Novos destinos europeus tentam atrair turista brasileiro gastador
Dados da Organização Mundial do Turismo, da ONU, apontam que os turistas brasileiros aumentaram em cerca de 30% seus gastos no exterior entre 2010 e 2011, de US$ 16,4 bilhões para US$ 21,2 bilhões. Com isso, o país passou do 18º para o 11º no ranking dos turistas que mais gastam em viagens internacionais.
A República Tcheca “descobriu” o valor do turista brasileiro em 2006, quando viajantes à Copa do Mundo da Alemanha fizeram uma “esticada” em Praga. No ano seguinte, o país do Leste Europeu abriu um escritório turístico latino-americano para promover campanhas de marketing que atraíssem os viajantes da região.
“De lá para cá, os resultados foram crescentes em todos os anos”, disse à BBC Brasil Luiz Fernando Destro, representante em São Paulo do escritório turístico da República Tcheca. “O país recebeu 43 mil turistas brasileiros em 2011, contra 11 mil em 2007.”
O mais interessante para os tchecos, porém, não é o número de turistas, e sim o quanto eles gastam.
“Os turistas brasileiros representam apenas 0,5% do total que visitam a República Tcheca, mas seu gasto per capita diário é o terceiro maior no país, só perdendo para o dos turistas da Rússia e do Japão”, afirmou Destro.
“Percebeu-se que é um turista que dá lucro. Afinal, se você vai viajar 11 horas, vai querer ficar vários dias no país, vai querer um bom hotel, fazer compras e ver bons espetáculos.”
A Dinamarca e a Hungria são outros países que, mesmo sem voos diretos, despertaram recentemente para o turista brasileiro.
Segundo a Organização Mundial do Turismo, os gastos dos turistas brasileiros no exterior cresceram de US$ 16,4 bi em 2010 para US$ 21,2 bi em 2011;
Com isso, o país passou do 18º para o 11º no ranking dos turistas que mais gastam em viagens internacionais;
Os gastos brasileiros no exterior bateram recorde no primeiro trimestre de 2012, segundo o Banco Central: somaram US$ 5,38 bilhões (R$ 10 bilhões);
No entanto, em março, os gastos foram menores do que os registrados no mesmo mês em 2011;
Os gastos brasileiros em turismo de negócios devem crescer 13% em 2012 e 15,7% em 2013, prevê a Global Business Travel Association;
De olho nesses números, os EUA recentemente anunciaram medidas para facilitar a obtenção de vistos americanos por brasileiros
Nos dois últimos anos, os escritórios turísticos dinamarquês e húngaro deram início a campanhas de marketing no Brasil, focando em feiras setoriais e agentes de viagens.
Entre março de 2011 e 2012, 33 mil brasileiros visitaram a Dinamarca (entre viajantes aéreos e participantes de cruzeiros), crescimento de 30% em relação ao mesmo período um ano antes, informou Nikolas Mortensen, do escritório de turismo do governo dinamarquês.
“Todos os países emergentes estão no nosso radar, por seu potencial”, disse Mortensen, explicando que a Dinamarca pensa, no futuro, em manter um agente turístico fixo no Brasil, função que já existe na Rússia, por exemplo.
Quanto aos gastos brasileiros na Dinamarca, porém, Mortensen é mais cauteloso: “Depende de com quem você compara o turista brasileiro. Muitos estão em cruzeiros e passam apenas um ou poucos dias em Copenhague. Já o turista alemão muitas vezes aluga uma casa e passa uma temporada aqui”.
A Hungria não tem números consolidados, mas também afirma que o número de visitantes brasileiros está crescendo.
“Até pouco tempo atrás, não fazíamos nenhuma ação proativa. O Brasil e a América do Sul eram lugares distantes, não víamos motivos. Mas agora vemos”, afirma Kristina Bacsak, da agência oficial de turismo húngara.
Ela explica que o objetivo é convencer o turista que faz o tradicional tour Viena-Budapeste-Praga a passar uns dias a mais na Hungria e, obviamente, a deixar seus reais em festivais culturais, atrações gastronômicas e até na Fórmula 1.
“É um turista que tende a gastar bastante, por estar interessado em serviços de qualidade, boa gastronomia e compras”, agrega.
Outro indicativo do interesse pelo turista brasileiro é um convênio assinado pela Comissão Europeia e pelo Itamaraty em outubro passado, para incentivar o turismo entre a América do Sul e a Europa.
A iniciativa, chamada “50.000 Tourists”, prevê convênios com agências de turismo, companhias aéreas e governos para “desenvolver o fluxo turístico, usando o espaço vago nas aeronaves e nos hotéis durante a baixa estação”, diz o acordo, com o envio de 25 mil turistas de cada continente ao outro. O Brasil é destacado como um dos focos principais.
A iniciativa tem entre signatários países tradicionalmente visitados, como França e Espanha, mas também destinos ainda pouco procurados por brasileiros, como Polônia e Lituânia.
Mas alguns países europeus, como Irlanda e Polônia, dizem não ter verba para investir individualmente em novos mercados e preferem concentrar seu marketing em países vizinhos, de onde saem a maioria de seus visitantes.
No entanto, um economista citado em reportagem do jornal Irish Times criticou a falta de investimentos irlandeses na atração de turistas brasileiros, alegando que é preciso despertar para esse mercado antes que ele amadureça completamente.
Fonte: bbc.uk.co