 na quarta-feira. Nesse dia, a alta foi de 31% em relação à terça. A posição atual equivale a uma aposta líquida na alta do dólar de US$ 1,162 bilhão.

Fonte: Valor

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