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Juros sobem apesar de sinais benéficos para a inflação

Investidores têm assumido posições mais defensivas diante das incertezas em torno da reforma da Previdência, o que se traduz em picos de nervosismo nos negócios nos últimos dias. Por ora, os riscos de alteração no cronograma ou de diluição de alguns pontos da proposta inicial justificam uma postura mais cautelosa. Gestores destacam, entretanto, que o risco maior, com potencial de alterar cenários, seria uma mudança na idade mínima de 65 anos para a aposentadoria.

O tema ganhou ainda mais relevância nos mercados esta semana, após o presidente Michel Temer retirar servidores estaduais e municipais da proposta. O receio do mercado é que o governo acabe fazendo outras concessões para ganhar o suporte do Congresso. “Tira da pauta um fator conturbado para as bancadas no Congresso e muitas emendas giram em torno disso”, diz o economista sênior do banco Haitong, Flávio Serrano. “A avaliação geral é negativa. O governo cede neste ponto e fica o alerta de que a reforma pode não ser aprovada na integralidade”, acrescenta.

Em reação, os juros futuros voltaram a subir, apesar do noticiário benigno para a inflação. A taxa do contrato de DI para janeiro de 2019 – que reflete expectativas para a política monetária ao longo de 2017 e 2018 – chegou a registrar a maior alta em mais de um mês, comparado à taxa de fechamento da terça-feira. Ainda mais emblemático foi o comportamento da chamada inclinação da curva a termo – a diferença entre os juros mais longos em relação aos mais curtos, que mede o prêmio de risco exigido pelo investidor para prazos mais estendidos. O degrau entre o contrato de DI para janeiro de 2019 e para janeiro de 2021 subiu ao longo do mês para 47 pontos-base, de 23 pontos no fechamento da sessão de 24 de fevereiro. Na terça, quando os temas fiscais ganharam espaço no noticiário, essa diferença estava em 44 pontos.

O câmbio também reagiu ao noticiário local, ainda que de forma comedida. Na semana, o desempenho da moeda brasileira fica aquém de outros emergentes. O real ganha 0,11% ante o dólar, enquanto o avanço do peso mexicano é de 0,22% e da lira turca, de 0,49%. O rand sul-africano se destaca com ganho de 1,20%.

O dólar fechou ontem em alta de 0,21%, a R$ 3,0962.

Já o prêmio de risco para o Brasil medido pelo CDS alcançou na quarta-feira o maior patamar em sete semanas, piorando mais que o de outros emergentes. O “spread” do CDS de cinco anos do Brasil subiu 6 pontos-base, para 241 pontos, maior nível desde 2 de fevereiro.

Numa evidência do grau de sensibilidade do mercado a temas fiscais, os juros futuros chegaram às mínimas do dia perto do fechamento, enquanto o dólar futuro passou a cair, após notícias de que o governo contingenciaria R$ 58 bilhões do Orçamento. Posteriormente, foi esclarecido que esse número representa apenas uma deficiência do Orçamento deste ano.

O chefe de dívida soberana emergente para a Aberdeen Asset Management, Edwin Gutierrez, aponta que “alguma diluição já é esperada” na proposta da reforma e, contanto que a medida seja aprovada antes de outubro, os atrasos pouco importam. “O limite é a idade mínima de aposentadoria, de 65 anos, que é o mais crítico. Se o governo não ceder nisso, o mercado deve ficar bem”, aponta o profissional.

O cenário de referência é de que a reforma segue caminhando, embasada no apoio que o governo teria no Congresso. Na avaliação de Gutierrez, a aprovação do “teto de gastos” no ano passado pressiona os parlamentares a escolher entre agir na Previdência ou começar a cortar gastos em programas sociais. “Essa decisão teria um custo político maior para os congressistas”, aponta.

O chefe de renda fixa na Franklin Templeton Invest Brasil, Rodrigo Borges, diz que, sem a idade mínima, a reforma seria “inócua”. “Isso seria uma novidade grande para o mercado”, afirma. “Ninguém espera que a reforma seja aprovada a ´valor de face´, ou seja, vão ter modificações. Mas pontos importantes devem ser mantidos e o principal deles é a idade mínima para aposentadoria”, acrescenta.

Na avaliação de Will Landers, diretor global de investimento em emergentes da gestora BlackRock, uma mudança na idade mínima indicaria que o governo não tem o suporte legislativo esperado. “A grande aposta é que esse governo é diferente do anterior e que consegue se articular melhor para trabalhar com o Congresso”, aponta.

Este é um dos pontos centrais de todo o processo de ajuste econômico. “O Banco Central só vai poder baixar a taxa de juros como o mercado espera se tiver a parte fiscal em ordem”, aponta Landers. O investidor ainda aguarda um avanço maior nas reformas para intensificar as compras de ativos domésticos, acrescenta o profissional, ao lembrar que todos os segmentos financeiros devem se beneficiar com a aprovação.

 

Fonte: Valor

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