Operadoras móveis têm melhora na rentabilidade
As operadoras de telefonia móvel que atuam no Brasil tiveram, no ano passado, uma sensível melhora em sua rentabilidade. Ainda assim, somente uma delas – a TIM – alcançou o que seria uma taxa de retorno adequada para remunerar seus acionistas. É o que mostra estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) obtido com exclusividade pelo Valor.
O levantamento usa como base a idéia de uma “taxa de retorno sustentável” – aquela que seria suficiente para compensar o investimento feito pelos acionistas e garantir o crescimento saudável da empresa. De acordo com o estudo, a taxa calculada para o conjunto das quatro maiores prestadoras de telefonia celular do país subiu de 5%, em 2005, para 11%, no ano passado.
Houve um salto, portanto. Mas ele não bastou para colocar as operadoras num patamar de rentabilidade que fosse o mínimo suficiente para compensar o que, teoricamente, o acionista receberia investindo em outro ativo com a mesma taxa de risco. Esse custo ponderado do capital do acionista varia de setor para setor e de país para país.
O custo de capital dessas operadoras (Vivo, TIM, Claro e Oi) foi de 12,5% no ano passado. Apenas a TIM obteve taxa de retorno acima desse número: 13%. Foi a Telecom Italia, controladora da TIM, que encomendou o estudo à FGV. Procurada, a empresa não deu entrevistas. O Valor tomou conhecimento do material ao acompanhar uma apresentação de professores da fundação na qual o levantamento foi mencionado.
A taxa sustentável de retorno da FGV é a relação entre o fluxo de caixa operacional bruto (deduzido do investimento de reposição) e o capital investido. O investimento de reposição é o gasto que as empresas têm de fazer para repor ativos e garantir o crescimento do negócio.
“É um setor totalmente desequilibrado financeiramente”, afirma o professor Claudio Furtado, que conduziu o estudo.
O Brasil sempre foi um dos mercados de menor margem operacional para as companhias de celular, com sua política altamente apoiada em subsídios e pouco geradora de receita por assinante. O estudo da FGV analisa o tema sob outro ângulo, neutralizando as diferenças de maturidade entre as redes mais antigas e mais novas.
De acordo com Furtado, a mudança do regime de interconexão da telefonia móvel, em meados do ano passado, foi decisiva para a melhora da taxa de retorno. Até então, as teles reconheciam parcialmente receita e custos relacionados ao uso da rede de terceiros. Em julho de 2006, entrou em cena uma nova regra, por meio do qual elas passaram a reconhecer esses efeitos de forma integral.
Também contribuiu para a melhora o amadurecimento das empresas de celular – e a conseqüente redução no valor das depreciações e amortizações dos investimentos feitos por elas para construir as redes de celular.
Porém, ao contrário do discurso de racionalidade que as operadoras de telefonia móvel têm adotado, as despesas com o subsídio à venda de aparelhos não caíram significativamente. Nos últimos dois anos, as seis maiores do setor investiram em média R$ 350 milhões por trimestre em subsídios. Nesse caso, os dados não incluem a Claro, para a qual não havia dados disponíveis, mas ela é justamente uma das mais ousadas em termos de política comercial.
O que tem acontecido, na prática, é uma mudança de foco na concessão de descontos no preço dos aparelhos. A disputa por novos clientes em classes de renda mais baixa pode ter baixado de tom, mas ficou mais acirrado o jogo de “rouba-montes” para uma operadora atrair assinante das outras – e impedir a migração dos seus.
Com isso, a taxa de retorno permaneceu aquém do mínimo considerado saudável. “Os resultados mostram que os acionistas não estão gerando o mínimo necessário para se manter nesse negócio”, destaca Furtado.
No caso da TIM, os acionistas ficaram com 2,1% do valor agregado gerado pela empresa nos 12 meses encerrados em junho deste ano. Houve uma melhora expressiva em relação ao período anterior, quando foi de 20,4% negativos, mas ainda é pouco, segundo o professor.
Valor agregado é a diferença entre a receita bruta gerada por uma companhia e as despesas com os insumos relacionados à prestação do serviço.
Salários absorveram 9,9% do valor agregado da TIM entre julho de 2006 e a metade deste ano, enquanto credores ficaram com outros 12,3%. O governo, na forma de impostos e taxas, ficou com 75,6% do valor agregado da TIM entre julho de 2006 e a metade deste ano. A carga tributária incidente sobre o setor de telefonia é superior a 34%. Não foram divulgados os dados referentes às demais operadoras.
A situação entre as empresas de telefonia fixa é melhor, mas apresenta variações importantes. A FGV detectou uma taxa sustentável de retorno de 16% para o conjunto das operadoras Telefônica, GVT, Embratel, Oi (ex-Telemar) e Brasil Telecom. No caso das duas últimas, foram desconsiderados os serviços de celular que elas possuem. O custo médio ponderado de capital dessas companhias foi de 11,5% no ano passado.
Nas três concessionárias de telefonia local, a taxa ficou igual ou acima da linha de equilíbrio. O desempenho mais significativo foi o da Telefônica, com 29%.
Para a Embratel, que foi privatizada como operadora de longa distância e agora tenta reinventar seus negócios, a taxa foi zero. Empresa-espelho da Brasil Telecom, a GVT registrou o indicador na casa dos 4% – mas aí se trata de uma operadora bem mais “jovem”, que ainda está investindo pesadamente na construção de sua rede e está expandindo seu negócio.
Fonte: Valor