Judeus vêem com apreensão atos de Chávez
Na madrugada de sábado para domingo retrasado, a menos de oito horas do início da votação sobre as reformas constitucionais propostas por Hugo Chávez, agentes do serviço de inteligência da Venezuela invadiram (com autorização judicial) a sede da Hebraica, um tradicional clube israelita localizado num bairro nobre de Caracas. Os agentes diziam procurar armas, explosivos e drogas. Não encontraram nada, mas aumentaram ainda mais a apreensão da pequena comunidade judaica no país.
Desde 1999, quando Chávez assumiu a Presidência, o número de judeus na Venezuela diminuiu de cerca de 20 mil para os 12 mil atuais, segundo a União Israelita de Caracas. A maioria se mudou para Miami; outros se foram a Israel e ao Panamá. Parece exagero supor a existência de qualquer traço de anti-semitismo em Chávez. No topo da pirâmide social venezuelana, porém, a comunidade judaica é repleta de empresários de convicções liberais e suas lideranças se opõem frontalmente ao governo – prato cheio para angariar a antipatia do presidente.
Algumas dessas lideranças estiveram no Palácio Miraflores nas poucas horas em que o industrial Pedro Carmona assumiu a Presidência, durante um fracassado golpe de Estado, em 2002. Daí em diante, a percepção de ameaça à propriedade privada e o temor de que a grade curricular de escolas religiosas sejam afetadas por uma reforma educacional foram as principais causas do êxodo dos judeus, dizem líderes da comunidade local – que também se preocupa os laços políticos e comerciais com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
Há três anos a Venezuela não tem embaixador em Tel-Aviv. Em 2006, início da guerra no Líbano, Chávez retirou o encarregado de negócios, número 2 da embaixada, e se disse indignado por ver como Israel “continua atropelando, bombardeando, esquartejando inocentes com os aviões gringos que eles têm”. Em resumo: as relações bilaterais andam gélidas.
Um diplomata israelense com experiência na América Latina, diz que causa desconforto a aliança de Chávez com Ahmadinejad, o que reforça a presença de iranianos na região. O diplomata lembra que Teerã é acusado, na Argentina, de ter patrocinado o Hezbollah no atentado que matou 85 pessoas na Amia, a associação judaica de Buenos Aires, em 1994.
Sob a condição de não ter seu nome publicado, um dos principais rabinos da Venezuela disse ao Valor que um dos maiores temores da comunidade no país é com um eventual ataque dos EUA ou de Israel ao Irã, para barrar o suposto desenvolvimento de armas nucleares. “Haveria repercussão imediata por aqui”, prevê o rabino. Para ele, os judeus na Venezuela sofrem duas vezes. “Porque vivemos toda a instabilidade do país e porque podemos nos tornar vítimas, aqui, de um conflito no Oriente Médio.” Na semana passada, órgãos de inteligência americanos disseram de que o Irã paralisou a busca por uma bomba atômica.
Fonte: Valor