No varejo, há sinais para uma recuperação
A perspectiva do início de alguma recuperação no consumo em 2017 deve, pelo menos, estancar as perdas que o varejo acumulou nos últimos dois anos. E pode preparar o terreno para o aumento dos investimentos do setor a partir de 2018.
Para Alberto Serrentino, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), “a boa notícia é que já existem alguns setores dando sinais de que há espaço para uma recuperação, se a estabilidade política e a agenda de equilíbrio fiscal avançar. O setor de alimentos no varejo já está no positivo e algumas varejistas de eletrônicos tiveram um melhor terceiro trimestre”.
Há expectativa de que o volume de vendas registre estabilidade ou expansão de um dígito no próximo ano, segundo consultores e entidades do comércio – em parte, devido a uma fraca base de comparação em 2016. O Santander estima alta de 1% no volume de vendas em 2017. O banco Bradesco prevê estabilidade em relação a 2016. Já a FecomercioSP projeta alta da receita real do varejo no país de 2%.
Para efeito de comparação, no ano passado, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, o setor encolheu 4,3%. Neste ano, até outubro, a redução já atingiu 6,7%, em volume de vendas – ou seja, retração em cima de retração. Bancos e federações do setor estimam queda acumulada entre 5,5% e 6,5% em 2016.
Apesar da melhora prevista em 2017, o país não deve voltar para a mesma base de vendas registrada em 2014, último ano de crescimento do comércio no país, quando o setor se expandiu 2,2%, segundo o IBGE. Mas, pelo menos, as vendas do varejo devem parar de cair.
“Há um efeito positivo da base de comparação menor e, ao mesmo tempo, deve haver um lento retorno do consumidor às lojas. É algo que deve ganhar fôlego maior no segundo semestre, e de forma gradual, porque não há nada que indique melhora vigorosa em renda e emprego. E o varejo é altamente dependente desses indicadores”, diz Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP.
“A perspectiva para 2017 é que o varejo finalmente cresça, mas isso só será possível se o Banco Central intensificar o ciclo de queda dos juros, o que, aliás, já deveria ter sido feito”, afirma Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo.
O processo de fechamento de lojas, verificado nos dois últimos anos, não será totalmente interrompido, mas deve perder força. Boa parte dessa “limpeza” da base de lojas concentrou-se entre o segundo semestre de 2015 e o primeiro semestre de 2016.
Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 99 mil lojas foram fechadas em 2015 e, no primeiro semestre de 2016, a soma atingiu 67,8 mil pontos de venda. A CNC não faz estimativas para fechamentos no acumulado de 2016 e deve divulgar os dados deste ano no início de 2017.
“Não dá para falarmos em ano de quebradeira em 2017. As empresas fizeram a lição de casa e iniciaremos o ano com uma estrutura mais preparada para um cenário de estabilidade nas vendas no primeiro semestre e algum crescimento no segundo semestre”, disse Serrentino.
Com leve melhora na receita e com despesas operacionais menores, o mercado considera possível alcançar certa melhora de lucro operacional ou redução de prejuízo. Eventuais aumentos de demanda devem acontecer em um cenário de maior controle de gastos.
Fonte: Valor