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Juros sobem com dúvidas sobre alcance de alívio monetário

Investidores do mercado de renda fixa tiveram ontem um reforço de peso na expectativa de aceleração do ritmo de corte da Selic. O aguardado Relatório Trimestral de Inflação (RTI) endossou o posicionamento dos agentes financeiros no declínio de 1 ponto percentual da meta Selic em abril. Porém, se o RTI consolidou essa aposta, acabou desarmando posições alternativas de um Copom ainda mais agressivo. O resultado foi uma correção para cima nos juros de médio prazo, especialmente até 2019, os mais sensíveis à política monetária. A taxa do contrato com vencimento em julho de 2017 teve o maior giro de negócios em quase um mês.
A alta refletiu um ajuste, ainda que moderado, no orçamento de quedas do juro básico ao longo deste ano. Ontem, os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) negociados na BM&F terminaram a sessão projetando 464 pontos-base de queda do juro em 2017, 10 pontos-base a menos que na quarta-feira. O mercado de derivativos embutiu ontem Selic de 9,11% no fim do ano, contra 9,01% do dia anterior.

O comportamento do mercado de derivativos indica que alguns agentes já viam espaço para nova surpresa com a política monetária em abril, a exemplo do que aconteceu em janeiro. Nesse mês, as taxas dos contratos de DI sofreram forte ajuste de baixa, após o Banco Central cortar a Selic em 0,75 ponto percentual, ante expectativa majoritária de redução em 0,50 ponto.

Ontem, a sinalização do BC de aceleração “moderada” da queda dos juros ocorreu em meio a uma nova rodada de indicadores fracos – tanto de inflação quanto de atividade. O IGP-M de março praticamente não variou em relação a fevereiro, enquanto as vendas no varejo restrito caíram em janeiro mais que o antecipado, numa evidência de que a economia começou o ano ainda em marcha lenta. Essa percepção deve ser reforçada pelo IBC-Br de janeiro a ser divulgado hoje.

A postura de alguma forma cautelosa no BC na política monetária, apesar da debilidade da atividade econômica, não deixou de causar ruído. O sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, considera que o BC “errou” ao deixar claro que não pretende reduzir os juros de forma ainda mais acelerada que 1 ponto. “Todos os indicadores de inflação e atividade mostram não apenas espaço, mas necessidade de redução mais rápida do juro real. E um corte de 1 ponto agora não seria suficiente.”

O gestor acredita que na ata do Copom de abril o BC deveria começar a dar sinais de nova aceleração do ritmo de alívio monetário, no caso para 1,25 ponto. “Haveria espaço para isso já agora. Mesmo cortando 1 ponto em abril, o BC vai continuar atrás da curva.”

Na visão do chefe de pesquisa macroeconômica do BNP Paribas para a América Latina, Marcelo Carvalho, o BC pareceu “agnóstico” e “mente aberta” sobre o orçamento total de corte de juros. Carvalho diz que o RTI endossou a expectativa do BNP de que a Selic cairá para 8% até o fim do ano.

O Bradesco reiterou estimativa de Selic a 8,5%, mesma taxa prevista pela economista do Santander Brasil Tatiana Pinheiro. O economista Felipe Salles, do Itaú Unibanco, vê o juro a 8,25% tanto no fim de 2017 quanto de 2018. Já o UBS revisou a projeção para Selic ao fim deste ano de 9% para 8,5%.

A alta das taxas de DI de médio prazo ontem se destacou em meio a oscilações mais brandas nos vencimentos mais longos. Os contratos para além de 2021 ficaram “divididos” entre o viés de alta oriundo do exterior, onde os juros de títulos soberanos de renda fixa subiram, e a reação benigna à indicação do governo de que não trabalha com meta maior de déficit fiscal.

No câmbio, o dia foi marcado por maior demanda por dólares, com investidores se antecipando à retirada de mais de US$ 4 bilhões do mercado, resultante da liquidação, na segunda-feira, do vencimento de contratos de swap cambial do Banco Central. O mercado mostrou volatilidade também pelo acirramento da disputa pela Ptax de fim de mês, que será definida hoje. O sinal piorou na parte da tarde, quando o dólar acelerou os ganhos frente a várias divisas emergentes.

No fim do dia, o dólar subiu 0,88%, a R$ 3,1436, maior patamar desde 14 de março.

 

 

Fonte: Valor

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