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Mamãe Noel e suas histórias

Com o fim do ano, vem também a magia de um novo ciclo. No imaginário popular, o Papai Noel desce pela chaminé com presentes. Mas, vamos lá, sou pelas mulheres, então por que não lançar a Mamãe Noel?

Quem é essa Mamãe Noel? Ela não está na lareira; ela está em vários lugares ao mesmo tempo: cuida, organiza, faz home office, participa de reuniões de diretoria, dá conta de filhos e dos pais – a tal geração sanduíche..

Fato é que a Mamãe Noel de 2025 carrega desafios pesados: a sobrecarga da dupla jornada elevada à tripla potência (família, carreira, self-care); a eterna luta pelo salário equitativo; e o cansaço de ser a guardiã emocional de todos. A pandemia nos ensinou que as mulheres são o “amortecedor social” – absorvemos o caos para que o mundo continue girando. E como conseguir dar conta do quase impossível?

Eu já separei minha roupa de Mamãe Noel para lavar e estar pronta para sair por aí distribuindo carinho e inspirando os sonhos. Enquanto isso, vou refletir sobre como sobreviver na luta diária (apesar de parecer simples com os filhos já adultos).

E o que pedir para a Mamãe Noel? Mais lugares estratégicos para as mulheres, mais relevância, mais sororidade efetiva.

E você, qual é a expectativa real que você carrega na sua mochila (profissional ou pessoal) que você precisa, urgentemente, desempacotar e colocar em prática em 2026?

Os desafios em pauta para a mulher de 2026

O novo ano não será simples, mas será nosso se soubermos onde focar a luta. Mas o que quero dizer com luta? É assumir as forças que temos e combater preconceitos, problemas do dia a dia e desafios que nos colocam à prova.

Como, por exemplo:

O gás da arrogância (gaslighting sistêmico)

Já conhecemos o gaslighting, abuso de poder que faz com que a vítima duvide de sua própria sanidade. No ambiente corporativo, ele é estrutural.

Agora como é o gaslighting estratégico? Quando uma mulher aponta o viés de gênero ou o assédio moral, ela é frequentemente rotulada como emocional, hipersensível ou agressiva”. Isso é gaslighting estratégico para silenciá-la.

Ana Maria Machado, escritora, nos lembra que a realidade é nossa: “As palavras têm asas, mas a gente pode cortar as asas das palavras que nos fazem mal.”

Reflita comigo:

Em que situação sua intuição (seu “feeling”) lhe disse que algo estava errado, mas você se calou por medo de ser chamada de “emocional, frágil ou agressiva”? O que você fará para validar essa intuição em 2026?

A penalidade da maternidade e a carreira dupla

O trabalho híbrido expôs o mito da “super-mãe”. A mulher continua a ser a gestora principal do lar, e isso impacta diretamente o seu desempenho. O delay de carreira da mulher versus o bônus de paternidade do homem continua a ser a maior injustiça não remunerada.

O desafio para 2026 não é apenas exigir licença parental estendida; é exigir o retorno do homem para a gestão do lar. E quem exige? Cada uma de nós. Na Holanda, onde morei 9 anos, isso já é uma questão relevante, porque os homens participam com 50% de toda a gestão do lar e dos filhos. Mas aqui no Brasil há um caminho longo a ser percorrido.

Luiza Helena Trajano, com sua visão pragmática, aponta a necessidade de infraestrutura: “Se não tiver a mulherada na base, não tem como ter mulher no topo.” E a base começa na igualdade de tarefas em casa.

Lista de desejos da Mamãe Noel para as mulheres

Vestida com a minha melhor roupa de Mamãe Noel, eu sento e começo a escrever a lista. Essa Mamãe Noel que vos fala não traz presentes embrulhados, mas sim habilidades e liberdades. Este ano, o presente deve ser a capacidade de ação inegociável.

Que presentes eu sugiro para entrar na sua lista de desejos?

Presentes de carreira

  • O que pedir – Não peça para ser incluída; peça o patrocínio ativo (ou seja, o uso do capital político de alguém) para ser promovida e ter sua voz amplificada em reuniões.
  • O desejo – Que cada mulher em posição sênior use seu poder para nomear publicamente uma outra colega que merece a próxima grande oportunidade.

Presentes de saúde mental

  • O que pedir – Peça a liberdade de dizer “Não”. Peça limites claros entre o trabalho e a vida pessoal (o direito à desconexão), combatendo a cultura do burnout.
  • O desejo – Que os líderes e os parceiros entendam que o “tempo livre” da mulher não é “tempo vago” a ser preenchido por mais trabalho ou tarefas domésticas.

Presentes de aliança entre mulheres

  • O que pedir – Não peça apenas “empatia”. Peça a ação de defesa: peça o compromisso de que, na sua ausência, sua colega será sua advogada, combatendo críticas e gaslighting em seu nome.
  • O desejo = Que a competição por escassez dê lugar à aliança estratégica para multiplicar as vagas de poder.

Mude a lista, mude o verbo

Chega de esperar que a mudança venha de cima, do lado, de outro lugar que não seja o lado de dentro. A revolução começa com a nossa lista de pedidos.

Que, neste Natal, o seu presente mais valioso não seja o que você recebe, mas o que você exige e dá ativamente a outra mulher.

Posso deixar algumas ideias minhas para metas de ano novo?

  1. Estabeleça um limite inegociável para a sua carga de trabalho emocional.
  2. Patrocine ativamente uma mulher, nomeando-a para uma promoção que ela não se atreve a pedir ou indique uma mulher como fornecedora, parceira.
  3. Use sua voz para defender a colega que foi silenciada em uma reunião.

Que este novo ano que se inicia seja o da ação, e não apenas o da intenção. É hora de conjugar o verbo agir em todas as formas do presente.

Feliz Natal para todas!

Vera Lorenzo
CEO na Fala Company

Vera Lorenzo é CEO da Fala Company, empresa fundada por ela na Holanda em 1991. É apaixonada por inspirar e transformar pessoas. Formada em Comunicação pela UFRJ e em
Letras pela Universiteit van Amsterdam, Vera é Master Coach e Storyteller. Fala 5 idiomas e é autora do livro "50 coisas para fazer antes dos 50" e co-autora do livro "Mulheres que Transformam".

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