Previdência com renda fixa na crista da onda
Em mais um efeito da crise financeira mundial, a preocupação com a segurança causou o aumento de 23% no volume de captação de recursos entre os fundos de previdência privada desde setembro, quando a turbulência se agravou.
E, com o pagamento do décimo terceiro salário, o setor deve registrar crescimento ainda maior, dizem as empresas.
De acordo com estimativas, a alta deve chegar a 30% neste fim de ano, período que representa cerca de 25% dos negócios anuais.
Dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) mostram que o setor de fundos de previdência registrou captação líquida de R$ 6,520 bilhões no ano até o dia 25 de novembro. Segundo a Fenaprevi, associação do setor, houve crescimento de 23% até meados deste mês. Até julho, a captação de fundos balanceados (com ações) e multimercados com renda variável era quase três vezes superior à dos de renda fixa. A partir de agosto, o movimento se inverteu. Em novembro, por exemplo, até o dia 25, os mais conservadores têm saldo positivo de R$ 1,3 bilhão, enquanto os que têm ações têm captação negativa de R$ 394,4 milhões e os multimercados (que também aplicam em câmbio e juros), de R$ 547,42 milhões.
Analistas lembram ainda que os investidores trataram logo de ajustar as carteiras, reduzindo investimentos em ações e alocando uma parcela maior em renda fixa. Empresas como a Brasilprev, do Banco do Brasil, destacam também que o valor médio de contribuição deve crescer cerca de 15% este ano, chegando a R$ 220 por mês.
Legislação do setor garante segurança, diz executivo Foi o que aconteceu com o analista Wanderlei de Paulo.
Com a crise, passou a acompanhar o saldo com mais freqüência.
Resultado: saiu de ações e investiu em renda fixa: – Em uma semana, perdi R$ 8 mil por causa das ações que despencaram. Logo que vi o que aconteceu pedi a transferência para a renda fixa. Mesmo assim ainda me sinto inseguro.
Segundo Antônio Cássio dos Santos, presidente da Fenaprevi e da Mapfre Seguros no Brasil, a previdência brasileira tem uma das legislações mais conservadoras do mundo, o que lhe garante maior segurança.
– No Brasil, a empresa, mesmo que estrangeira, tem de ter uma companhia local. Além disso, todos os ativos das empresas são securitizados, ou seja, têm garantia em títulos tendo a Susep, órgão que regulamenta o setor, como a responsável. Por isso, há uma segurança. Mesmo a seguradora AIG tendo atravessado problemas no exterior, não houve reflexos aqui.
Dessa forma, garantem empresas e especialistas, a previdência segue em crescimento, pois não há uma crise de confiança.
Segundo Marco Barros, diretor comercial da Brasilprev, é natural que um investimento de longo prazo sofra menos em momentos de instabilidade: – E o reflexo é a menor corrida aos resgates. Já há uma consciência de que essas reservas são para longo prazo, ainda mais com a alta expectativa de vida do brasileiro. A preocupação é contínua. Prova disso é que, com a crise, quem tinha previdência em ações migrou boa parte para a renda fixa.
Quem abriu um fundo foi direto para o modelo conservador.
Com o décimo terceiro, o crescimento será de 30%.
Para Luciano Snel, diretor de produtos da Icatu Hartford, o mercado cresceu com a crise: – O bom da previdência é que o cliente tem margem para escolher diferentes fundos, dos mais agressivos aos mais conservadores.
Por isso, a aplicação é uma boa opção para quem pensa a longo prazo. Neste fim de ano, haverá um crescimento importante no mercado.
É preciso cuidado com escolha do modelo de plano Existem hoje no Brasil dois modelos de previdência. O Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é indicado para quem é isento do Imposto de Renda (IR) ou declara no modelo simplificado.
O Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) é voltado para quem declara IR no formulário completo e permite a dedução das contribuições da base de cálculo do IR até o limite de 12% da renda bruta anual.
Gilberto Braga, do Ibmec-RJ, destaca que é preciso atenção com a escolha do modelo. Ele lembra que não adianta usar o PGBL se o volume depositado for superior a 12% da renda bruta.
– Muitos bancos falam para usar o PGBL para descontar no IR. Porém, há um limite. Há ainda as alíquotas regressiva e progressiva.
A primeira é a melhor opção para quem pensa em retirar após dez anos. Fora isso, o melhor é a progressiva, pois saques mensais até R$ 1.372,81 são isentos de IR – diz Braga.
Para Gustavo Cerbasi, da XP Educação, quanto mais longo o prazo de investimento, melhor é o desempenho: – Com isso, o rendimento pode ficar superior a produtos financeiros similares.
“Em uma semana, perdi R$ 8 mil por causa das ações que despencaram. Logo que vi, pedi transferência para a renda fixa”
Fonte: O Globo