Previdência privada atrai gestores independentes
Com captação anual líquida de R$ 50 bilhões e um patrimônio de mais de R$ 600 bilhões no fim de 2016, a previdência privada tem atraído cada vez mais gestores de recursos independentes renomados, que acenam com a promessa de uma gestão ativa e diversificação das carteiras. Os fundos geridos por eles entram no radar do investidor mais sofisticado em busca de um diferencial de retorno, especialmente diante da tendência de queda na taxa de juros.
Levantamento feito pela Anbima com mais de mil fundos e analisado pelo Valor mostra que esse retorno diferenciado ainda não se materializou. Com uma taxa de administração semelhante à praticada pelos grandes bancos e seguradoras, em torno de 1,3% ao ano, os fundos geridos por assets rendem pouca coisa acima dos demais. Enquanto a rentabilidade média dos fundos de previdência de bancos e seguradoras foi de 16,18% nos últimos 12 meses, a de gestores independentes ficou quase 0,5 ponto percentual acima, com 16,64%. O histórico ainda recente não permite conclusões mais definitivas sobre a performance oferecida. Mas, obviamente, a média esconde casos mais bem sucedidos e outros piores.
Western Asset, Leblon Equities, Credit Suisse e BTG Pactual são alguns dos gestores que conseguiram retorno acima de 25% em 2016 em fundos de previdência. É nos casos de sucesso como esses que seguradoras têm focado na hora de fechar parcerias para comercializar seus fundos.
“É bom oferecer um portfólio mais aberto para que o investidor não migre. Hoje, muito está em renda fixa. Um volume deve migrar para uma gestão mais ativa para diminuir o impacto da queda da Selic no retorno”, afirma Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos, vida e previdência da SulAmérica.
A seguradora acabou de fechar uma aliança com a JGP Gestão de Recursos em um fundo cujos objetivos principais são a preservação do capital investido e retornos superiores ao CDI no longo prazo, buscando explorar as oportunidades existentes nos mercados de renda fixa e variável, cambial, crédito privado e de investimentos no exterior. A instituição vem buscando ampliar seu portfólio com as parcerias, uma vez que não consegue ter todas as estratégias dentro de casa.
Os dados da Anbima mostram que cerca de 25 fundos com gestão independente foram criados nos últimos seis meses e 60% de todos os fundos disponíveis foram criados nos últimos cinco anos. A Icatu tem liderado esse movimento e passou a ter 45 assets fazendo a gestão de seus fundos no início desse ano, com as recentes parcerias com Adam, Canvas Capital, Modal e Capitânia.
Estreante nesse mercado, o sócio da Capitânia, Arturo Profili, conta que dois aspectos são muito atrativos nesse nicho da indústria: a visão de longo prazo do investidor e o tamanho do mercado. “Com mais de R$ 600 bilhões de patrimônio, se 10% ficar na gestão independente vai ser muito dinheiro”, diz. A instituição estreia no ramo espelhando um de seus fundos cuja estratégia é alocar de 40% a 50% do capital em créditos de baixo e médio risco, dividido entre debêntures, certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e o restante em títulos de bancos de primeira linha.
Com R$ 21 bilhões sob gestão, sendo R$ 10 bilhões em ativos líquidos, a Vinci Partners é uma das que viu grande potencial na área e, após muito tempo de ensaio, passou a atuar em previdência em 2014. De acordo com o sócio Fernando Lovisotto, a casa já tinha no seu DNA a visão de médio e longo prazo, que casou com as características da área. Mas a instituição optou por não replicar os seus fundos multimercados e criou uma estratégia para aplicar em previdência. O foco não é necessariamente bater o CDI, mas apresentar uma boa performance em juro real para garantir o retorno ao investidor em um período mais longo.
“Vamos atrás de ganho real sem ter tanto risco, com ganho de 5% a 6% sobre a inflação.” Dessa forma, o fundo se divide entre aplicação em NTN-B de cinco a sete anos, uma parcela em renda variável que pode chegar até 40% dos recursos e o restante em CDI.
Os benefícios da gestão de assets independentes, porém, não costumam ficar disponíveis para todos os investidores, mas apenas para aqueles que conseguem destinar mais recursos. Os fundos da seguradora Icatu, por exemplo, exigem em sua maioria R$ 30 mil de aporte inicial ou R$ 1 mil mensais. O novo fundo da SulAmérica pede R$ 25 mil de entrada.
Os fundos de previdência privada começaram a ser geridos por terceiros no início da década passada, mas esse movimento vem se intensificando desde 2013. Um dos fatores que contribuiu foi a resolução nº 4.444, editada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que começou a valer no ano passado. A resolução modernizou as regras do segmento, aumentou os limites de aporte em renda variável, possibilitou o investimento em ativos indexados à variação cambial, permitiu maior destinação de recursos para imóveis e ampliou o rol de ativos permitidos para aplicação. Além disso, a resolução criou para a previdência o perfil do investidor qualificado que, por ter conhecimento mais profundo sobre o mercado, tem possibilidade maior de flexibilização. No caso da aplicação em ações, os fundos voltados a investidores qualificados podem aplicar até 100%; para os demais, o limite subiu de 49% para até 70%.
Fonte: Valor