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Investidor vive momento de transição

Acostumado, durante décadas, a boa rentabilidade, segurança e alta liquidez proporcionada pelos títulos públicos, tornou-se um conservador na hora de alocar seus recursos, com pouca disponibilidade ao risco, comum principalmente em investimentos de renda variável. A trajetória no longo prazo de queda dos juros de referência – a Selic em 8,5% ao ano em julho é significativamente inferior aos 12,5% de 2011 – tem levado esse investidor a ampliar seu leque de opções. Mas é a renda disponível para investir que determina a disposição do investidor brasileiro ao risco, observa Carlos Massaru Takahashi, presidente do BB DTVM.
Em uma hipotética pirâmide de exposição ao risco em fundos de investimentos, elaborada por Takahashi, a base é formada pelo chamado investidor de varejo, os clientes de baixa renda dos bancos. O ticket de entrada médio desse público em um fundo é na casa dos R$ 200,00. Ele opta por investimentos conservadores, em renda fixa, e com alta liquidez. E não poderia ser muito diferente, uma vez que esse investidor não possui margem para erros.
Na faixa seguinte da pirâmide está o investidor de varejo alta renda. Ele também mantém seus recursos majoritariamente em títulos de renda fixa com alta liquidez, mas reserva uma parcela, por volta de um terço do total, para investimentos um pouco mais agressivos, como fundos imobiliários ou de ações, mas nesse caso atrelados ao Ibovespa, o indicador de desempenho médio da BM&FBovespa, ou a outro indicador de referência, fácil de acompanhar. Também investe em fundos de previdência privada. Segundo Takahashi, os investidores de varejo, tanto de baixa como de alta renda, privilegiam canais de autoatendimento e internet banking ao investir, mas os de maior renda buscam orientação da gerência dos bancos.
Com uma disponibilidade de recursos acima de R$ 3 milhões para aplicar, o investidor entra na área de atuação dos private banking. Nesse caso o correntista passa a ser atendido por analistas dedicados que vão orientar o investidor no planejamento financeiro e tributário para as necessidades de curto e longo prazo de acordo com sua disposição ao risco. É o mais aberto ao asset allocation. Como observa Takahashi é o investidor que está mais rapidamente deixando o comportamento mais conservador e aceitando uma exposição maior de seus recursos de longo prazo em renda variável.
Em 2012, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o volume total de ativos sobre gestão de private banking cresceu 21,4%, alcançando R$ 527,3 bilhões. Dos recursos investidos diretamente em títulos e valores mobiliários, a parcela em títulos de renda rixa reduziu-se de 36,7% em 2011 para 31,5% em 2012, a exposição à renda variável passou de 14,5% para 15,8%. Já a parcela dos recursos investidos em fundos de investimentos concentram-se principalmente em multimercados, cuja participação no total de ativos passou de 43% em 2011 para 46% em 2012.
Hoje é o público típico dos fundos multimercados e fundos imobiliários, além dos fundos de previdência. Nos fundos de ações e multimercados, diz Takahashi, esse investidor pede uma sofisticação maior na formação da carteira, com papéis de empresas específicas ou atrelados a indicadores de sustentabilidade, aposta em exposições no exterior, em fundos off shore. No primeiro semestre do ano, os clientes de private banking responderam por 11,7 bilhões, dos R$ 102 bilhões de captação líquida dos fundos.
No ranking da Anbima para o primeiro semestre do ano, o poder público foi responsável pela captação líquida de R$ 28,1 bilhões e as corporações por R$ 18,5 bilhões. Carlos Takahashi observa que esses dois públicos possuem comportamentos com características bastante semelhantes. O objetivo dos dois é a melhor gestão do fluxo de caixa, por isso privilegiam a liquidez do investimento, aportando recursos em fundos de renda fixa, principalmente os referenciados em DI de curto prazo.
Entre os maiores grupos investidores institucionais do país, estão as entidades de previdência complementar abertas e fechadas. No final de 2012, os 2.803 fundos de pensão do país somavam um total estimado de 2,33 milhões de participantes e um ativo total de R$ 641,7 bilhões. Desse total, 61,7% estavam alocados em renda fixa, 28,6% em renda variável, 4% em imóveis e 2,7% em estruturados, ou seja, participações, empresas emergentes e fundos imobiliários. O restante dos ativos estava em operações, como empréstimos, com os participantes.
Maurício Wanderley, coordenador da comissão de investimentos da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), diz que cada fundo de pensão adota uma estratégia específica de alocação de recursos de acordo com sua meta atuarial. Fundos formados por participantes mais jovens tendem a assumir posições em ativos com mais riscos. Segundo Wanderley, a tendência de queda nos juros também deve levar a uma maior aposta em renda variável. “Hoje a renda fixa responde por 60% da alocação dos recursos no Brasil, mas a média em fundos de pensão de economias mais maduras é de uma participação de 40%. Nos próximos anos, devemos caminhar gradualmente para essa proporção”.
Na previdência privada aberta, que em abril contava com uma carteira de investimentos de R$ 351,6 bilhões, os gestores de investimentos não possuem autonomia, seguem um mandato dos participantes dos planos. Osvaldo do Nascimento, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) separa os investidores em dois segmentos específicos. Os investidores de varejo, que realizam uma contribuição mensal, e os de alta renda, que além da contribuição mensal agrega mais aportes. Os investidores de varejo respondem por 35% do total de recursos do sistema, sendo 59% conservadores. Entre os de alta renda, 39% possuem perfil conservador.

Fonte: Valor

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