LGPD: pandemia dificulta controle sobre dados
A adaptação ao trabalho remoto e a corrida pela transformação digital, por conta da pandemia, criaram um novo grau de dificuldade para que as empresas mantenham seus dados seguros, destaca o Valor Econômico. Isso inclui a adaptação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), aprovada pelo Senado e que aguarda a sanção presidencial para entrar em vigor.
“Não devemos nos iludir pensando que tudo fica igual quando o acesso às ‘joias da coroa’, antes restrito a 50 funcionários presencialmente, foi aberto a 5 mil pessoas que estão em casa”, alerta Gil Shwed, criador do firewall e CEO global da empresa segurança de dados Check Point em entrevista ao Valor.
Comparando com o período em que criou a ‘barreira de fogo’ que faz o primeiro controle do que entra e sai de uma rede, Shwed vê um cenário muito mais complexo hoje em dia. “Naquela época, sofrer um ataque seria chato, mas não interromperia as operações da empresa”, lembra o executivo que fundou a Check Point há 27 anos, em seu apartamento, em Tel Aviv. “Hoje, uma empresa precisa de 20 ou 30 tecnologias diferentes para estar no nível mínimo de segurança e não se pode fazer nada quando uma rede está sob ataque. É a diferença entre temer um empurrão de jovens brincando na rua, 25 anos atrás, e agora estar sob a mira de jatos militares”, compara ele.
Em uma pesquisa recente feita pela empresa, o executivo destaca que 40% dos computadores conectados de casa não estão seguros. “Precisamos construir arquiteturas de segurança mais fortes, especialmente de maneira remota”, aconselha Shwed, que prega a prevenção para que as empresas evitem uma “pandemia de ciberataques”.
Para a Check Point, a demanda pela conformidade com a LGPD elevou as vendas no Brasil em 20% desde o fim de 2018. A adequação e a transformação digital apressada devem colaborar com o aumento de 25% nos investimentos das empresas brasileiras em softwares e serviços de segurança em 2020, prevê Francisco Camargo, presidente do conselho da Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes).
Em 2019, segundo dados da consultoria IDC, o Brasil investiu US$ 2,1 bilhões em softwares e serviços de segurança, uma alta de 17,6% sobre 2018. A demanda pela adequação à LGPD deve ser maior entre consultorias jurídica, de tecnologia, e provedores de serviços de segurança, destaca Luciano Ramos, gerente de pesquisa e consultoria na IDC. Camargo nota que as pequenas e médias empresas serão as que mais sofrerão para investir no processo de conformidade. O status de adaptação das grandes companhias, entretanto, não é animador.
Uma pesquisa feita pela IDC com 34 empresas com mais de 500 funcionários, incluindo bancos e operadoras de telecomunicações, mostrou que 36% estavam avançadas nas adequações, 54% tomando algumas medidas e 9% sequer tinham iniciado o processo de conformidade com a LGPD. “Muitos provedores de serviços estão ampliando as ofertas para permitir adequação mais rápida às normas, mas ainda há uma boa jornada a percorrer”, afirma.
Fonte: NULL