Inflação em novembro foi a mais baixa para o mês em 17 anos
Ajudado pela deflação de alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou praticamente estável em relação a outubro, com alta de 0,28% em novembro, segundo a estimativa média de 23 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data. Se confirmada a previsão, essa será a inflação mais baixa para o penúltimo mês do ano em 17 anos.
Em novembro de 1998, o indicador oficial de inflação, a ser divulgado amanhã pelo IBGE, havia recuado 0,12%. Desde então, o IPCA nunca ficou abaixo de 0,3% neste período do ano, marcado por sazonalidade pressionada. Segundo economistas, o resultado a ser conhecido amanhã reforça a visão de que há espaço para que o Comitê de Política Monetária (Copom) acelere o passo no ciclo de redução dos juros. O último corte na taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, foi de 0,25 ponto percentual.
As projeções para o IPCA de novembro vão de alta de 0,24% até 0,32%. Como, no ano passado, o índice subiu 1,01% em igual intervalo, a descompressão da medida acumulada em 12 meses deve ser relevante, de 7,87% para 7,09% na passagem mensal.
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, estima que o IPCA aumentou 0,26% em novembro, mesma taxa registrada em outubro. O movimento de desinflação não ganhou fôlego na comparação mensal, de acordo com Vieira, porque a queda dos alimentos se manteve em ritmo parecido – ele espera recuo de 0,04% desses itens, ante -0,05% no dado anterior – e, também, devido a pressões sazonais sobre preços de despesas pessoais e serviços e à volta da bandeira amarela nas contas de luz.
Em função da cobrança adicional de R$ 1,50 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos, o economista calcula que a inflação do grupo habitação avançou de 0,42% para 0,49% de outubro para novembro. Outras fontes de pressão, diz Vieira, devem vir da parte de despesas pessoais, que subiu 0,52%, após alta de apenas 0,01% na medição anterior e, também, dos preços de comunicação, pressionados por correções de tarifas de telefone público e celular.
Apesar das altas previstas na comparação com outubro, a taxa esperada para o IPCA de novembro é a menor para o mês em muito tempo, destaca Vieira, indicando que há descompressão inflacionária em curso. Não é somente o índice do mês passado que deve levar o Copom a acelerar o ciclo de afrouxamento monetário, diz o economista, mas o conjunto de dados de inflação e atividade aponta que existe espaço para isso. “Um condicionante que complica a decisão é a crise política.”
Para a equipe econômica do Santander, a perspectiva de inflação baixa em novembro reforça a visão de que “há bastante espaço” para cortes na taxa nominal de juros. “Esperamos alta de 0,31% para o índice, o que significa uma nova queda da inflação acumulada nos últimos 12 meses, de 7,87% para 7,13%”, afirmam os economistas do banco. O recuo mensal de alimentos no domicílio seguiu expressivo, o que não é frequente para este mês do ano, ressalta o Santander. Por outro lado, a alta da tarifa de eletricidade e o reajuste de multas de trânsito devem ter pressionado os itens administrados.
Em dezembro, a bandeira tarifária voltou para a cor verde, que não implica cobranças adicionais nas contas de luz. No entanto, o reajuste anunciado pela Petrobras para os combustíveis deve pressionar os preços monitorados no mês. Depois de duas reduções consecutivas, a estatal elevou em 8,1% a gasolina e 9,5% o diesel, nas refinarias. Segundo a empresa, a alta refletiu a valorização do petróleo no mercado internacional, bem como a depreciação recente do câmbio.
Após a decisão da petroleira, o Bradesco elevou a estimativa para a alta do IPCA de dezembro a 0,60%, ante previsão anterior de 0,50%. Mais pessimista, o economista Márcio Milan, da Tendências Consultoria, aumentou sua projeção de 0,64% para 0,82%. Para 2017, o número da Tendências também mudou, de 6,8% para 7%.
Fonte: Valor