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Prolongamento do quadro deterioraria decisões de investimento, avalia FGV

A atividade desacelerou no segundo trimestre independentemente da crise política mas, se a incerteza se prolongar, pode ter impacto negativo adicional sobre emprego, investimentos e consumo. A avaliação é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), com base em questionário especial feito a empresários e consumidores que responderam às sondagens de confiança em junho.

Para 43,9% das 4.974 empresas consultadas nesta rodada, a deterioração do ambiente político que teve início em maio – após o vazamento de áudios da JBS – deve afetar negativamente as decisões de investimentos nos próximos meses.

O setor que tende a ser mais atingido é o de construção, no qual essa fatia ficou em 56,2%. Depois deste, os segmentos potencialmente mais impactados são o varejo (49,1%), os serviços (46,4%) e, por fim, a indústria de transformação (34,7%).

Se houver uma solução rápida para a nova crise política neste mês, ainda que não definitiva, o impacto sobre a confiança e, consequentemente, sobre a economia será pequeno, avalia Aloisio Campelo, superintendente de Estatísticas Públicas do Ibre. Se o aumento de incertezas durar um trimestre ou mais, no entanto, a percepção mais pessimista de empresas vai diminuir a propensão em investir e contratar mão de obra, assim como desestimular o consumo das famílias.

Em junho, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) caiu 2,1 pontos ante maio, para 83,9 pontos. Em igual comparação, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) diminuiu de 84,2 pontos para 82,3 pontos. Em ambos os casos, a piora foi mais influenciada pelo indicador referente às expectativas, que recuou 1,9 ponto no índice dos empresários e 2,9 pontos no do consumidor.

Segundo Campelo, o segundo trimestre mais fraco para atividade já havia provocado calibragens para baixo nas perspectivas, movimento que foi acentuado pelo clima político mais instável. “As quedas dos índices de expectativas têm capacidade ainda relativamente pequena de impactar o PIB”, disse. Caso essa situação perdure por mais dois ou três meses, no entanto, o potencial seria maior, afirma.

Numa desagregação maior de resultados por setores, mais de metade dos comerciantes de bens de consumo duráveis (53,6%) aponta o ambiente político incerto como possível influência negativa em seus investimentos.

Na indústria, 54,1% dos fabricantes de bens de capital consideram que a crise pode frear decisões de investir nos próximos meses, percentual que chega a 49,8% nos serviços prestados para famílias. Dentro da construção, o segmento de serviços especializados para o setor é o mais pessimista (50,3%).

De acordo com a avaliação dos empresários, o acirramento da crise política pode reduzir também o contingente de mão de obra. Em média, 36,1% das empresas ouvidas em junho afirmaram que a questão pode afetar negativamente decisões quanto ao quadro de pessoal.

A parcela mais numerosa, no entanto, ainda que com pouca diferença, é a de gestores que afirmaram não esperar impacto da crise no número de funcionários, com 37,7% das respostas.

A fatia de empresários que pode demitir em função da piora do ambiente político alcança 47% na construção. Em seguida, os ramos de atividade cujo nível de emprego podem ser mais afetados negativamente são o varejo (40,8%), os serviços (38,5%) e, por último, a indústria (27,6%).

Na análise mais segmentada, o destaque negativo é, também, o varejo de bens duráveis, no qual 53,6% das empresas admite a possibilidade de dispensar funcionários devido ao acirramento da crise política.

Tanto na indústria quanto no comércio, esse setor vinha puxando a melhora das expectativas nos meses antecedentes à crise, influenciado pela redução dos Juros e pela liberação do saldo de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), observa Campelo.

“Agora eles são o segmento mais preocupado e isso faz sentido”, diz o economista, uma vez que, num ambiente de maior incerteza, o consumo de bens de maior valor – que depende mais de crédito e de expectativas futuras – sofre maior contenção.

Dentro da sondagem do consumidor, foi perguntado se a crise política pode afetar a situação financeira e as decisões de compras nos próximos meses. No primeiro caso, a perspectiva é negativa para 61% dos entrevistados, percentual que cresce para 64% na pergunta sobre compras.

Por faixas de renda, o impacto é avaliado como mais negativo para famílias que ganham entre R$ 4,8 mil e R$ 9,6 mil por mês, segundo estrato mais alto na pesquisa. Para 68% dos integrantes desse estrato, a crise política afetará desfavoravelmente as decisões de compras. Na pergunta sobre situação financeira, a avaliação é pessimista para 66% dessas famílias.

Fonte: Valor

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