Mercado no divã
O sentimento é de que um salão que já foi reluzente, com um ambiente festivo e cheio de convidados, está com menos luz, música baixa se repetindo ao fundo e as portas entreabertas. Muita gente já deixou a festa. Em meio a humores extremos daquele que ainda é quem lidera o vaivém de convidados, o estrangeiro, outros acabam desistindo de participar.
A crise global que tem seu epicentro atual na Europa se agravou nos últimos anos e assume contornos quase crônicos. O fluxo de recursos vem consolidando um comportamento que reflete de maneira bipolar pequenas notícias de curtíssimo prazo, cada vez menos apegado aos reais fundamentos de um horizonte maior, vitimando de forma alternada as bolsas ao redor do mundo, ora com o abraço do urso expressão adotada pelos americanos para falar do mercado em baixa , ora com a chifrada do touro, que joga os ativos para cima e simboliza a alta. O Brasil, que primeiro havia sido elevado às alturas como uma história exemplar de reversão dos efeitos da primeira fase aguda da crise, em 2009 e 2010, passou a ser alvo de críticas ao intervencionismo estatal nas companhias até ser oficialmente retirado do posto de queridinho dos estrangeiros em meados do primeiro semestre, após revisões drásticas para o crescimento da economia em 2012, projetado agora em menos de 2%.
Esta conjuntura surge justamente quando o país está em meio a uma emblemática mudança estrutural, com a consolidação de taxas de juros de um dígito, o que tende a tornar o mercado de ações mais atraente. Este seria um apelo ao bolso do investidor individual, que, no entanto, ainda não foi atraído.
Fonte: Valor