Open insurance é uma página em branco, diz segurador
Em entrevista para Mobile Time, o CEO da Icatu, Luciano Snel, fala sobre transformação digital, seguros dinâmicos, venda através de apps e expectativas para o open insurance. O executivo, aliás, entende que ainda é cedo para saber quem vai ganhar ou perder com a possibilidade de transferência de dados entre seguradoras. O open insurance é uma página em branco, compara.
Mobile Time A Icatu é a maior seguradora independente do Brasil em vida, previdência e capitalização. O seguro de vida ainda parece ser um tabu no País. Por que? E como mudar isso?
Luciano Snel Para responder a essa pergunta vou voltar alguns anos em minha análise. Desde que o Brasil iniciou um período de inflação sob controle (o ano passado foi atípico) e juros baixos, o brasileiro foi aprendendo a investir em previdência privada, com PGBL e VGBL.
E as seguradoras foram desenvolvendo esse mercado. A Icatu criou um modelo de arquitetura aberta em fundos de previdência. Trouxemos os melhores gestores do Brasil, ampliamos os produtos oferecidos, com fundos multimercado. Trouxemos também opções para investidores de varejo, private banks etc.
Nos últimos dois anos de crise e incerteza econômica, o mercado teve captação líquida positiva. Ou seja, entrou mais dinheiro do que saiu.
A previdência privada se tornou um objeto de desejo do brasileiro, um produto de primeira necessidade. E o que falta para isso acontecer com o seguro de vida?
Do nosso lado, ampliamos nosso portfólio de seguro de vida individual, em grupo e para PMEs. E investimos em infraestrutura de tecnologia para preparar a Icatu para esse mundo novo que está chegando.
Sempre pensamos que a pessoa que contratou um plano de previdência está olhando para os próximos 30 anos. Fez uma decisão difícil, de longo prazo, se comprometeu
É uma jornada longa e nela imprevistos podem acontecer. Por isso, o casamento entre seguro de vida e previdência é quase perfeito. Você protege sua família caso certos eventos aconteçam, como uma doença grave. E o seguro de vida é mais acessível do que as pessoas pensam.
Geralmente se compara com seguro de automóvel ou de saúde, mas o seguro de vida é muito mais barato.
A pandemia impactou na demanda por seguro de vida?
Sim. As pessoas perceberam quão frágeis nós somos, quão vulneráveis. E as conexões afetivas ficaram mais fortes.
Notamos um crescimento na curiosidade sobre o seguro de vida, sobre seus tipos de cobertura, seu preço, sua transparência etc.
A quantidade de cotações aumentou fortemente. A gente cresceu 24% no ano passado em seguro de vida, atingindo R$ 3 bilhões em arrecadação.
A busca por seguro de vida no Google mais do que dobrou. Acho que chegou para ficar. E empresas também estão valorizando esse tipo de benefício.
Mas deixou de ser tabu?
Falar sobre a morte sempre foi um tabu. Mas hoje as pessoas sabem as estatísticas por conta da pandemia: quantas pessoas morreram na sua cidade, no seu estado, no Brasil
Infelizmente todo mundo perdeu gente próxima. A morte se aproximou da realidade de todos. Ao mesmo tempo surgiram fintechs e os brasileiros estão se conectando e querendo resolver sua vida em diferentes canais.
Nossa missão é democratizar o acesso a esse produto, que chamamos de proteção financeira e planejamento financeiro. Temos que criar o ecossistema e ter cabeça aberta para aprender, testar e nos conectarmos o máximo possível com fornecedores, startups, fintechs, acelerando o aprendizado e o conhecimento.
Quantas vidas estão seguradas pela Icatu?
Temos ao todo 8 milhões de clientes, sendo pelo menos 6 milhões com seguro de vida, ou seguro de pessoas, como chamamos, por abranger vários outros. É o nosso principal produto.
O seguro de pessoa abrange quais outros seguros?
Se for um profissional liberal, por exemplo, além de cobertura por morte e invalidez, temos diária por internação hospitalar, ou diária por incapacidade temporária.
A Icatu pretende firmar outras parcerias na área de tecnologia este ano?
Somos uma empresa B2B2C. Enxergamos a Icatu como uma empresa de projetos. Temos uma área enorme de tecnologia e projetos, para a gente se plugar aos nossos parceiros comerciais, como corretores, cooperativas de crédito e fintechs.Vemos a Icatu não como uma fábrica de produtos de seguros, mas como uma empresa cujo objetivo é agregar valor para o parceiro. Temos uma rede de mais de 10 mil corretores que trabalham conosco, além de parcerias com fintechs, varejistas, plataformas de investimento etc.
O que acha da venda de seguros através de apps, como um autosserviço?
Acho ótimo ter cada vez mais experimentações de teses e conceitos que ajudam a disseminar a categoria e sua relevância. Para a democratização do produto, todo novo modelo e novo entrante são benéficos ao mercado. Aqui no Brasil já temos parceria com o Inter, que oferece previdência como autosserviço.
Temos parceria também com Guiabolso, com quem tínhamos vida e previdência dentro do app deles. E também com Warren e Creditas. Os clientes estão demandando novas formas de se relacionar com seu banco ou empresa.
Qual é a participação de seguros vendidos via apps, contratados diretamente pelo cliente, sobre o total de novas vendas da Icatu?
A autocontratação ainda é incipiente. A presença de um consultor financeiro ou corretor fazendo a consultoria ainda tem um valor agregado e representa a maior parte. O autosserviço é um modelo em fase de aprendizado. Vai ter espaço para todos os modelos. Para democratizar o acesso precisamos oferecer em qualquer canal e formato que o cliente queira e se sinta mais confortável em fazer a contratação.
Fonte: NULL