Indenizações por risco: US$ 4 bilhões
A nova era de oferta de energia nuclear vem crescendo e isso traz demandas para o mercado de seguros. Os investimentos em tais usinas vêm ao encontro com as tentativas dos países em cumprir as metas estabelecidas para o controle da mudança climática reduzindo as emissões de carbono e ao mesmo tempo protegendo a economia contra os suprimentos voláteis de gás e petróleo. Um estudo do governo britânico enumera a construção de até 10 usinas nucleares antes de 2020.
Atualmente são cerca de 440 unidades nucleares em operação no mundo e praticamente todas seguem legislações locais e convenções internacionais como a de Viena, de Bruxelas e de Paris, explica Marcelo Homburger, vice presidente da Aon Risk Service.
O risco nuclear é muito específico. “Note que qualquer tipo de apólice e de qualquer ramo exclui textualmente a cobertura para reclamações decorrentes de riscos nucleares. O mesmo acontece em relação aos contratos de resseguro de forma geral. O risco nuclear sempre é tratado isoladamente e nunca se mistura com outros segmentos de negócios”, explica Walter Polido, diretor da resseguradora Munich Re e principal executivo brasileiro quando o assunto é responsabilidade civil.
Tal característica fez surgir no mundo “pools” de seguradoras especializadas em riscos nucleares. Estes “pools” aceitam e repassam riscos das usinas entre si. O IRB Brasil Re, por exemplo, repassa o risco de Angra 1 e 2 para esses “pools” e tem de aceitar riscos de outras partes do mundo dentro do acordo de reciprocidade, explica Sebastião Pena, gerente de estratégia do IRB. A capacidade de aceitação do “pool” brasileiro é de US$ 5 milhões em riscos materiais e de até US$ 2,5 milhões em riscos de responsabilidade civil.
Segundo a Willis, terceira maior corretora de seguros do mundo, trata-se de um mercado consolidado, sendo os principais instalados nos Estados Unidos, França, Inglaterra, Japão e Bermudas. São duas coberturas básicas contratadas pelas usinas. A apólice de danos materiais cobre o patrimônio da empresa. A de responsabilidade civil, mais cara e a mais difícil de ser colocada, cobre danos causados a terceiros. Uma nova usina em construção só será coberta quando se tornar “nuclear” – mediante a entrega de combustível nuclear para o local ou o carregamento de combustível num reator -, mas a cobertura de seguro está disponível para os riscos de construção nos locais em que as usinas nucleares estão em operação.
O valor de seguro necessário depende de quantos reatores serão construídos. Também depende do local de construção e do tipo de usina nuclear que será construída. Geralmente a capacidade fica entre US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões por reator. Como raramente acontece um acidente, o mercado de seguros está com farta capacidade de aceitação de risco. Mas isso não quer dizer que eles aceitam todo e qualquer risco. “O critério de aceitação é rigoroso porque um acidente pode trazer prejuízos elevados”, diz José Otavio Sampaio, da Willis.
Para desenhar o programa de seguros, os corretores precisam avaliar a legislação local, exigências de governos, de convenções que participam e todas as coberturas necessárias e excluídas. Geralmente as indenizações são aceitas por até 30 anos depois de ocorrido um acidente.
Em junho deste ano, as usinas Angra 1 e Angra 2 foram vistoriadas. A equipe, formada por técnicos da Espanuclear, “pool” espanhol de seguros nucleares, International Engineering of the American Nuclear Insurers, dos EUA, Swiss Pool for the Insurance of Nuclear Risks, da Suíça, tinha o objetivo de avaliar os potenciais riscos de acidentes nas usinas em funcionamento, verificar o estado de manutenção e conservação das unidades, além de sugerir melhorias.
Segundo a Eletronuclear, o trabalho de análise de risco deve ser contínuo e o tempo de vistoria varia entre quatro e seis anos. A periodicidade é determinada pelo estado de conservação das usinas e a ocorrência de sinistros. A última visita feita nas usinas brasileiras foi em 2002.
Os técnicos ficaram uma semana visitando todas as instalações e conversando com os técnicos responsáveis pelas operações. Ao final da inspeção, a equipe elabora um relatório detalhado com recomendações que são apresentadas à direção da empresa para avaliação e discussão. “Estamos avaliando as exigências para implementá-las”, diz Leonam dos Santos Guimarães, assistente da presidência da Eletronuclear.
Fonte: Gazeta Mercantil