MulherNotícias

Mulheres relatam violência no campo, agravada pelo isolamento

O Brasil teve mais de 30 mil denúncias de violência doméstica no campo em 2022, segundo levantamento exclusivo do g1. Apesar disso, poucas mulheres têm coragem de denunciar os seus parceiros pelo crime.

Ivany Schultz Reichardt, moradora de Teófilo Otoni (MG), passou boa parte de sua vida em estado de violência, mas conseguiu sair desse ciclo e denunciar seu marido e seu próprio irmão, que também a agredia. “Foram 16 anos acordando e dormindo sendo agredida. Hoje acabou. Não sou mais aquela mulher sofrida”, relata.

Além da agressão física, há outros tipos: psicológica, financeira, sexual, moral e patrimonial.

A professora rural Luzia Dercília Costa, de Rio Branco (AC), foi uma das mulheres vítimas de violência psicológica, financeira, moral e patrimonial. O ex-marido a expulsou de casa para ficar com outra mulher, não dividiu os bens corretamente e ainda ameaçou a matar. “A gente acha que é uma discussão normal de casal, então vai sempre perdoando. Mas aí chegou um tempo que eu achei que deveria procurar uma proteção, a partir do momento que ele me ameaçou”, conta.

O mesmo tipo de violência aconteceu com a produtora rural Helena José Gomes, de João Pinheiro (MG). Ela vivia em isolamento. O companheiro não permitia que ela convivesse com outras pessoas, nem mesmo uma filha já adulta de um relacionamento anterior. A produtora também não podia ter redes sociais ou até um celular.

Ao se separarem, ele não quis dividir os bens. ‘É tudo novo para mim, é como se eu tivesse saído da cadeia. Depois que eu me separei desse indivíduo, a minha vida é outra. Hoje eu sinto alegria, eu sinto prazer”.

Ivany estava grávida quando sofreu a primeira agressão do ex-marido, no final dos anos 80. “Ele correu atrás de mim e eu fui por um rio. Quando entrei no rio, minha perna não alcançou e eu caí de cabeça pra baixo, e ele ficou em cima de mim me espancando”, lembra.

Em um dos episódios mais dramáticos, o ex-marido a agrediu com uma enxada. O golpe chegou a afundar a cabeça do filho recém-nascido que Ivany segurava nos braços. A partir daquele momento foram mais de 10 horas de terror até ela conseguir ajuda.

O marido a trancou no quarto com medo de ser descoberto, mas Ivany conseguiu fugir pela janela com o filho. Apenas no dia seguinte a criança foi operada e hoje vive sem sequelas. “Passei a noite velando o meu filho”, relata. “Quando eu cheguei, meu filho estava com o rostinho todo azul, mas respirava”, completa.

Depois de denunciar o marido, as agressões eram feitas pelo seu irmão. “Ele me ameaçava com facão, me pisoteava com cavalo”, lembra.

Em 2018, Ivany ganhou forças para denunciar o irmão, uma decisão que contrariou toda a sua família. “Quero deixar um recado para as mulheres das zonas rurais não se calarem”, diz.

Ser ameaçada com uma arma foi o estopim para Luzia decidir terminar a relação, que durou 8 anos. Na época, ela morava em uma área de floresta em Bujari, a cerca de 51 km da capital do Acre.

Quando ele arranjou uma amante, começou a ficar ciumento e a ameaçar Luzia. O companheiro saía de casa com uma faca na mochila, dizendo que iria matá-la se descobrisse que tinha outro homem.

Em outra ocasião, ele colocou uma arma em cima da mesa, repetindo o discurso. Quando o ex-marido resolveu assumir a sua amante, a expulsou de casa, colocou seus bens na estrada e trocou a fechadura.

Foi o que motivou a professora a ir à delegacia pela primeira vez. Sem serviços de segurança próximos, a professora rural precisou esperar o dia seguinte, pois precisava fretar um transporte.

Apesar de o marido já ter a propriedade quando se casaram, Luzia investia seu salário na produção da família. Ainda assim, o marido vendeu parte das cabeças de gado e repassou um valor inferior a ela.

Com medo de ele preparar alguma emboscada em meio à mata, a professora decidiu deixar a zona rural e se mudar para Rio Branco, onde dá aulas hoje.  

Fonte: NULL

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?