Manterrupting: desvendando o termo comportamental ao interromper a fala de uma mulher
Em uma reunião de fechamento como outra qualquer, Cláudia se prepara para apresentar seus números e análise aos colegas de trabalho. Inicia sua fala. É interrompida por um colega. Recomeça. É novamente interrompida, agora pelo diretor. Cláudia respira fundo e aumenta o tom de voz na intenção de voltarem o foco para sua apresentação. Mas, permanecem os devaneios e pitacos dos colegas, em sua maioria, homens.
Uma sexta de happy hour, o assunto permeia para política e mercado financeiro. Os colegas da Cláudia, os mesmos da reunião do outro dia, pressupõem sua fala. Presumem sua intenção e a interrompem cada vez que ela busca expor sua opinião.
Você, mulher, se identificou em alguma das situações acima? Vivenciou ou presenciou alguma outra mulher com esse contexto?
Quando um homem interrompe constantemente uma mulher, de maneira desnecessária, não permitindo que ela consiga concluir sua frase, é utilizado, desde 2015, o termo comportamental Manterrupting. A palavra é uma junção de “man” (homem) e “interrupting” (interrupção) e, em tradução livre, quer dizer “homens que interrompem”.
A classificação para interrupções dessa característica surgiu com o artigo escrito por Sheryl Sandberg, chefe de Operações do Facebook, e Adam Grant, professor da escola de negócios da University of Pennsylvania. “Speaking while Female, and at a Disadvantage” (Falando enquanto Mulher, e em Desvantagem), publicado no “The New York Times”, cita um estudo de psicólogos de Yale (EUA) que mostra como senadoras americanas se pronunciam significativamente menos que seus colegas homens, de posições inferiores.
Em 2014, Adrienne B. Hancock liderou um estudo na Universidade de George Washington (EUA), segundo o qual as mulheres são duas vezes mais interrompidas que homens em conversas neutras. A pesquisa focada na comunicação e gênero, utilizou 40 pessoas – 20 homens e 20 mulheres – e estimulou conversas aleatórias, de mulheres com mulheres, de homens com mulheres, de homens com homens.
A pesquisa constatou que mulheres foram 2,1 vezes mais interrompidas que homens em conversas de três minutos. De forma peculiar, o estudo revelou que mulheres também são mais interrompidas por outras mulheres quando falavam com uma outra interlocutora. Elas interrompiam até 2,9 vezes. Mas, mulheres só interrompiam homens em média, 1 vez.
A pesquisa de Adrienne Hancock teve como base conversas livres e neutras. No entanto, o cientista político e pesquisador Christopher Karpowitz, da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, identificou que as mulheres além de serem interrompidas, falam menos no mundo corporativo. Os estudos apesar de serem extremamente sólidos e importantes, não trouxeram uma causa raiz para o comportamento.
Alguns estudos indicam que, por trás da interrupção das mulheres e da timidez na exposição do seu posicionamento, há questões sociais. Deborah Tannen, autora de You Just Don’t Understand: Women and Men in Conversation (Você Não Entende: Mulheres e Homens em Conversação em tradução livre), afirma que homens “tendem a falar para atingir um poder ou um status”, enquanto as mulheres buscam criar conexão e escuta ativa.
Recentemente, alguns episódios caracterizaram o Manterrupting no qual as mulheres são expostas. Em 2016, Hillary Clinton foi interrompida 51 vezes por Donald Trump, em embate presidencial durante seu tempo de fala. Ano passado, também ligado a assuntos políticos, a comentarista e mestre em direito penal Gabriela Prioli, em debate no programa CNN Brasil, foi interrompida e teve suas falas atropeladas diversas vezes por seus colegas, o que desencadeou seu pedido de demissão e larga repercussão nas redes sociais. Algum tempo depois, a CNN Brasil, em forma de desculpas, separou a comentarista em um programa com maior relevância e autonomia.
A melhor maneira de lidar com o Manterrupting, a partir do seu reconhecimento, é continuar falando, empoderada em seu discurso, até que a outra parte se cale. Algumas técnicas como colocar os cotovelos sob a mesa ou fazer a posição da mulher maravilha (peitoral estufado e mãos na cintura), inibem as interrupções.
Acredito que quanto mais falado e persuadido esse tipo de comportamento, mais rapidamente sairemos da zona nebulosa e dos vícios sociais a nós impostos. E o mais importante, ajudaremos a construir uma nova geração de mulheres que não terão receio de se expor e exercer o seu poder de fala! Avante, Mulheres!

Camila Feriani
Head de Varejo, Alimentos & Bebidas e Agronegócio na THB Corretora e Consultoria de Seguros, contribui para que empresas da sua especialidade tenham o programa de seguros e riscos adequados, respeitando suas particularidades. Com mais de 15 anos de experiência no mercado segurador, atuou como Risk Manager em grandes empresas do varejo nacional e internacional, com operação Latam. Formada em administração com ênfase em Seguros e Previdência pela Escola Nacional de Seguros, cursando MBA em Compliance e Riscos, tem como propósito desmistificar Seguros & Riscos, Carreira & Maternidade!