Pátio Único: Seguradoras obtém bons resultados com projeto
Um local específico para onde são encaminhados os veículos recuperados pela polícia. Simples, essa idéia pode significar economia e eficiência na tentativa de reduzir o número de sinistros. É o pátio único, que desde 2005, está em funcionamento na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Na opinião de especialistas, nada mais é do que uma parceria público-privada, sem ônus para o Estado. E em um ano, dos 16.600 veículos ali depositados, 15.900 foram devolvidos em até cinco dias, sem custos para os proprietários.
As seguradoras arcam com o custo da operação, e os donos dos veículos só têm custos se demorarem mais de três dias úteis para retirá-los, prazo que só começa a correr após a notificação por escrito. Mas se é tão eficaz, por que a experiência ainda não foi estendida a outros pontos do país onde os roubos e furtos de carros são freqüentes?
“Antes de iniciar os entendimentos com os demais Estados, as companhias optaram por aguardar um ano como teste”, argumenta Luiz Tavares Pereira Filho, presidente do Sindicato das Seguradoras do Estado do Rio. Com a consolidação do modelo, tiveram início, no segundo semestre de 2006, os contatos com as autoridades de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. “Tais entendimentos estão em diferentes estágios”, assegura Tavares.
O projeto tem como objetivo principal estabelecer mecanismos de controle eficiente do fluxo de veículos recuperados de furto e roubo, agilizar o processo de identificação e restituição ao proprietário. Com isso, desafoga os pátios de delegacias de polícia e reduz as despesas públicas. “Como o projeto ainda não evoluiu em São Paulo, onde surgiu com o nome ´Projeto Pátio Único´, em 2002, foi apresentado à Secretaria de Segurança do Rio, que comprou a idéia”, esclarece Marcos Maccavali, gerente de sinistro da Porto Seguro.
O advogado especializado em seguros Antonio Penteado Mendonça defende a novidade por não gerar custos para o Estado nem para o dono do carro, mesmo que ele não tenha seguro. “A centralização dos carros recuperados, sob responsabilidade das seguradoras, garante um cuidado maior do que o oferecido pelas delegacias e locais administrados pelo poder público”, compara. Para ele, a demora na implantação em São Paulo se deve a obstáculos mais políticos do que práticos.
Outros defensores do projeto afirmam que as vantagens são muitas. Permite às seguradoras e aos proprietários terem ciência mais rapidamente da recuperação de veículos furtados ou roubados, o que acelera a devolução. O pátio legal também centraliza as informações sobre os veículos, com acesso em tempo real pela internet. Isso, em tese, livra os pátios das delegacias da função de depósitos e libera os policiais para outras atividades com a simplificação do processo.
O projeto, acrescenta Marcos Maccavali, da Porto Seguro, prevê a disponibilização de guinchos para a remoção do automóvel do local para o pátio. “Dessa forma, haveria considerável ganho de produtividade, ou seja, mais tempo do policial dedicado à atividade-fim”, acrescenta. Ele conta que a idéia surgiu a partir de uma iniciativa do mercado segurador, preocupado em estabelecer políticas de redução dos crescentes índices de furto e roubo. Para Maccavali, esta é uma forma de solucionar e regulamentar as questões dos automóveis recuperados no Estado. “O modelo atual precisa ser modernizado, uma vez que o processo de identificação e a morosidade da restituição acabam gerando entraves e custos desnecessários”, reforça.
Para Claudio Afif Domingos, o mercado do Rio de Janeiro apresentar muitas peculiaridades. “As regiões metropolitanas do Rio e de São Paulo são campeãs de furto e roubo de veículos. Essas ações são menores em áreas metropolitanas de capitais e de grandes cidades de outros Estados. Por isso, tinha de começar por um deles”, raciocina.
Como tudo na vida, por mais que apresente pontos positivos, o projeto tem suas desvantagens, facilmente contornáveis na opinião do especialista Penteado Mendonça: “A maior é o custo operacional e a necessidade de alguém com caixa para pagar o sistema. Mas este problema é resolvido pelas seguradoras, que assumem o custo porque os benefícios para elas justificam o investimento”, ressalta.
Cobrir tais despesas não parece mesmo preocupar as companhias. O presidente do sindicato do setor, Luiz Tavares Pereira Filho, é enfático: “O projeto permite aperfeiçoar os processos e práticas operacionais, com melhor controle dos veículos recuperados e uma segurança maior para os proprietários”. Para ele, todos ganham, e as seguradoras se beneficiam economicamente com a melhor conservação dos automóveis e com a ciência imediata da recuperação.
Mas se as seguradoras economizam com o pátio, ele pode representar redução no custo das apólices, ou seja, seguros contratados a preços mais baixos pelo consumidor? “Os ganhos das empresas são transferidos aos consumidores, que acabam sendo beneficiados”, afirma Tavares. Já Antonio Penteado Mendonça vê o pátio como algo mais atraente para as seguradoras do que para os donos de veículos. Ele prevê um caminho mais longo até que seja alcançado o estágio que barateará os produtos. “A operação precisa ganhar escala, e isto leva tempo. Com o tempo, sim, poderão custar menos”.
Fonte: CQCS