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Operadoras sobem preços e disputa entre ´planos baratos´ perde força

Mais interessadas em proteger sua rentabilidade, e menos em ganhar mercado, as operadoras de telefonia começaram 2017 praticando preços mais altos. A concorrência, que se mostrava acirrada nos planos mais baratos, perde força.

Os preços no setor estão em movimento de alta gradual, mas constante, nos últimos 12 meses, segundo estudo do banco BTG Pactual. O movimento foi detectado pelo Instituto Brasileito de Geografia e Estatística (IBGE), que mede o IPCA, a inflação oficial do país. Embora a variação dos preços de serviços para telefone celular continue correndo abaixo do IPCA, mostra trajetória oposta nos últimos meses – enquanto a inflação desacelera, os preços atrelados à telefonia móvel sobem (ver gráfico abaixo).

Eles começaram a subir em abril de 2016, com ajustes nos planos pós-pagos. E voltaram a avançar em outubro, dessa vez no pré-pago, usado por cerca de 70% dos donos de celulares no país. Uma das estratégias foi eliminar os pacotes de entrada, mais baratos. Em seu lugar, surgiram novas opções mais caras, com maior oferta para dados (acessar e enviar imagens, por exemplo) e minutos.

Um caso emblemático da decisão de proteger as margens foi a decisão da Claro de encerrar a promoção que não descontava da franquia de dados o acesso às redes sociais Facebook e Twitter, diz o analista Carlos Sequeira, do BTG. O WhatsApp ainda pode ser acessado sem desconto dos dados, mas sem direito a chamadas de voz.

Os planos mais baratos das categorias pós-pago e controle (funciona como uma conta com um limite para gastar todo mês) ficaram mais caros, com o repasse da alta de impostos e da inflação. “No passado, era comum ver as operadoras adiando os reajustes, para ganhar participação de mercado. Curiosamente, quase todas as operadoras (exceto a Oi) já repassaram a inflação para os preços pós-pagos (em média em 9,8%), algo que não víamos há muitos anos”, disse Sequeira.

Na Vivo, que reformulou os planos em novembro, a tarifa mais barata para o “controle” subiu 25% e o pós-pago teve alta de 11%. Na Claro, desde janeiro o plano “controle” mais em conta está 9% mais caro, e o pós-pago, 10%. A TIM revisou os preços em fevereiro e o “controle” de entrada subiu 14%, enquanto o valor da oferta pós-paga aumentou 11%.

Eduardo Levy, presidente do SinditeleBrasil, sindicato que reúne as operadoras, diz que os resultados das empresas e a situação da economia não permitiram segurar os preços dessa vez. Segundo ele, a baixa rentabilidade e o aumento de impostos, em especial do ICMS, impediu a absorção de custos. “O resultado prático [dos aumentos] é a redução da base nos últimos meses.”

No ano passado, a base de celulares no Brasil encolheu 5,33%, para 244 milhões de linhas. No pré-pago, a queda foi de 10,75%. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a base diminuiu porque a tarifa de interconexão – valor pago por uma operadora à outra para completar ligações feitas entre elas – ficou mais barata. Com isso, o custo das ligações caiu, o que fez diminuir a prática de usar chips de várias operadoras ao mesmo tempo para gastar menos. Muitos consumidores migraram para o pós-pago, que cresceu 8,35%, para 79,4 milhões de linhas. Nesse movimento, Oi, Claro e TIM perderam clientes. A Vivo, da Telefônica, teve um pequeno ganho.

“Apesar dos reajustes, não dá para dizer que a competição diminuiu”, diz Marcio Fabbris, vice-presidente de marketing da Telefônica. “A competição é dura no dia a dia e não está menor do que foi antes. A gente vê vendedor buscando cliente na loja do outro”, afirma.

Fabbris observa que, apesar do aumento do preço da oferta, cada gigabyte (GB) está custando menos. No pré-pago, reduto do consumidor mais sensível a preço, em 2015 a operadora vendia 400 MB por semana a R$ 9,99. Hoje, 1 GB (ou 1.024 MB) custa R$ 14,99. “A estratégia é adicionar internet por um pouco mais de dinheiro no plano.”

Apesar dos preços de entrada do “controle” terem aumentado, nas faixas de preço mais altas há muita disputa, avalia o Credit Suisse. A Vivo deixou de vender a oferta mais barata, porém reduziu os preços de todas as outras faixas. A TIM criou opções mais baratas com franquias de dados entre 2 GB e 4 GB. “Vemos o aumento dos preços de entrada como evidência de um mercado mais racional e como indicação do crescimento da receita média por usuário (Arpu) nos próximos trimestres”, diz o analista Daniel Federle, do Credit.

O Arpu na Vivo somou R$ 27,8 no terceiro trimestre de 2016, alta de 14,9% em relação a R$ 24,2 em igual período de 2015. Na mesma base de comparação, o Arpu da TIM subiu 12,3%, para R$ 18,4, e o da Oi recuou 4,3%, para R$ 16.

“Não ficaríamos surpresos de ver níveis maiores de cancelamentos e trocas para planos mais baratos. Ainda assim, se as operadoras assumissem o impacto total do aumento de imposto, sua rentabilidade seria muito menor”, diz o analista do BTG.

“A base móvel ainda deve diminuir um pouco mais, mas esperamos que a melhoria econômica e a reforma tributária melhorem a competitividade”, diz Levy.

No pré-pago, a estratégia foi combinar serviços e aumentar o período da oferta, para empurrar os clientes para o modelo de controle. A TIM uniu as duas ofertas de voz e dados, que antes eram vendidas separadamente, igualando sua cobrança às de Vivo e Claro. A Oi, que cobrava R$ 1,74 por dia por 300 minutos e 60 MB de internet, atualmente vende essa oferta por R$ 2,28.

Nenhuma operadora tem forte motivos para ser muito agressiva, ao contrário. A América Móvil, dona da Claro, precisa gerar caixa em mercados fora do México. A estratégia da TIM é gerar fluxo de caixa livre. A Oi, em recuperação judicial, tem uma dívida de R$ 65 bilhões. E a líder Vivo não tem razão para baixar preços se os concorrentes não o fazem, diz o BTG Pactual.

Fonte: Valor

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