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Mulheres ganham espaço com troca de cadeiras em conselhos

Sempre que fala em eventos internos da companhia, Karen Witts recebe uma resposta de mulheres da plateia contentes por verem uma executiva experiente em posição de alta visibilidade. “As pessoas procuram modelos e uma vez que elas percebem que não há uma barreira à ascensão, sentem-se encorajadas a serem um pouco mais ambiciosas”, afirma ela.
Como diretora financeira da BT Retail e diretora-gerente da divisão empresas, Witts tem suas próprias grandes ambições – ela gostaria de um dia se tornar presidente-executiva. No momento, porém, ela quer ampliar seu conhecimento e contribuir mais com sua experiência comandando a diretoria em um conselho de uma companhia de tamanho significativo.
A crise econômica, espera ela, poderá ser o catalisador. “A situação econômica está criando uma certa rotatividade nos conselhos”, diz ela. “Vejo as mesmas pessoas sendo nomeadas o tempo todo. Acho que em breve as companhias terão de cavar um pouco mais fundo. Só assim poderão diversificar a maneira de pensar e conseguir a experiência que precisam para seus conselhos.”
Witts é uma das 50 candidatas mulheres que participarem de um evento pouco comum em Londres. Elas se reuniram com 20 diretores e presidentes de conselho de companhias influentes e firmas de private equity. O evento, um conceito importado da Noruega pelo Professional Boards Forum, retrata uma reunião de conselho simulada em que as candidatas têm a oportunidade de expor suas ideias estratégicas, a condução de questões envolvendo a governança corporativa e habilidades financeiras.
A executiva está nos estágios iniciais de sua busca por um cargo de diretora não-executiva e está sendo paciente porque “é um próximo passo realmente importante”. Com uma forte experiência financeira e tendo anteriormente ocupado o cargo de diretora-administrativa na Openreach, uma operação de rede local da BT, ela diz: “Acredito que a minha bagagem é bem incomum. Trago o que aprendi na área financeira e também na operacional.”
A presença de alto nível no evento demonstra a seriedade com que um número crescente de presidentes de conselhos aproveitam a necessidade de um maior equilíbrio entre os sexos nos conselhos. As mulheres ainda ocupam menos de 12% dos cargos de diretoria nas empresas que fazem parte do índice FTSE 100, algo muito distante dos mais de 40% registrados nas grandes companhias da Noruega, o único país a ter imposto cotas para os conselhos.
No Reino Unido, as mulheres representaram apenas 11,6% das nomeações para cargos nos conselhos da empresas que fazem parte do índice FTSE 100 no último ano, segundo números fornecidos ao Professional Boards Forum pela BoardEx, um dos patrocinadores do evento. Apenas 6,6% dos diretores não-executivos de companhias abertas do Reino Unido são mulheres. Mas Greg Wood, um dos fundadores da BoardEx, diz que seu banco de dados inclui 12 mil “executivas altamente capazes com muita coisa a oferecer e que atualmente ocupam posições executivas em organizações globalizadas, mas que ainda não ocuparam seu primeiro cargo não executivo.”
Elin Hurvenes, fundadora norueguesa do Professional Boards Forum, e sua sócia britânica Jane Scott vêem o ritmo lento da mudança como um desafio e também uma oportunidade. “A julgar pelo nível de interesse de presidentes de conselho experientes e destacados do Reino Unido, atingimos um ponto nevrálgico”, diz Hurvenes.
Na Noruega, ela apresentou cerca de mil mulheres para diretores e presidentes de conselho, o que resultou diretamente em pelo menos 150 nomeações. “Não existem muitas arenas naturais onde esses dois grupos- os presidentes de conselho e mulheres candidatas de destaque- têm uma oportunidade de se encontrar. Foi isso que desencadeou o Forum na Noruega.”
Na sessão de conselho simulada, as candidatas e os presidentes de conselho discutem um caso baseado em um negócio real. Eles trabalham em grupos de sete ou oito, mudando-se para mesas diferentes em uma segunda rodada. Hurvenes diz que esta é uma boa maneira das mulheres se destacarem. “Pela experiência que tenho, sei que as mulheres não são muito boas em autopromoção. Mas coloque uma tarefa diante de nós e vamos aparecer.”
Roger Carr, presidente do conselho da Centrica e da Cadbury e orador programático do evento, acredita que os conselhos desprovidos de mulheres talentosas saem perdendo. “Ter um conselho misto é invariavelmente melhor do que um conselho apenas masculino”, diz ele. “Ele é mais civilizado, um pouco mais cortês. Encoraja as pessoas a apresentarem opiniões diferentes das apresentadas por aquelas do mesmo sexo ao qual pertencem. Se metade das pessoas que sua empresa atende é formada por mulheres e você não tem nenhuma mulher no conselho para oferecer um ponto de vista, você corre o risco de criar um quadro bastante distorcido.”
Sir Philip Hampton, presidente do conselho de administração do Royal Bank of Scotland (RBS), o banco controlado pelo governo britânico, e presidente do conselho da rede de supermercados J Sainsbury, foi um dos patrocinadores do evento. Assim como Carr, Sir Philip faz parte do FTSE 100 Cross-Company Mentoring Programme, no qual presidentes de conselho atuam como mentores de mulheres experientes em outras companhias, com o objetivo de ajudar a acabar com o desequilíbrio entre os sexos nos conselhos de administração.
Ele concorda que a crise econômica pode ser uma oportunidade para rostos novos, embora ele não vislumbre uma revolução da noite para o dia. “Há muitas reputações manchadas, especialmente no setor de serviços financeiros, e no geral são reputações masculinas”, diz.
As candidatas convidadas para o evento são mulheres que ocupam posições graduadas em empresas do setor privado, acadêmico, serviços profissionais, mídia e do mundo das organizações sem fins lucrativos. Cerca de um quarto delas são diretoras não-executivas. As idades variam de 36 a 60 anos, e meia dúzia delas são de outros países, como a França, Noruega, Canadá e Estados Unidos.
“Queremos aumentar o grupo o máximo que pudermos”, diz Scott. “Nosso desafio é demonstrar que as mulheres com currículos não-tradicionais – que nunca estiveram em conselhos ou foram presidentes-executivas – possam ser diretoras não-executivas realmente eficientes.”
Caroline Goodall, diretora de fusões e aquisições da Herbert Smith, uma firma de advocacia, é outra que foi convidada. Ela foi a primeira mulher a liderar, como sócia, a prática corporativa de uma grande firma de advocacia da City de Londres. Ela possui ampla experiência internacional, participou do conselho diretivo do Newnham College de Cambridge, e faz parte do comitê de empresas da CBI, uma organização patronal do Reino Unido.
Com cinquenta e poucos anos, Caroline está planejando uma segunda carreira como diretora de conselhos corporativos e está ocupada conversando com caçadores de talentos e outros contatos, além de participar de conferências na City. Ela elogia os líderes empresariais do sexo masculino “esclarecidos” o bastante para apresentarem oportunidades para as mulheres qualificadas.
“É importante que os conselhos funcionem de maneira eficiente”, diz ela. “Acho que alguns presidentes de conselho e comitês de nomeações sentem que existe um risco menor de se ter um board disfuncional quando as pessoas vêm de experiências muito parecidas, mas isso é confundir uniformidade com unidade. É preciso ter perspectivas diferentes e pessoas fazendo perguntas de ângulos diferentes. Isso melhora a qualidade das tomadas de decisões.”

Fonte: Valor

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