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O risco de ter um diretor olhando só para o risco

Ter um executivo liderando uma área de gestão de riscos em bancos é uma tentativa de mitigar o comportamento de alto risco das instituições financeiras. Mas um estudo que analisou a presença desses profissionais em grandes bancos americanos no período anterior à crise de 2008 sugere que ela pode ter gerado o efeito contrário.

O estudo de professores da Universidade de Harvard, Toronto e Illinois analisou operações de derivativos nos 157 maiores bancos americanos entre 1995 e 2010. Os pesquisadores identificaram que, após a nomeação de um “chief risk officer”, bancos passaram a usar com mais frequência os tipos de derivativos considerados mais arriscados, como os de crédito (“credit default swaps”) ou os negociados no mercado de balcão.

Em média, a presença de um executivo de risco aumentou em 664% as chances do banco negociar derivativos de crédito, em 247% o uso de derivativos de balcão e em 169% os contratos de Swap. O JP Morgan, por exemplo, negociou US$ 366 milhões em derivativos de crédito em 2002, ano em que criou o cargo de “chief risk officer”. Em 2008, esse número havia subido para US$ 8 bilhões.

Os pesquisadores sugerem que a presença de um executivo dedicado a mitigar riscos pode ter feito com que os operadores do banco “baixassem a guarda” e se policiassem menos quanto a isso, uma vez que a criação do cargo sinalizou que isso era função daquela área.

Kim Pernell, uma das autoras do estudo e professora da Universidade de Toronto, conta que a profissão de gestão de risco surgiu nos EUA como uma forma de auxiliar os bancos a mitigar riscos e a evitar crises nos anos 80. Com a estabilização da economia nos anos 90, contudo, eles perderam espaço nas instituições. “Eles se reinventaram e, para demonstrar o valor da área para os bancos, passaram a enfatizar a habilidade de maximizar o retorno ajustado ao risco e aumentar os lucros”, diz Kim.

O estudo aponta que a motivação para os bancos designarem executivos da área não foi o medo da exposição maior ao risco, mas mudanças regulatórias promovidas pelo governo no início dos anos 2000. “Muitos bancos responderam a essas leis promovendo seus especialistas em risco para o alto escalão, para mostrar que estavam em conformidade com a lei”, afirma.

Fonte: Valor

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