Presidente do BC dos EUA sinaliza que juros devem subir em março
A presidente do Fed (o banco central dos EUA), Janet Yellen, indicou que a retomada do aumento do aumento da taxa de juros americana vai ocorrer neste mês.
A elevação dos juros seria a terceira em uma década marcada por taxas baixíssimas e espera-se que aconteça de modo mais acelerado do que nas outras altas (2015 e 2016), quando o processo foi interrompido por desconfianças sobre o cenário da principal economia global.
A indicação de aumento nos juros é, portanto, uma aposta de que o bom momento do emprego vai continuar e que a economia vai conseguir crescer de modo acelerado mesmo sem o auxílio do estímulo da taxa baixa.
Apesar da sinalização de Yellen, o dólar perdeu força em relação ao real e a outras moedas emergentes.A moeda americana caiu 1,20%, na cotação comercial, para R$ 3,1150. O Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira, fechou em alta de 1,41%.
Segundo analistas, o mercado já apostava no aumento iminente dos juros americanos desde quarta-feira (1º), após três outros integrantes do Fed terem dado declarações indicando o movimento.
Conforme levantamento da agência Bloomberg, a probabilidade de elevação das taxas neste mês saltou de 52% na terça-feira (28) para 80% na quarta (1º) e 90% na quinta- feira (2). Nesta sexta-feira, passou para 94%.
Segundo Yellen, “a alta gradual dos juros ainda é apropriada” e que um aumento em março “pode ser adequado se a economia evoluir conforme as expectativas”.
Ela afirmou também que a perspectiva de crescimento da economia americana “parece boa” e que os “riscos provenientes do exterior aparentam ter diminuído”.
“O discurso de Yellen não trouxe novidades, pois somente confirmou as apostas dos investidores; por isso houve uma correção no mercado, com dólar para baixo e Bolsa para cima”, afirma Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos.
Na sessão anterior, o dólar comercial havia subido quase 2%, para a casa dos R$ 3,15, maior valor desde 26 de janeiro, justamente por causa do aumento da chance de alta dos juros em março.
PROJEÇÕES O Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) do Fed se reúne nos dias 14 e 15 deste mês. Atualmente, os juros estão na faixa de 0,50% e 0,75%, e devem subir para entre 0,75% e 1,00%.
No mesmo encontro, o Fomc atualizará suas projeções para 2017. Atualmente, o comitê projeta três elevações dos juros neste ano.
“O que pode surpreender o mercado e fazer o dólar subir é se o Fed passar a prever quatro aumentos neste ano, em vez de três”, afirma José Faria Júnior, diretor técnico da Wagner Investimentos.
Para ele, mesmo que o aumento de março seja confirmado, a tendência continua sendo de queda do dólar ante o real, sobretudo por causa da recente valorização das commodities e das perspectivas de melhora da economia, tanto no cenário doméstico quanto no mundial.
André Perfeito, economista- chefe da Gradual Investimentos, considera que o discurso de Yellen foi importante porque não vincula a alta dos juros à política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O republicano promete elevar os gastos públicos e reduzir impostos para estimular a economia.
O economista destaca que os dados de emprego nos Estados Unidos relativos a fevereiro, que serão divulgados no dia 10, serão fundamentais para sacramentar o aumento dos juros no dia 15.
ENTENDA Juros nos EUA
O que significa para o brasileiro o aumento dos juros americanos?
O impacto mais imediato é no dólar. A tendência é que a moeda americana ganhe força nos próximos meses em relação ao real e a outras moedas emergentes.
Isso acontece porque a tendência é que os investidores estrangeiros deixem os mercados de países emergentes (com juros mais atrativos, mas com risco maior) e rumem para os EUA, atraídos pelo aumento da taxa. Essa saída de dólar torna a moeda mais rara, elevando seu preço Mas, fora o turista que vai para os EUA, alguém mais é afetado com o dólar mais caro?
A valorização da moeda americana é sentida em diversos setores da economia. Um dos que sentem o impacto mais fortemente é o exportador, já os preços dos produtos ficam mais competitivos lá fora. Empresas que importam matéria-prima, porém, são prejudicadas e têm que repassar o aumento de preços para o consumidor. Esse reajuste, que tem impacto na inflação, é sempre complicado, ainda mais em um momento de desemprego alto no país Subir juros não é ruim para a economia?
Por que os EUA estão fazendo isso?
Juros muito baixos também podem ser nocivos para a economia.
“Despejar” dinheiro barato na economia pode não só estimular inflação como incentivar a criação de bolhas (no mercado de ações e imobiliário, por exemplo) Essa é uma decisão de Donald Trump?
Não, o BC dos EUA é independente. O aumento dos juros é um reflexo da economia, que está com taxa de desemprego muito baixa e com longo período de crescimento do PIB (11 trimestres seguidos)
Fonte: Folha de São Paulo