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R$ 46 bilhões para estimular a economia

O presidente Michel Temer vem tentando criar uma agenda positiva para contrabalançar a turbulência política que atingiu o governo a partir da delação premiada dos donos do Grupo JBS. A estratégia é diminuir o estrago provocado pela crise, que reduziu o ritmo de tramitação das reformas estruturais no Congresso e ameaça abortar a incipiente recuperação da economia sinalizada com o crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. Várias medidas anunciadas nos últimos dias representam uma forte injeção de recursos na economia. Apenas nas quatro mais recentes, o montante chega a R$ 46 bilhões.

Boa parte dos analistas já não conta com a aprovação da reforma da Previdência no primeiro semestre, como o governo previa inicialmente. Por conta disso, aumentaram as apostas de que o crescimento verificado no início do ano não se repetirá no segundo trimestre. Para especialistas, ao anunciar várias medidas de estímulo, Temer tenta sinalizar que o governo continua trabalhando, apesar da crise política.

Ontem, foi anunciada a antecipação, para o próximo sábado, da quarta fase de saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que estava prevista para 16 de junho. Poderão fazer retiradas os trabalhadores nascidos de setembro a novembro. Foi divulgada também a liberação do maior lote de restituição de Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) dos últimos cinco anos. Somente essas duas medidas colocarão R$ 13,9 bilhões nas mãos de potenciais consumidores neste mês –  R$ 10,9 bilhões do FGTS e R$ 3 bilhões do IRPF. A expectativa do Planalto é que uma parte significativa desses recursos seja direcionada para o comércio, fazendo girar a roda da economia.

Turbulência

Na última sexta-feira, o governo já havia anunciado investimentos de R$ 2,1 bilhões na construção de 25 mil unidades habitacionais destinadas a famílias com renda de até R$ 1,8 mil, no âmbito do programa Minha Casa Minha Vida. Dois dias antes, tinha divulgado a liberação de R$ 30 bilhões para agricultores familiares na forma de créditos de custeio para a safra 2017/2018.

Na avaliação de Alex Agostini, economista-chefe da agência Austin Rating, é clara a intenção do governo de evitar que a turbulência política contamine a economia. “Temer deu autonomia ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para negociar as reformas no Congresso e mostrar aos investidores que a política econômica está no rumo certo”, avaliou.

O economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, reconheceu que essas medidas de estímulo do governo são positivas, mas adverte que elas podem não ter o esperado efeito de acelerar o crescimento.

“Tudo o que for incentivo para a demanda é válido, mas é bom lembrar que a demanda de hoje não é a mesma de antes. Ela praticamente não existe, nem como consumo nem como investimento. Os bancos não querem emprestar, e a renda do consumidor, apesar da inflação baixa, não cresce, porque o desemprego é elevado”, explicou. “A maioria da população está sacando o FGTS para pagar dívidas. Apenas 45% a 48% dos saques foram para o comércio”, alertou Carlos Thadeu.

Recessão

Para ele, outra medida que o governo precisa adotar para estimular o consumo é a correção da tabela do Imposto de Renda. “É importante que o governo adote iniciativas pontuais para que o país volte a crescer. A expansão do PIB no primeiro trimestre não tirou a economia da recessão. Ainda estamos com um pé dentro e o outro fora dela”, observou.

O economista César Bergo, sócio consultor da Corretora OpenInvest, lembrou que o desânimo dos analistas cresceu, principalmente, após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada, quando o Banco Central sinalizou que vai botar o pé no freio no corte dos juros por conta da instabilidade política. Otimista, ele acredita que as medidas adotadas agora vão provocar o consumo positivo (sem endividamento), além de favorecer a liquidez. “Dessa forma, a blindagem econômica de Temer vai ajudar o país a sair da recessão”, disse.

Ao anunciar a antecipação do pagamento das contas inativas do FGTS das pessoas nascidas de setembro a novembro, o presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, disse que a medida beneficiará mais de 7,5 milhões de pessoas. No próximo sábado, duas mil agências da instituição funcionarão entre as 9h e as 15h, em todo o país, somente com essa finalidade. Nos dias 12, 13 e 14 de junho, elas abrirão duas horas mais cedo. “Com a liberação dessa fase, entramos na reta final dos pagamentos das contas inativas do FGTS”, ressaltou a vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, Deusdina Pereira.

Ajuda para a casa própria

Gilberto Occhi informou que as taxas de juros para financiamento habitacional para correntistas e não correntistas serão reduzidas no segundo semestre de 2017. Atualmente os juros são padronizados. Mas o pacote de medidas para o fim do ano prevê taxas personalizadas. Terão mais vantagens os clientes de menor risco – que dão valor maior de entrada no imóvel ou tomam empréstimos por prazo mais curto. O assunto ainda está em estudos e a redução dos juros poderá ser ampliada para outros tipos de crédito.

Fonte: Correio Braziliense

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