Investimento em ativo ligado a seguro bate recorde
Os investimentos de mercados de capitais em ativos ligados aos seguros, os chamados veículos ILS, atingiram novos recordes no segundo trimestre de 2017, no que pode representar um momento de ruptura para o mercado de resseguros.
A avaliação é a da corretora Willis Towers Watson, que acaba de publicar seu relatório trimestral sobre o mercado global de investimentos ILS.
Entre abril e junho, foram emitidos US$ 6,3 bilhões em novos veículos ILS ligados ao mercado de seguros não-vida em todo o mundo, a marca mais alta já registrada para um período de três meses.
Com isso, o volume de instrumentos ILS emitidos nos seis primeiros meses do ano chegou a US$ 8 bilhões, valor só comparável ao do primeiro semestre de 2014.
O total de ativos cujo vencimento ainda não ocorreu chegou a US$ 24,7 bilhões, também um novo recorde.
Os analistas da corretora comparam o resultado do segundo trimestre com a emergência da indústria de capital de risco em 1990, quando um setor pouco conhecido do mercado de capitais se tornou um protagonista da economia global.
Caso a previsão se confirme, eles acreditam que o período pode representar o aviso da morte do modelo tradicional de resseguro catastrófico patrimonial.
Fatores a favor e contra
Os instrumentos ILS são utilizados por cedentes, que incluem seguradoras, resseguradoras, companhias ou entidades públicas, para transferir riscos diretamente ao mercado de capitais, pagando uma taxa de remuneração pelo serviço.
Tais veículos têm ganhado impulso devido a fatores regulatórios, que motivam os subscritores a buscar maneiras de diversificar sua gestão de capital de solvência.
Além disso, os investidores têm mostrado forte apetite por estes ativos, que oferecem remuneração atraente em um momento em que as taxas de juros nos países desenvolvidos estão no chão.
Mas a Willis Tower Watson também nota que há fatores jogando contra os instrumentos ILS no momento, como a incerteza que os investidores sentem devido ao Brexit e a eventuais mudanças tributárias nos Estados Unidos. Já o longo mercado brando incentiva as seguradoras a reter o risco e torna mais difícil para elas pagarem as taxas acertadas com os investidores em suas emissões ILS.
Ainda assim, as negociações entre subscritores e investidores avançaram com vento em popa no trimestre anterior, nota a corretora.
A empresa prevê que as emissões fecharão 2017 em patamares inéditos, e que a tendência de alta deve se repetir no ano que vem.
Os números
Os US$ 6,3 bilhões emitidos no segundo trimestre foram resultado de 36 operações, superando o recorde trimestral anterior, de US$ 4,5 bilhões, registrado no mesmo período de 2014.
A Willis Towers Re selecionou duas emissões gigantes como destaques do período.
A primeira foi o título Kilimanjaro II Re, série 2017-1, que, em três operações, levantou US$ 950 milhões para a Everest Re, a fim de cobrir sua exposição a tempestades e terremotos nos Estados Unidos, Porto Rico e Canadá. O título tem vencimento de quatro anos.
Já a Autoridade de Terremotos da Califórnia, CEA, uma agência governamental americana, obteve US$ 925 milhões com vencimento em três anos com seu título Ursa Re, que foi emitido em duas operações.
Apesar do otimismo do relatório com relação ao futuro do mercado de veículos ILS, o setor enfrenta desafios, com analistas alertando que a capacidade de emissões ligadas a eventos catastróficos nos EUA, Europa e Japão tem um limite, e que é preciso disseminar as emissões para outros segmentos.
O crescimento futuro do mercado ILS virá da redução das lacunas de cobertura e da atração de novos riscos para o setor, afirmou Greg Wijciechowski, CEO da Bolsa de Valores de Bermudas, principal plataforma de negociações dos produtos, aos autores do estudo.
Enquanto que a ampla maioria dos fundos de ILS ainda estão focados em catástrofes, alguns gerentes acreditam que há oportunidades adicionais em seguros patrimoniais, de responsabilidade, de vida e de saúde.
Um dos caminhos buscados pelo mercado é chegar a novas regiões geográficas. O apetite foi aproveitado pela resseguradora Terra Brasis, por exemplo, para lançar seu primeiro veículo ILS neste ano.
Com o esperado desenvolvimento do mercado, novos centros estão tentando competir com Bermuda para hospedar as emissões. Um deles é Londres, onde o governo britânico está analisando novas regras para incentivar o desenvolvimento do setor no principal centro de resseguros global.
Fonte: Risco Seguro Brasil