Investimentos: Gestão terceirizada
Mas, diferentemente dos fundos multigestores onde o banco é apenas mais um dos aplicadores em uma carteira aberta, as novas estruturas têm fundos exclusivos, onde o dinheiro dos clientes é aplicado dentro das condições que a instituição deseja, e recebe maior atenção do gestor pelo volume de recursos. Hoje, três bancos de varejo oferecem esse tipo de fundo: Caixa Econômica Federal, Nossa Caixa e Itaú, que herdou uma carteira ao adquirir o BankBoston no ano passado.
No total, há R$ 3,5 bilhões aplicados nesses fundos e quase 29 mil cotistas, segundo estudo do site financeiro Fortuna. Entre 1º de outubro de 2006 até 31 de agosto deste ano, o melhor desempenho é o do fundo do Itaú, o Multimanager Plus IB, com 14,63%, seguido do Nossa Caixa Mix, com 12,78%, e do Caixa Estratégico, com 12,42%, para um CDI de 12,58%.
A estratégia de oferecer fundos geridos por terceiros foi bem aceita pelos clientes, diz Joaquim Elói Cirne de Toledo, diretor de Gestão de Recursos de Terceiros da Nossa Caixa. Um sinal foi que o Nossa Caixa Mix perdeu apenas 5% do patrimônio em meio à crise recente dos mercados, afirma ele, lembrando que o fundo acumulava até o dia 5 de setembro retorno de 102% do CDI em 12 meses.
Para ele, o processo é semelhante a uma fábrica que terceiriza a produção. “É como a empresa que resolve produzir na China, só que você tem de ter um controle rígido do design e da qualidade, para evitar coisas como o recall da Mattel”, compara Toledo. Assim, o banco de varejo controla a distribuição para os clientes, o modelo e a qualidade do produto, e deixa a produção para quem sabe fazê-la.
Desenhada para ter quatro gestores, a carteira está hoje com três – Fator, BNP e Quest -, uma vez que o quarto gestor, o WestLB está sendo substituído. “A idéia é periodicamente analisar a performance, não só o retorno, mas também o risco”, diz Toledo, que espera em breve encontrar um substituto para o banco alemão. Assim, o fundo cumpre sua missão também de diversificar as aplicações. “Se não fosse assim, criaríamos um fundo para cada gestor”, explica Toledo. Para ele, quatro é o “número mágico” para a diversificação. “Pelo que analisamos, menos de três gestores era pouco e mais de quatro não faz muita diferença”, diz ele, que também se preocupa com a correlação entre os gestores para evitar que todos façam a mesma coisa.
Toledo diz que optou pela estrutura de contratar gestores com fundos exclusivos por uma série de vantagens. A maior é a abertura permanente das carteiras dos fundos onde aplica. “Todo dia eu sei o que está na carteira, se as políticas de investimento estão sendo seguidas, posso analisar o índice de risco (VaR), assim eu sei o que o gestor está fazendo”, afirma ele, deixando claro que isso não significa interferir no trabalho de gestão. “Mas tenho a liberdade, por exemplo, de definir a política de investimento, controlar a alavancagem e mudar isso quando eu quiser, coisa que dependeria de uma assembléia de acionistas em um fundo aberto”, diz. Ele dá o exemplo da aplicação no exterior que, apesar de permitida recentemente pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), não é autorizada nos fundos da Nossa Caixa. “Claro que antes de qualquer mudança ouvimos os gestores, pois eles é que têm a experiência para nos orientar”, diz.
O fundo Nossa Caixa Mix recebe aplicações de R$ 20 mil e Toledo analisa agora baixar esse valor. A instituição estuda ainda um fundo de ações no mesmo modelo, com gestores contratados, e que pode estar aberto para captação em novembro deste ano.
A opção por esse tipo de fundos é um sinal de maior arquitetura aberta nos bancos de varejo, ou seja, um banco oferecendo serviços de outro, afirma Marcelo D´Agosto, do site Fortuna. “Cada vez mais vamos ver gente especializada em venda e gente especializada em gestão”, diz ele.
Mas quem espera diversificação nessas carteiras pode se assustar, afirma D´Agosto. E isso não depende somente do número de gestores, diz ele. Isso porque alguns fundos presentes em uma mesma carteira tem uma forte correlação entre eles. Um exemplo é o fundo da Caixa, que tem quatro gestores, mas todos têm índices de correlação acima de 0,60, ou 60%, conforme estudo feito pelo site Fortuna para o Valor. Isso quer dizer que, quando um cai 100%, o outro cai também 60%.
A menor correlação é vista no fundo da Nossa Caixa, de menos de 50%. “Apesar de ter menos gestores, o fundo da Nossa Caixa pode ser mais diversificado que o da Caixa Federal, que tem mais, mas muitos fazendo a mesma coisa ou com políticas de investimento muito rígidas e parecidas”, afirma D´Agosto. “No final das contas, todos ganham ou perdem juntos.” Mas, para ele, apesar de tudo, o investidor está tendo acesso a bons gestores, mas em um ambiente de acesso fácil em bancos de varejo e com a expectativa de efetivamente fazer alguma diversificação.
A oferta de outros gestores é uma tendência universal, afirma Rodrigo Xavier, diretor responsável pela UBS Pactual Asset Management. “Os bancos terão de oferecer o que o cliente quer e diversificar gestores e produtos faz sentido”, afirma ele, que participa da gestão do Multimanager Plus IB, do Itaú.
Outro aspecto desses novos fundos multigestores: eles ajudam outras casas a aumentarem seu patrimônio administrado. No caso da UBS Pactual, segundo Xavier, do patrimônio total de R$ 85 bilhões sob gestão, R$ 17 bilhões são de parceiros. Só do Multiestratégia do Itaú são R$ 200 milhões. No caso da Quest, que possui R$ 2,6 bilhões sob gestão, R$ 229 milhões são do fundo da Nossa Caixa.
O grosso dos recursos de terceiros nesses gestores, porém, ainda está concentrado em clientes de alta renda, de private banks de outras instituições, que procuram a experiência dos bancos de investimento e gestores independentes. A boa notícia é que hoje essa variedade começa a chegar ao varejo.
Fonte: Valor