Inflação baixa neste ano beneficia projeções para 2018
A diferença entre as projeções do mercado para a inflação medida pelo IPCA em 2017 e 2018 se deve mais a um comportamento positivo dos preços este ano que a um risco de aumento de pressão no ano que vem. Além disso, a inflação de 2017 mostra efeitos benéficos sobre as expectativas para 2018, que seguem em queda e abaixo da meta. A análise é do superintendente-adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Segundo ele, a alimentação deu contribuição favorável, mas não única, para os baixos índices neste ano.
“O principal motivo [para a diferença entre as projeções de 2017 e 2018] é que a inflação baixou muito por causa da alimentação. Mas não foi só isso. Os serviços desaceleram e os bens duráveis e bens não duráveis também contribuem fortemente para a desaceleração este ano”, diz Quadros.
Quadros diz que este ano “a agricultura salvou a pátria”, o que pode fazer que os alimentos terminem o ano com índice acumulado perto de 1%. “O papel que a alimentação teve este ano, não terá ano que vem. Em termos comparativos, poderá no máximo igualar. Não há razão para novas reduções nos preços”, afirma o economista.
Isso explica, segundo ele, a projeção mais alta para 2018. “Se o cenário agrícola for semelhante [em 2018], a inflação de alimentos não dispararia, mas não ficaria tão baixa. Isso já explica a maior parte dessa diferença.”
Quadros ressalta que é importante notar que, mesmo mais alta que as projeções para 2017, a expectativa para a inflação do ano que vem cai de forma sistemática e se encontra abaixo da meta de inflação perseguida pelo BC.
“A expectativa de inflação mais alta que em 2017 não deve preocupar ninguém, porque os alimentos foram muito fora da curva este ano. E outra questão é que, à medida que vemos a inflação desacelerar este ano, vemos que isso terá efeito em 2018”, afirma Quadros. “As conquistas de redução de inflação deste ano deixam legado para o ano que vem.”
O resultado da segunda prévia de junho do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) deu força ao cenário de uma saída mais lenta da deflação. O indicador mostrou deflação de 0,61% em junho e, embora tenha acelerado frente ao -0,89% da segunda prévia de maio, deixa claro, na visão de Quadros, que ainda não será neste mês que os IGPs voltarão para o terreno positivo.
“Cada vez mais se confirma ideia de que a deflação não vai acabar em junho. Algumas coisas aconteceram e algumas delas foram imprevistas”, diz. Uma dessas surpresas, segundo ele, veio das matérias-primas agropecuárias, que tiveram na segunda prévia de junho o mesmo resultado da segunda prévia de maio: queda de 1,96%. Com isso, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do IGP-M, reduziu a queda, mas continuou em um patamar negativo expressivo, com baixa de 1,39% na segunda prévia de junho, contra -1,87% na segunda prévia de maio.
Quadros pondera que, dentro das matérias-primas agropecuárias, produtos cujos preços “pareciam avançar, não confirmaram” essa aceleração. Um exemplo foi a soja, que avançava 2,76% na segunda prévia de maio e desacelerou para 1,63% agora, num claro sinal de expectativas melhores para a safra do produto nos EUA.
Fonte: Valor