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Motorista de Uber ganha apólice feita sob medida

Novos hábitos de locomoção e de convivência que começam a ganhar espaço na sociedade brasileira, como o transporte de pessoas em “taxis” alternativos, tipo Uber, e o compartilhamento de veículos e residências, além do fenômeno da bicicleta nos grandes centros, começam a virar realidade também para o mercado segurador. Grandes companhias, como a Tokio Marine e a Porto Seguro, desenvolvem produtos específicos ou adaptam outros já existentes na busca de viabilizar essas apólices potenciais que se multiplicam diariamente.

A Tokio Marine adaptou seu carro-chefe da área de veículos para receber o Uber e, segundo Luiz Padial, diretor da área de automóvel da seguradora, já vendeu cerca de mil apólices para clientes que operam com o aplicativo. De acordo com Padial, a empresa criou uma subcategoria de apólices denominada “transporte de pessoas por aplicativo” dentro do seu produto tradicional para seguro auto contendo algumas perguntas específicas ao cliente potencial, sendo a principal delas se ele utiliza seu veículo para transporte por aplicativo.

“Com certeza, essa é uma tendência e um grande desafio para o mercado securitário”, disse Padial referindo-se não apenas ao novo formato do transporte de passageiros, mas ao compartilhamento nos seus diversos formatos. Especificamente quanto ao Uber, ele disse que a empresa vem recebendo muitos questionamentos por parte dos corretores e já vinha desenvolvendo estudos há algum tempo que desaguaram no produto formatado a partir de novembro.

“O mercado segurador, principalmente em auto e residência, está pronto a aceitar e atender rapidamente as mudanças de hábito da sociedade”, afirma Luiz Pomarole, vice-presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) e diretor da Porto Seguro. Segundo ele, “por obrigação”, as seguradoras só não podem assegurar produtos que sejam utilizados de forma ilegal.

Em relação ao Uber e seus similares, que operam amparados pela Justiça e que, no caso de São Paulo pelo menos, estão em fase avançada do processo de formalização, a tendência, segundo Poparole, é trata-los como um uso “part-time” (menos horas por dia ou por semana), exigindo claramente na apólice que eles os proprietários expressem essa característica. Segundo ele, respeitadas essas características, a Porto Seguro, por exemplo, tem feito a apólice sem problema.

De acordo com o executivo, o mercado ainda está em avaliação para saber se esse uso parcial do veículo agrava o risco incidente sobre ele para que esse eventual aumento possa ser precificado. “Em seguro a gente precisa de pelo menos um ano de estatísticas para fazer um cálculo”, ponderou. Se ficar provado que a sinistralidade aumenta, a tendência é que seja feita uma apólice diferenciada, mais cara do que a do veículo de uso estritamente particular, como já ocorre com os taxis convencionais.

Sobre os veículos simplesmente compartilhados por famílias ou indivíduos, embora seja uma atividade crescente, as demandas por seguro ainda começam a chegar de forma tímida ao mercado. Padial, da Tokio Marine, disse que a empresa recebeu uma demanda de empresa criada para fazer esse tipo de locação, mas ela ainda não faz mais do que cem locações por mês o que tona difícil estruturar um produto, uma vez que será necessário definir prêmios diários, semelhante ao que fazem as grandes locadoras do mercado nos seus auto-seguros.

Outra forma de compartilhamento que tem chegado ao mercado, de acordo com Pomarole, da FenSeg, é por intermédio de condomínios. As pessoas deixam de ter carros próprios e usam em sistema de rodízio veículos de propriedade do condomínio. Embora o número de condutores cresça, o executivo disse que ainda é difícil dizer se o prêmio cobrado será ais caro.

“O preço é uma equação que inclui o número de condutores mais o quanto o veículo roda”, explicou, ressaltando que o carro de um vendedor, por exemplo, pode rodar muito mais do que um veículo de um condomínio compartilhado por várias pessoas que o utilizam apenas em trajetos específicos. Ele lembrou também que, como se trata de uma cotização, mesmo que a apólice fique mais cara do que a particular, no rateio o custo será bem menor para cada indivíduo.

O vice-presidente da FenSeg não vê problema em relação ao seguro de residências compartilhadas, destacando que o aumento do número de moradores não tem, a princípio, impacto sobre os riscos. Os principais riscos nas moradias são os de roubo e de incêndio. O de roubo, Pomarole acredita que fica até reduzido com o aumento do número de moradores. Já o de incêndio ainda carece de avaliação.

O executivo disse ainda que muitas seguradoras estão oferecendo seguro de bicicletas no pacote da residência, uma vez que, como o furto, principal risco da bicicleta, geralmente não tem registro, dificultando o rastreamento, fica mais difícil fazer a apólice exclusivamente do veículo.

Para Henrique Brandão, presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado do Rio de Janeiro (Sincor-RJ), o mercado brasileiro é lento para assimilar novidades. “Temos que encontrar uma forma de atender à sociedade”, ressaltou. Segundo ele, há também o fato de que o seguro no Brasil é caro por vários motivos, destacando a carga tributária e o pequeno volume de apólices feitas.

Apenas 30% da frota de veículos e 12% das residências são segurados, segundo dados do mercado. Para o consultor de seguros Neival Freitas, a recessão vem agravando ainda mais os baixos índices históricos de seguros e essas novidades que estão surgindo podem ajudar na recuperação do setor. Segundo ele, em recente reunião setorial já se falou de seguro de taxis sem motoristas, novidade que estaria para ser testada nos EUA em 2017.

Fonte: Valor

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