País perde R$ 30 bi com acidentes
No ano passado, as perdas causadas por acidentes de trânsito ocorridos em rodovias federais e estaduais e em aglomerações urbanas somaram R$ 30,4 bilhões, ou 1,25% do Produto Interno Bruto (PIB). Tal montante equivale a aproximadamente o triplo do que o Brasil investiu em geração e transmissão de energia elétrica (R$ 10,5 bilhões) e mais de três vezes o volume de dinheiro transferido pelo governo por meio do Bolsa Família (R$ 8,9 bilhões) no período.
O estrago parece não ter fim. Só no Carnaval, quando 128 pessoas morreram em 2.396 acidentes, o Brasil perdeu R$ 37 milhões do PIB deste ano.
Tamanho do prejuízo
Em 2006, o prejuízo causado totalizou R$ 29,1 bilhões, também 1,25% do PIB. De janeiro a dezembro do ano passado, ocorreram 122.985 acidentes em todo o país, alta de 9% em relação ao mesmo período de 2006. Morreram 6.840 pessoas, outras 75.006 ficaram feridas. No ano anterior, morreram 6.168 e feriram-se 69.624.
Os dados constam de estudo inédito produzido pelo coordenador de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Diretoria de Estudos Regionais e Urbanos do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), José Aroudo Mota. O Ipea é vinculado ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, comandado pelo ministro Roberto Mangabeira Unger.
Para chegar a esse resultado, o economista calculou as despesas com o atendimento médico das vítimas e a remoção de corpos e veículos. Somou também as perdas de patrimônio público e privado, como danos em veículos ou na infra-estrutura das estradas e cidades. Por exemplo, a queda de postes.
Mota avaliou ainda a riqueza que deixou de ser produzida pelas pessoas que morreram e ficaram feridas. Pela média de renda e expectativa de vida do brasileiro, o autor da pesquisa concluiu que cada morto parou de produzir para a economia R$ 291 mil por ano. Já o ferido não gerou R$ 39 mil.
Depois de praticamente sete anos de queda, o número de acidentes voltou a crescer em 2007. No ano passado, ocorreram 25 acidentes para cada 10 mil veículos em uso no país, um a mais do que o verificado em 2006. A taxa foi de 24 acidentes a cada 10 mil veículos em 2004, enquanto em 2000 o índice chegou a 37.
Democratizar as estatísticas
Segundo o pesquisador do Ipea, a principal causa do aumento dos acidentes é o crescimento da frota nacional, que atualmente soma cerca de 48 milhões de unidades. Mota destaca que a maior atividade econômica, a alta da renda da população, a queda da taxa de juros e o aumento do acesso ao crédito impulsionaram as vendas de automóveis.
A fim de reduzir o número de acidentes, mortos e feridos nas estradas e ruas do Brasil, o pesquisador faz quatro recomendações ao Executivo. Em primeiro lugar, defende, o Ministério da Justiça deveria uniformizar e democratizar as estatísticas referentes aos acidentes de trânsito de todo o país. A medida garantiria melhores instrumentos para a tomada de decisões dos gestores públicos. Atualmente, a Polícia Rodoviária Federal mantém um banco de dados. Os estados detêm outros. Para piorar, algumas das entidades da federação não divulgam as informações coletadas.
Em segundo lugar, sugeriu Mota, a Polícia Rodoviária Federal deveria ser convocada para realizar operações especiais em todos os feriados e finais de semana. O efetivo da corporação deve ser aumentado. Além disso, a polícia teria de usar o banco de dados para saber como melhor distribuir ao longo das rodovias do país seus postos e viaturas.
“Pente fino”
“A maior parte dos acidentes acontece durante o dia, em estradas que têm boas condições e com o tempo bom. Há que se aumentar a fiscalização, e fazer um pente fino para saber em que trechos se morre mais”, sublinhou o autor do estudo. “É muito mais simples fazer uma fiscalização centrada.
“A melhoria da infra-estrutura e da sinalização e a realização de campanhas de educação da sociedade também são imprescindíveis, finalizou o pesquisador do Ipea.
Fonte: Gazeta Mercantil