Influências da economia internacional
Um estudo sobre o cenário macroeconômico mundial – com destaque para a crise de energia e de alimentos -, o papel da América Latina como parte da solução e os impactos nos mercados de seguro. Esse foi o tema da palestra proferida pelo economista e diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Escola Nacional de Seguros, Claudio Contador, durante a XX Assembléia da Associação Panamericana de Fianças e Garantias (APF), realizada na semana passada, no Hotel Sheraton, no Rio de Janeiro. O momento atual deixa muitas incertezas e pessimismo, mas também esperança para os que compreenderem os novos desafios, afirma ele. Confira abaixo alguns trechos da apresentação.
As origens das crises:
A história da chamada crise de hoje começou em 1971, quando os Estados Unidos provocaram um aumento da liquidez, do consumo de petróleo e das pressões inflacionárias no mundo. Nos anos seguintes, vieram duas grandes crises de energia, em 1973 e 1979. Nessa época, os preços de petróleo e alimentos tiveram o capital especulativo como ingrediente importante. Mas o problema não foi o descontrole ou excesso de crédito e liquidez, e sim a avaliação errada do risco financeiro e a falta de controles internos por parte das instituições financeiras.
Desde 1999, os preços do petróleo estão crescendo e os aumentos têm um componente maior de especulação, estimada em percentuais de 30% a 35%, pois há um consumo explosivo da China e Índia; o esgotamento das reservas sem novas descobertas de produção imediata e uma redução da oferta por alguns produtores. No que diz respeito ao aumento do preço dos alimentos, o problema é que a demanda hoje cresce em ritmo mais rápido, principalmente na China, Índia e parte da África.
Participação da América Latina:
Hoje, parte do capital especulativo voltou sua atenção para a América Latina. O desafio é converter este capital especulativo em capital responsável e participante do aumento da capacidade produtiva dos países. A realidade é outra e apresenta grandes oportunidades principalmente para o mercado de seguros.
O aumento do consumo de petróleo e de outras fontes de energia pela China e emergentes ainda não encerrou e as pressões sobre o mercado de petróleo devem permanecer. As fontes renováveis e menos agressivas ao meio ambiente terão papel crescente. No tocante aos alimentos, a situação é menos crítica. Existe uma grande capacidade de resposta da oferta agrícola aos preços, e a América Latina será sem dúvida o principal exportador de alimentos nas próximas décadas.
Para dar uma idéia do enorme potencial de oportunidades de exportação para a América Latina, a China multiplicou por três o seu consumo médio de alimentos em relação a 1990 e ainda assim o consumo médio é abaixo dos padrões alimentares ocidentais.
Futuro da China e dos Estados Unidos:
Por limites de capacidade de produção, o crescimento explosivo da economia chinesa cai para taxas menores, na faixa dos 8%. As implicações serão: inflação crescente na China, menor pressão sobre demanda de alimentos e de energia – mas ainda assim bastante forte. Os Estados Unidos, com modesto e decrescente crescimento do produto potencial taxa de expansão de 2,8 % -, e com baixa capacidade ociosa geral, terão como implicações um menor crescimento do PIB e pressões inflacionárias.
Situação da América Latina :
É uma região onde a maioria dos problemas políticos e sociais está solucionado ou caminhando para isto: as dívidas externas são pequenas ou decrescentes e totalmente gerenciáveis; os balanços de pagamentos são mais favoráveis; as reservas internacionais cresceram; em vários países a inflação é baixa e controlada; os fundamentos da política econômica e a qualidade da política monetária são mais saudáveis e há autonomia de muitos bancos centrais. Por estas razões, a crise de energia e de alimentos não afetou negativamente a região. Pelo contrário, a maioria dos países latino-americanos será beneficiada pela crise, e dela sairá mais forte. Alguns deles têm taxas de crescimento do PIB acima da média mundial.
Perspectivas do mercado segurador na região :
Os mercados financeiros bolsas de valores, mercados futuros, de crédito, e de fluxos de capitais terão maior volatilidade, e esta impactará no lado real das economias. A volatilidade se reflete no risco, e risco é o negócio do seguro. Por isto, o mercado de seguro encontrará grandes oportunidades no futuro próximo, diversificando risco, e dando proteção às empresas e famílias.
Sem dúvida, o futuro será próspero para os seguros financeiros. Com a manutenção do crescimento econômico, novos empreendimentos vão ocorrer, derivados do agronegócio, da indústria, do comércio e dos serviços, cujas obrigações contratuais ficam cada vez mais complexas. Por estes motivos, os seguros de crédito e de garantia terão forte responsabilidade como co-autores desta nova fase. Este período favorável já começou: basta lembrar que apenas nos últimos 12 meses, os prêmios destes ramos cresceram em mais de 100% no Brasil. Esta é uma tônica que pode vigorar em muitas outras economias da América Latina.
Fonte: Escola Nacional de Seguros