Oferta de vagas de fim de ano volta a crescer
Após duas quedas seguidas, a contratação de trabalhadores temporários de fim de ano deve voltar a crescer em 2017, puxada pela melhora da economia e pela mudança na legislação dos temporários, em vigor desde março, que deu mais segurança jurídica para as empresas admitirem.
De setembro a dezembro, a perspectiva é que sejam contratados 374,8 mil temporários na indústria, comércio e serviços um número 5,5% maior do que no mesmo período de 2016, aponta o estudo da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), que reúne 200 agências de emprego.
Do lado dos candidatos, a procura por uma vaga temporária ganhou força neste fim de ano porque o desemprego ainda es- tá em níveis elevados. Levantamento feito em agosto com 2 mil currículos cadastrados no portal de carreiras Vagas.com.br revela que 77% dos candidatos pretendem realizar trabalho temporário neste fim de ano. Foi o maior resultado desde que a pesquisa começou, em 2013, diz o coordenador do levantamento, Rafael Urbano.
Um dado do levantamento que chama a atenção é que, entre aqueles dispostos a realizar trabalho temporário de fim de ano, 65% pretendem procurar um emprego do mesmo tipo no restante do ano também.
Apesar da reação na oferta de vagas temporárias, o volume do emprego sazonal neste ano é bem menor do que o registrado três anos atrás, observa Márcia Constantini, presidente da Asserttem. Em 2014, foram abertas 490 mil vagas nesse período. Houve anos em que se chegou a contratar 180 mil trabalhadores só em dezembro, lembra. Para 2017, a expectativa é de 115 mil admissões no mês, segundo a Asserttem, que projetou as admissões com base na reação observada no emprego temporário no ano até agora.
Até 2016, as empresas estavam receosas e seguraram as contratações de temporários por causa da crise, diz Fernando Medina, diretor da agência Luandre. Ele conta que neste ano o quadro mudou. Na sua agência, ele notou a antecipação das admissões de temporários, de agosto para fim de junho, e o aumento de 18% nas vagas ante 2016. Desde junho, a agência admitiu 1,2 mil temporários. A maioria para o varejo, sobretudo o de vestuário.
A Besni, por exemplo, varejista de vestuário, com 36 lojas no Estado de São Paulo, vai admitir entre 800 e mil temporários neste fim de ano, um número 10% maior do que em 2016, segundo o gerente de Recursos Humanos, Arnaldo de Paula. O aumento das admissões reflete a melhora na venda.
A Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) calcula que 25 mil temporários serão admitidos neste ano entre outubro e novembro , com crescimento de 30% ante 2016. Será o maior número desde 2014, quando foram admitidos 30 mil, diz Jair Vasconcellos, economista da Fecomércio-SP.
A projeção da Fecomércio considera o aumento de 5% no receita real do varejo no Estado para este ano e o fato de o quadro de empregados estar muito enxuto. De janeiro de 2015 a junho de 2017, foram fechadas 140 mil vagas no Estado.
Lei. Para o advogado José Carlos Wahle, da Veirano Advogados, a nova lei de trabalho temporário acelerou a contratação neste ano. Mas não foi o fator determinante. Antes, sob o risco de multa, as empresas não podiam admitir temporários para eventos previsíveis, como a alta sazonal do consumo. A nova lei permite. Além disso, o prazo de admissão foi ampliado de 90 para 180 dias. Wahle frisa que a lei não gera emprego, mas dá flexibilidade em períodos como o atual que, com a demanda incerta, a empresa não quer ampliar o quadro de efetivos.
Desde janeiro parado, André dos Santos, de 39 anos, conseguiu uma vaga temporária, por três meses, numa indústria de autopeças. Ele começou no trabalho no dia 13 de setembro, num processo seleti- vo que durou menos de duas semanas. Antes, ele pleiteava uma vaga efetiva e havia deixado o currículo num site de emprego por três meses, mas só foi chamado para uma entrevista.
Santos conta que a indústria de autopeças na qual trabalha teve um aumento de pedidos e precisou contratar temporários para ampliar a produção.
Para a vaga de operador de máquinas, ele vai ganhar cerca de R$ 1,9 mil por mês, um salário bem menor do que obtido nos seus últimos três empregos, onde ocupou a vaga de líder de produção. Nesse cargo, chegou a receber R$ 3 mil, depois o salário recuou para R$ 2,8 mil no emprego seguinte e R$ 2 mil no outro. Meu salário diminuiu, mas estava precisando e o que apareceu eu peguei.
A decisão de Santos de aceitar ganhar menos foi captada pelo portal de carreiras Vagas.com.br que mostra que, neste ano, os temporários estão dispostos a receber R$ 1.445 por mês, ante R$ 1.620 no ano passado.
Apesar do salário menor, o operador de máquinas está animado com a vaga temporária. Se eu desempenhar bem, quem sabe eles não me efetivam ou prorrogam o meu contrato? Santos acredita que a tendência das empresas é usar cada vez mais terceirizados.
Fonte: O Estado de São Paulo