Mercado torce por continuidade de reformas
Michel Temer é o presidente da República até decisão em contrário. O “candidato” preferencial de profissionais do mercado financeiro é Henrique Meirelles, ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). A preferência por Meirelles tem sobretudo o seu comprometimento com as reformas estruturais como justificativa.
O Valor consultou seis profissionais. Um deles, gestor de investimentos, vê torcida pela saída de Michel Temer do governo por considerar que a permanência do presidente – que ocupa o cargo há um ano – tenderia a fazer um governo fraco, sem força para aprovar a reforma da Previdência. “Ele saindo, teríamos um novo presidente da República e, para ter governabilidade, a base aliada tenderia a ser mais coesa [condição que viabilizaria a aprovação das reformas]”, afirma.
Questionado sobre um “candidato” alternativo ao atual ministro da Fazenda, o experiente gestor citou: “Tasso Jereissati, Pedro Parente, Nelson Jobim”. A respeito de Jobim, esse interlocutor lembrou que “ele tem a questão do BTG”.
Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa e da Justiça e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), tornou-se sócio do banco BTG Pactual e membro do conselho de administração do banco em meados de 2016.
Outros dois profissionais, também da área de gestão de recursos, consultados sobre a perspectiva, a necessidade ou o risco de ocorrer uma mudança na presidência da República em função da saída de Temer, veem Henrique Meirelles como o “sucessor” ideal. Contudo, esses profissionais entendem que não há qualquer garantia que o titular da pasta da Fazenda seria o sucessor.
O quarto entrevistado, vice-presidente de uma instituição com importante presença no mercado de derivativos, diz: “Não tem torcida para Michel Temer cair. Tem torcida sim para uma solução e que as coisas voltem a andar. O desejo é que a agenda de reformas seja mantida. Não fosse isso, ninguém estaria nem aí…”, afirma.
Esse profissional acrescenta que o mercado não torce pela saída de Temer, principalmente, depois da informação de que os áudios foram adulterados. “Se for necessário que Temer deixe a presidência, que seja. Esse me parece ser o sentimento do mercado”.
Uma quinta fonte, quando questionada se há torcida para a saída de Temer, lembrou que seria necessário fazer uma pesquisa de opinião para afirmar que a maioria dos profissionais do mercado financeiro tem essa posição. “O que mercado está fazendo é esperar”, afirma.
Esse mesmo interlocutor comenta que não dá para prever se o atual ministro da Fazenda seria um candidato ao posto. “Não se sabe qual saída está sendo costurada para essa crise. O medo do ´Fica Temer´ é parar de vez a agenda de reformas… o barco estaria no rumo certo, mas parado.”
O tesoureiro de um banco nacional avalia que o Congresso tem duas opções e ambas seriam boas para o mercado: “Seguir com as reformas mesmo com um Temer fraco ou fazer a eleição indireta com um nome de credibilidade e sem envolvimento com Lava-Jato e afins.”
Em tempo: não se deve desprezar que existem otimistas, que não torcem nem para A nem para B no comando da República, e veem que o momento é uma boa oportunidade para a compra de alguns ativos financeiros. Além disso, avalia esse grupo, a queda da inflação e do juro vai continuar, mesmo que em ritmo mais lento, fora que o impacto da crise sobre o crescimento econômico tem viés desinflacionário e, portanto, absorve algum impacto da alta do dólar nos preços.
Fonte: Valor