Lucro cai e bancos apostam em tarifas para melhorar resultados
Os bancos brasileiros esperam que a combinação de gastos menores e receitas maiores de prestação de serviços, com cobrança de tarifas, garanta resultado melhor em 2017 do que o alcançado no ano passado. Em 2016, o lucro líquido das dez maiores instituições financeiras do país caiu 21,5%, para R$ 61,6 bilhões, segundo levantamento da Austin Rating.
– A retomada do crédito não é evidente no curto prazo. Não há nada que possa encorajar a tomada de novos empréstimos – explicou Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.
De fato, mesmo com a esperada retomada do crescimento da economia, a expansão do crédito será muito modesta. As projeções apontam para um crescimento do estoque de empréstimo entre 2% e 3%, considerando todo o setor – em 2016, houve contração de 3,5%.
Para Santacreu, os bancos concentrarão suas operações em elevar ganhos de eficiência, ou seja, fazer mais gastando menos. Para isso, agências deverão ser fechadas, gerando demissões.
LUCRO DA CAIXA ENCOLHE 43% EM 2016
Também deve começar a redução das despesas com provisões – uma espécie de reserva para cobrir os gastos com um eventual calote. Em 2016, esse gasto foi de R$ 118,5 bilhões, uma alta de 2,8%. Uma Selic menor também representa um custo de captação menor, compensando o crédito fraco.
Do lado das receitas, os bancos vão buscar mais ganhos na prestação de serviços – como tarifas de conta corrente, cartões e outros produtos que podem ser vendidos ao cliente. As receitas com crédito são as maiores de um banco, mas as com serviços estão crescendo em ritmo muito superior – alta de 9,2% ante queda de 2,8% com os empréstimos.
Em alguns bancos de varejo, como Itaú e Santander, o que se ganha com tarifas já equivale a mais de um terço das receitas de crédito, segundo os dados da Austin. Nas instituições públicas, no entanto, essa relação é menor, mas isso deve mudar. Menos ágeis e, em alguns casos, mais penalizados pela maior exposição a empresas que entraram em recuperação judicial, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal foram os que tiveram as maiores perdas nos lucros. No caso do Banco do Brasil, 44,2%, de acordo com a Austin.
Já a Caixa Econômica informou ontem que, em 2016, teve lucro de R$ 4,1 bilhões, uma queda de 43% em relação ao ano anterior. Para reerguer a rentabilidade, o banco confirmou a estratégia adotada pela concorrência: expandir a participação da prestação de serviços.
– Um dos nossos desafios é aumentar as receitas com serviços em linha com o que os outros bancos fizeram no passado – afirmou Arno Meyer, vicepresidente de Finanças da Caixa.
As receitas com prestação de serviços no banco equivalem a 23,7% do que é gerado pelas operações de crédito. Esse número é inferior ao visto nas instituições privadas. No Itaú, essa relação é de 40,4%; no Bradesco, de 28,5%; e no Santander, de 33,7%. Apesar de buscar mais receitas com tarifas, a Caixa não divulgou suas projeções.
– O nome do jogo é aumentar a rentabilidade do banco após uma fase de forte crescimento do crédito. Precisamos aumentar e melhorar o resultado – disse Meyer.
Em 2016, o retorno sobre o patrimônio da Caixa foi de 6,6%, bem abaixo do índice dos grandes privados (próximo a 20%).
O banco público continua trabalhando para realizar a abertura de capital da área de seguridade e das loterias. No entanto, o presidente da instituição, Gilberto Occhi, afirmou que não depende desses recursos para executar o plano da Caixa para o ano, embora um aporte de recursos do controlador, a União, para continuar crescendo esteja completamento descartado. Apesar da forte queda no lucro, a agência de classificação de risco Moodys avalia que o impacto da recessão nos bancos foi limitado, uma vez que as taxas de inadimplência (atrasos acima de 90 dias) se mantiveram moderadas. O crescimento mais expressivo do crédito, no entanto, afirma, vai demorar.
2%A3% DE ALTA É a projeção para os empréstimos em 2017, ante queda de 3,5% em 2016 R$ 118,5 BILHÕES Foi o total reservado pelos bancos em 2016 para proteção contra calotes
Fonte: O Globo