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Puerto Madero, um projeto obsoleto que deu certo 100 anos depois

Alguns portenhos – habitantes de Buenos Aires – dizem que o Porto Madero aconteceu graças a uma história de nepotismo. O empresário Eduardo Madero teria ganho a licitação para a construção do novo porto da capital argentina por ser sobrinho (nipote, em italiano) do então vice-presidente da República Francisco Madero. O projeto de Eduardo Madero não era o melhor e nem o mais atualizado: uma década depois do porto ser inaugurado (em 1898), sua implementação tornou-se obsoleta. A cada ano que passava, os cargueiro cresciam em tamanho e, finalmente, nos anos 1910 o Porto Madero, sem calado suficiente, não conseguiu mais aceitar grandes navios.
Com a criação do Puerto Nuevo em 1919 (que continua operante até hoje), a longa ilha artificial idealizada por Madero entrou em franca decadência. Os armazéns de grãos e os depósitos de mercadorias tornaram-se ruínas, transformando o bairro em uma das zonas mais deterioradas da capital. Mesmo situado em frente ao Centro de Buenos Aires, a apenas centenas de metros da sede do governo, Puerto Madero definhou e passou a ser uma vergonha portenha.
Com tanto potencial para uma boa especulação imobiliária, a cada dez anos aparecia um novo projeto de urbanização para o local, mas nenhuma tentativa logrou sair do papel. Até que, em 1989, o governo federal e o município de Buenos Aires uniram-se para resolver o quebra-cabeça, criando uma sociedade para urbanizar os 130 hectares de Puerto Madero. Os governos transferiram a propriedade das terras para a Corporação Antigo Puerto Madero e esta passou a vender o projeto para a iniciativa privada. Em 20 anos, Puerto Madero deixou de ser um espaço sinistro de destroços e entulhos para se tornar o metro quadrado mais caro de Buenos Aires.
O empresário Alan Faena foi um dos que acreditou em Puerto Madero. Depois de trabalhar em moda e em floricultura, ele passou a alimentar o sonho de possuir um grande hotel. Comprou um velho silo de cereais (foto acima, à esquerda) em 1997, conseguiu bons sócios, investiu 70 milhões de dólares e, em 2004, inaugurou um hotel suntuoso. Assim como Faena, outros empreendedores apostaram no sucesso de Puerto Madero. Dezenas de espigões envidraçados oferecem hoje apartamentos de alto padrão e escritórios requintados. Segundo corretores imobiliários da capital, o preço do metro quadrado construído chega a 4.800 dólares americanos (12 mil reais), enquanto que nos bairros tradicionais de luxo, como Palermo, o metro custa cerca de 3.000 dólares (R$ 7.500). 
Passear pelas margens do canal que divide o bairro e o Centro de Buenos Aires é uma atividade extremamente agradável. Cafés ao ar livre, largos calçadões para pedestres (e ciclistas) e um ambiente descontraído representam aconchegos que qualquer viajante procura. De cada três comércios que observo, dois deles estão dedicados ao setor gastronômico. Em dez anos, restaurantes, cafés, confeitarias e delis quase que dobraram; eram 55 em 2004 e são 100 em 2014. Tudo dá água na boca, a começar pelos alfajores. Os bancos parecem também estar por toda parte: existem 21 agências em uma área onde residem mA principal sensação que Puerto Madero pretende produzir é a de ser um local  seguro. De fato, existe uma explicação geográfica óbvia para tal: o bairro, por estar isolado em uma ilha, está ligado à cidade por apenas cinco pontes, todas bem policiadas. A presença dos militares da Prefeitura Naval Argentina e da Polícia Federal, assim como de duas dúzias de câmeras de vídeo nas ruas, também fortalecem a imagem de que Puerto Madero é o bairro com o menor índice de problemas de segurança da capital.
Mas para os que trabalham em empresas em Puerto Madero e vivem em outros bairros, nem tudo é tão formidável assim. “Precisamos andar muito para encontrar um transporte coletivo”, diz Lucia. “O bairro é novo e não é bem servido pelas linhas de ônibus.” Outra reclamação é que os preços são mais altos do que no Centro. “Para comer uma pizza, precisamos gastar no mínimo 120 pesos”, afirma Fernando. O valor equivale a 35 reais, o que, para os padrões argentinos, é um preço alto.
 

Fonte: O Globo

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