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Investir e poupar, entre o céu e o inferno

Possivelmente nunca antes na história desse país houve tanto interesse por investimentos na Bolsa de Valores, como mostram todos os indicadores que se referem ao mercado de ações. Com a inflação controlada e tanto a renda média da maioria dos trabalhadores como o nível de emprego em alta, muitos brasileiros passaram a ter como aplicar no mercado financeiro e, com a alta retumbante da Bolsa nestes três últimos anos, é natural que se procure aprender a lidar com ações e a entender como funcionam opções de investimentos mais sofisticados, como o mercado de derivativos na BM&F.
Essas são as razões que explicam a presença de muitos livros de orientação de investimentos pessoais nas listas dos mais vendidos, como, por exemplo, os títulos “Investindo em Opções”, “Bem-Vindo à Bolsa de Valores”, “Aprenda a Operar no Mercado de Opções”, segundo listagem recente elaborada pelo Valor Data.
Em uma linha mais ampla, não voltada exclusivamente para investimentos, também fazem sucesso as obras que procuram ajudar o leitor a dominar sua vida financeira, cuidando do endividamento e da poupança. São exemplos dessa linha “Sucesso Empresarial – Família, Carreira e Finanças para Toda a Vida”, do consultor brasileiro Louis Frankenberg, e “Dívida Boa, Dívida Ruim – Saber a Diferença Pode Salvar a sua Vida Financeira”, do americano Jon Hanson, que apresenta um trunfo poderoso na sua biografia: depois de acumular uma dívida de quase US$ 80 mil com o Imposto de Renda, ele conseguiu sobreviver à “quase-morte-financeira”.
Experiências pessoais, ainda mais no que se refere a dinheiro, sempre enriquecem qualquer relato. É o que acontece no livro de Hanson, que conta casos exemplares, como quando ele decidiu comprar um automóvel e foi seduzido por um Jaguar XKE preto conversível: “Olhei para o carro e, de imediato, percebi que o desejava, embora o raciocínio no fundo da minha alma gritasse baixinho: ´Não! Não´ Em primeiro plano, o meu eu emocional dizia: ´Sim! Sim´. Minha privação do passado conspirava com a ambição de uma vida melhor. Tornei-me refém das minhas próprias emoções”. Quem não gosta desse tom, desista da leitura porque quase todo o livro é escrito dessa forma, com esse elevado grau de dramaticidade. Os títulos dos capítulos são, por exemplo, “Como destruir sua vida”…
A “teoria” de Hanson é de que existem dois tipos de dívidas, um útil para se construir o patrimônio, o outro que acaba levando ao desastre financeiro. A questão é ser capaz de se equilibrar entre os dois tipos e saber se um financiamento é o caminho para o céu ou para o inferno. Ele dá uma série de dicas e conselhos sobre como resistir às tentações do consumismo desbragado e como valeria a pena, em muitas situações, adiar a compra porque ela significa aumentar o endividamento. Muitas dessas sugestões perdem sua força, porém, porque referem-se a especificidades do mercado americano. No Brasil, não existem, por exemplo, hipotecas da mesma maneira como há nos Estados Unidos, onde são a principal forma de financiamento da casa própria. Teria sido mais interessante para os leitores se a versão brasileira trouxesse exemplos ou explicações mais amplas sobre a realidade do país.
Já o livro “Sucesso e Independência” começa de forma que estimula a curiosidade, já que o prefácio é de Max Gehringer, um dos “conselheiros” sobre vida corporativa mais na moda no Brasil atualmente – e ele afirma que seguiu um conselho dado por Frankenberg há dez anos, o de vender o carro, aplicar o dinheiro e andar de táxi. A obra acaba, porém, se revelando um tanto desordenada, mais uma coleção de capítulos sobre temas isolados, sem formar um conjunto orgânico. Pode ser interessante ler apenas sobre finanças, patrimônio e seguros, em um único capítulo, mas essas questões permeiam outros aspectos da vida do leitor, tratadas em diferentes partes do livro, e a sensação geral é de superficialidade.

Fonte: Valor

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