Jornada de Ana Fontes leva independência a milhões de mulheres
Ana Fontes estava infeliz no mundo corporativo. Ela criou um site de avaliações e um coworking, mas nenhum desses negócios deu certo. Então, a alagoana decidiu criar um blog para compartilhar o conhecimento que tinha adquirido em um curso com outras empreendedoras.
Assim começou a Rede Mulher Empreendedora. Uma das maiores entidades de apoio ao empreendedorismo feminino no Brasil, hoje essa é uma rede com 9 milhões de mulheres que consumiram algum dos seus conteúdos.
Neste episódio do podcast do Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, a fundadora da Rede Mulher Empreendedora conta toda a sua trajetória e fala sobre como e por que fomentar o empreendedorismo feminino.
O programa está disponível em vídeo no YouTube ou nas plataformas de áudio ApplePodcasts, Spotify, Deezer, Spreaker, Google Podcast, Castbox e Amazon Music. Quando nasce uma criança, nasce também uma mãe. E nasce ainda uma empreendedora, afirma Ana Fontes.
Confira alguns trechos da conversa com a fundadora da Rede Mulher Empreendedora:
Do Zero Ao Topo Como era o cenário para o empreendedorismo feminino no país quando você começou a empreender, e como ele é hoje? No que evoluímos, e no que ainda precisamos melhorar?
Ana Fontes Quando eu comecei a falar de empreendedorismo feminino, várias grandes organizações me falaram: Como assim? Empreender é igual para homens e mulheres. Não tem diferença, por que você vai falar com mulheres empreendedoras?. E eu não tinha elementos na época, mas sabia que havia questões diferentes. ( )
As motivações para empreender são diferentes entre mulheres e homens. A maternidade é um gatilho muito forte. Nasce uma criança, nasce uma mãe ao mesmo tempo, e nasce uma empreendedora junto. Os ambientes corporativos ainda são muito hostis para as mulheres. Elas não vão empreender porque querem ou porque acham fofinhas. Elas são empurradas, até hoje.
A forma como elas empreendem também é diferente. 70% delas empreendem nas áreas de conforto da mulher: moda, beleza, alimentação fora de casa e serviço de estética. Já os homens não necessariamente procuram áreas de conforto, mas oportunidade de negócio.
As mulheres talvez encontrem o caminho da oportunidade, mas através do caminho da necessidade. ( )
O que é desafiador para as mulheres ao empreender aqui no Brasil? O Brasil não é um país amigável para empreendedores em geral. ( ) É burocrático, é difícil, não incentiva a inovação em no geral.
Mas as mulheres têm adicionais. Elas têm menos acesso a recursos financeiros do que os homens. Menos crédito no geral, seja bancário ou seja investimento de anjos e fundos.
Ter menos acesso a capital é uma situação ruim para negócios. A chance de seu negócio crescer e se desenvolver é menor. Outro ponto é o acesso ao mercado, ao local onde ela vende seu produto ou serviço.
Nós não somos treinadas para vender desde cedo, exceto situações específicas de vendedoras natas, como a Luiza [Helena Trajano]. A maioria não tem essa característica de vendas, e precisamos desenvolvê-la.
Seria muito importante que tivéssemos espaços onde as mulheres pudessem vender. ( ) Um outro ponto é o desequilíbrio entre trabalho doméstico. ( )
A gente sabe que existe um déficit gigantesco nas vagas de creche no Brasil. Imagina você empreender e não ter onde deixar suas crianças, especialmente sendo uma mulher em situação de vulnerabilidade.
Essa situação é um problema, dentro da chamada economia do cuidado. ( ) 80% do trabalho não remunerado do mundo é feito por mulheres. Esse trabalho de cuidado com filhos, doentes, família e idosos precisa ser reconhecido, valorizado e dividido com os companheiros. É outro fator que impede o desenvolvimento de negócios por mulheres
E um último ponto é a conexão com o ambiente de inovação.
Quando você vê as startups que foram consideradas unicórnios, olha lá quantas delas têm cofundadoras mulheres. Temos um trabalho grande de mostrar e ajudar a conectar essas mulheres com o ambiente de inovação. ( ) Temos que mostrar que o território do dinheiro também é um território feminino.
Do Zero Ao Topo Qual conselho você daria para si mesma lá no começo, e daria para alguém que está numa situação parecida com a que você estava cansado do mundo corporativo e pensando no empreendedorismo como talvez a única saída?
Ana Fontes Um conselho bem importante é ter paciência. Temos um senso de urgência, de que as coisas têm que dar certo rápido. Outro ponto é pedir ajuda. Parece que pedir ajuda é um sinal de fraqueza, mas não é.
Eu lembro que tive muita dificuldade com isso. Tinha vergonha de pedir ajuda para as pessoas, achei que seria julgada. Mas pedir ajuda é muita força, é você ter consciência daquilo de que você precisa do outro.
Uma outra coisa muito importante, especialmente nesses tempos em que vivemos: não meça seu sucesso pela régua dos outros. Olhando as redes sociais, o que eu mais vejo são mulheres falando que fulano tem mais seguidores, isso ou aquilo. Sucesso é uma medida individual. Eu tenho que me medir por mim, pelo que eu estou buscando, por quais desafios que eu quero. E trabalhe sua saúde mental e o autoconhecimento. São pontos que fazem a diferença para qualquer pessoa.
Fonte: NULL