Os planos da mulher que tirou o Rio do fundo do poço econômico
A economista Eduarda La Rocque assumiu a Secretaria Municipal de Fazenda do Rio de Janeiro em 2009 com o desafio de transformar as finanças de um município então combalido financeiramente.
Rigor fiscal, redução de despesas, planejamento de longo prazo, caminhos para a atração de investimentos se tornaram uma busca constante. Hoje, ela comemora todo o esforço empreendido e afirma que o Rio está em ótima saúde financeira e bem na foto, sem ser contaminado por um cenário mundial de crise. Em dezembro de 2011, a agência de classificação de risco Fitch atribuiu ao Rio grau BBB, a mesma nota do país e de instituições como BNDES e Petrobras.
A dívida do município que ceifava 13% da receita em 2009, hoje compromete 7%, graças a recursos de longo prazo, atrelados a condições de pagamento mais suaves. As atuais projeções de investimentos na cidade de R$ 3 bilhões por ano, com expectativa de crescimento até 2016.
Diante de tanto trabalho, a secretária lamenta não ter mais tempo de folga com a filha, de 11 anos. Doutora em Economia pela PUC do Rio, ela foi sócia do Banco BBM por 12 anos e fundou a empresa de tecnologia RiskControl, que foi vendida ao grupo Accenture.
Como estão as finanças do Rio, na comparação com 2009? Depois de anos de um processo de deterioração sócio-econômica, o Rio recuperou sua capacidade de investimento e, cada vez mais, atrai investidores e financiamentos.
Para que pudéssemos atingir essa nova realidade, foi necessário iniciar um processo de desburocratização e de incentivo ao empreendedorismo, melhorando o ambiente de negócios da cidade.
Que mudanças efetivas foram implementadas? A solução encontrada foi o rigor fiscal, amparada em ampla revisão das despesas municipais e em sua priorização, além do foco no planejamento de longo prazo para a cidade. Foi feito um verdadeiro choque de resultados, buscando a eficiência nos procedimentos e, sobretudo, a qualidade do gasto público. Os resultados apareceram: em 2009 conseguimos um superávit extraordinário, equivalente a12%das receitas daquele ano, o maior da história do município. Em novembro de 2011, esse trabalho de recuperação das finanças públicas teve um reconhecimento internacional.
A agência de classificação de riscos Moodys concedeu à cidade o investment grade, elevando a nota do Município de Ba2 (em 2008) para Baa3 (ano passado) – um salto de duas escalas no rating.
Em dezembro passado, a cidade conquistou mais um upgrade, através de duas notas altas de crédito A agência Fitch atribuiu ao Rio BBB – a mesma nota do Brasil e de entidades como Banco do Brasil, BNDES e Petrobras. E, menos de uma semana depois, a Moodys elevou novamente o rating do Rio, de Baa3 para Baa2 (em perspectiva estável). Logo, posso afirmar que o Rio está com saúde financeira em ótimo estado.
Não há contaminação do cenário mundial de crise. O que é mais um atrativo para investimentos externos. As oportunidades estão aqui! Quais são os investimentos previstos para os próximos anos? O espaço fiscal de investimentos previsto é superior a R$ 3 bilhões por ano, com expectativa de crescimento até 2016. Os investimentos priorizam obras com legado para cidade em quatro grandes eixos: transporte, infraestrutura, desenvolvimento social e meio ambiente.
Qual é o perfil da dívida hoje? O estoque da dívida financeira é de cerca de R$ 8,7 bilhões, incluindo saldos com a União, Banco Mundial, BID, BNDES, Caixa Econômica. Os recursos são de longo prazo com cronograma e condições de pagamento suavizados ao padrão de mercado.
Devido à operação com o Banco Mundial em 2010, o peso dos encargos da dívida foi reduzido sensivelmente, contribuindo para economia de R$ 585 milhões até agora. Até 2009, a dívida penalizava 13% da receita e atualmente, estamos-e vamos nos manter – perto de 7%.
A cidade terá este ano a segunda edição do Rio Investors Day, no Copacabana Palace nos dias 21 e 22 de maio de 2012.
Participaram da primeira edição do Rio Investors Day, em maio de 2011, executivos de 42 grandes empresas. Para a segunda edição do RID, áreas estratégicas, como mineração, siderurgia, óleo e gás, finanças, construção, varejo, energia, saúde e consumo, serão contempladas.
Os principais setores da economia brasileira e mundial estarão representados no evento.Haverá um foco especial do evento no tema sustentabilidade.
O que será a Bolsa de Ativos Verdes, com início da operação prevista para abril deste ano? A Bolsa Verde é uma associação sem fins lucrativos, que tem por missão desenvolver um mercado de ativos ambientais como forma de promover tanto a revitalização do setor financeiro no Município quanto a economia verde no Estado do Rio.
A prefeitura já anunciou que o Rio se tornaria a Cidade do Seguro. De que forma está sendo implementado? A nossa ideia é implantar na região portuária um grande centro latino-americano de seguros e resseguros, nos moldes do que existe em Londres.
Como está a arrecadação? Estamos com um crescimento expressivo, de 15% a 20% ao ano, sem aumento de alíquotas, graças a melhorias de processos especialmente nas áreas de ISS e ITBI.
Como a senhora se sente no setor público? É uma satisfação muito grande poder contribuir para esta grande virada da cidade. Conseguimos reverter o ciclo vicioso para um virtuoso e o ambiente hoje é de extremo dinamismo e recuperação da auto-estima do carioca. Há, confesso, uma certa impaciência, pois comparativamente ao setor privado, as coisas demoram muito para acontecer. Mas quando acontecem, o impacto é gigante, vide operação do Banco Mundial.
A emissão de bônus municipal pode sair? Estamos avaliando estruturas de captação de recursos em mercado que não sejam formalizadas via emissão de títulos para que não colidamos com Lei de Responsabilidade Fiscal.
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Depois de anos de um processo de deterioração socioeconômica, o Rio recuperou sua capacidade de investimento e, cada vez mais, é capaz de atrair investidores e financiamentos
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Estamos com um crescimento expressivo da arrecadação de impostos, de 15% a 20% ao ano, sem aumento de alíquotas, graças a melhorias de processos
Fonte: Brasil Econômico