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Projeções para 2018 apontam recuperação modesta da economia

As projeções para o crescimento de 2018 têm sofrido reduções expressivas, com boa parte das estimativas apontando para uma expansão do PIB inferior a 2%. Bancos e consultorias passaram a revisar as suas previsões na esteira da crise política e da fragilidade da recuperação da economia, um quadro que deve retardar a retomada do consumo das famílias e especialmente do investimento. Para este ano, muitas apostas indicam uma variação próxima de zero.

Nesse cenário, as projeções traçam um quadro decepcionante para a trajetória da economia. Depois de recuar 3,8% em 2015, 3,6% em 2016 e talvez ficar estável ou ter um ligeiro crescimento em 2017, o PIB deverá ter um avanço modesto em 2018, mesmo com a expectativa de queda razoável dos juros.

Por ver um cenário marcado por “mais ruído político, reformas mais lentas e confiança mais fraca”, o chefe de economia e estratégia do Bank of America (BofA) Merrill Lynch no Brasil, David Beker, baixou as suas estimativas para a expansão do PIB deste ano de 1% para 0,25% e do ano que vem de 3% para 1,5%.

Na visão de Beker, o Brasil deverá ser capaz de chegar às eleições de 2018, “empurrando com a barriga”. Para ele, a reforma trabalhista deverá ser aprovada e é possível que o governo consiga promover algumas alterações no sistema de aposentadorias, não necessariamente por mudança na Constituição. Uma reforma mais ampla da Previdência, nesse quadro, não deve passar pelo Congresso.

“O otimismo em relação à retomada da economia, juros estruturalmente mais baixos e uma melhor dinâmica fiscal se baseava no progresso da agenda de reformas. Qualquer atraso tende a afetar os indicadores de confiança e enfraquecer uma recuperação econômica que já é frágil”, observa Beker.

Nesse quadro, ele reduziu as estimativas para o crescimento. “Os indicadores de atividade estavam melhorando, mas essa tendência precisa ser sustentada pela confiança. Nós acreditamos que a confiança vai sofrer, levando a uma retomada mais fraca do investimento”, avalia Beker, para quem um mercado de trabalho fraco deve afetar o consumo privado. Em resumo, a demanda doméstica será mais fraca do que se antecipava antes da eclosão da nova crise política, iniciada com a divulgação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, da JBS.

Após incorporar em seu cenário a trajetória de recuperação mais lenta do que o esperado da indústria e os impactos previstos da crise política sobre a aprovação de reformas fiscais, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) também está menos otimista em relação a 2018. A projeção de crescimento da entidade para o período foi cortada de 2,4% para 1,8%.

“A fraqueza da demanda interna e o aumento da incerteza na economia contaminam o cenário do ano que vem”, afirma a economista Silvia Matos. Embora a atual crise não tenha surtido efeito relevante sobre os preços de ativos, essa calmaria pode não ser sustentável, diz ela, uma vez que o humor do mercado tende a piorar na medida em que as condições de aprovação das reformas fiquem mais difíceis.

No Boletim Macro de junho, a equipe de conjuntura do Ibre afirma que os analistas do instituto se dividem em duas posições: a maioria acredita que o choque político deve piorar a trajetória da economia, enquanto outros avaliam que a crise “parece maior nas páginas dos jornais do que nos preços de ativos ou nos protestos de rua”. Ainda assim, dizem Regis Bonelli, Armando Castelar e Silvia Matos, “uma situação que já era difícil não está se tornando mais fácil”.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, também não vê espaço para um crescimento dos mais expressivos em 2018. Com a nova crise política e os indicadores fracos sobre a atividade corrente, ele cortou a estimativa de 2017 de 1% para 0,4% e a de 2018 de 2,1% para 1,4%.

Gonçalves diz que a crise “sacramenta” que a volta do investimento vai demorar ainda mais. “Quando se começa a pensar que não se sabe quem será o presidente no fim do ano e nem quem será o presidente daqui a um ano e meio [por causa das eleições de 2018], a tendência é de se adiar investimentos”, afirma ele, lembrando que alguns indicadores já mostraram o efeito negativo da incerteza sobre a confiança de empresários, como a prévia de junho da Sondagem da indústria da FGV.

O economista Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria, também aposta num PIB inferior a 2% em 2018. Depois que o áudio veio a público, ele mudou a projeção para o ano que vem de 2,5% para 1,2%. Parte da mudança se deve ao fato de que o fraco resultado do PIB deste ano deixará uma herança estatística nula para 2018, diz Jensen. O principal impacto da crise é aumentar a incerteza, afetando o investimento, segundo ele.

Para Jensen, a reforma trabalhista deve ser aprovada. “No caso da reforma da Previdência, o mais provável é que não passe nada”, afirma ele, que considera possível a eventual definição da idade mínima e de uma regra de transição. De todo modo, será uma versão bem mais diluída da proposta hoje em discussão no Congresso. Para este ano, Jensen projeta uma queda do PIB de 0,1%.

Jensen e Gonçalves acreditam que as projeções do mercado para o PIB de 2018 tendem a continuar em queda, recuando abaixo de 2%. No Boletim Focus divulgado ontem, a mediana das previsões para o ano que vem caiu de 2,2% para 2,1% – há cinco semanas, estava em 2,5%. No caso da estimativa para 2017, houve queda de 0,4% para 0,39%. Algumas instituições têm projeções mais expressivas de crescimento para o ano que vem, próximas de 3%, mas são minoritárias. O Itaú Unibanco tem estimativa de 2,7% e a Tendências Consultoria, de 2,8%.

Fonte: Valor

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