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Incertezas políticas fazem cenário para investimentos continuar ruim

Antes na ponta mais pessimista das projeções para a atividade, a 4E Consultoria revisou para cima suas estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) deste e do próximo ano. A projeção de 2017 saltou de queda de 0,1% para alta entre 0,7% e 0,8%. Para 2018, a estimativa continua positiva, passando de crescimento de 1,2% para 1,8%. De acordo com Juan Jensen, sócio da 4E, os números do PIB do segundo trimestre e a conjuntura econômica mostram cenário mais favorável do que o previsto inicialmente para o consumo, “motor” da retomada. Já os investimentos, que acumulam queda em 14 dos últimos 15 trimestres, têm piores perspectivas, principalmente por causa das incertezas políticas. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: A 4E esperava retração de 0,1% do PIB neste ano. Depois do resultado do segundo trimestre, esse número pode ser revisto para cima?

Juan Jensen: Será revisto, para algo entre alta de 0,7% e 0,8%. Para o ano que vem, também revisamos, de 1,2% para 1,8%. O principal fator é o consumo das famílias, que foi muito forte no segundo trimestre, puxado pela liberação do FGTS. No segundo semestre, vemos uma recuperação de renda já em curso combinada com a expansão do emprego, que começou no emprego informal e por conta própria, e que caminha para o formal. A massa de salários também deve ter um crescimento robusto, quando comparada à do ano passado.

Valor: Sem liberação do FGTS, a retomada do consumo se sustenta?

Jensen: Sim. Da liberação do FGTS, apenas parte virou consumo, algo entre R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões. Quando olhamos a massa de salários, teremos aumento ao redor de R$ 10 bilhões no terceiro trimestre e de R$ 13 bilhões no quarto, sempre em relação ao anterior. Isso só da massa de salários. É um valor que sustenta o patamar de consumo e cria espaço para que continue crescendo.

Valor: Vocês atribuíam à turbulência política parte da “culpa” pela projeção de 0,1% de retração neste ano. Esse risco se dissipou?

Jensen: Não exatamente. Isso está impactando mais o investimento do que o consumo, que de alguma forma está se descolando [das incertezas políticas]. Para os investimentos, o quadro continua ruim. Apesar de a economia ter crescido nos dois primeiros trimestres, eles continuam em retração. Dos últimos 15 trimestres, recuaram em 14. Isso tem três causas. Uma é a conjuntura política. Um segundo fator são as eleições de 2018. Há incerteza grande a respeito dos candidatos e de quem será o vencedor, e isso coloca em risco a continuidade da agenda reformista. Um terceiro fator é a grande ociosidade de capital.

Valor: Nem o investimento em reposição de máquinas depreciadas, por exemplo, é possível?

Jensen: Em alguns setores, sim. No agronegócio, que está muito bem, há investimentos. Mas em outros, principalmente a indústria, há um nível de ociosidade muito alto. O setor automotivo é um dos que se recupera, mas continua com ociosidade grande. É esse tipo de investimento que vai demorar, em parte pela ociosidade, em parte pelo risco político.

Valor: Quando os investimentos podem voltar ao terreno positivo?

Jensen: O primeiro passo é parar de cair. Talvez ao longo dos próximos meses a gente consiga ver o fim dessa queda. Um dos setores que afetam muito os investimentos é a construção civil, e há um estoque muito grande de imóveis não vendidos. Enquanto não diminuírem os estoques, dificilmente as construtoras vão criar novos empreendimentos. Então, é algo que pode começar a caminhar minimamente para o lado positivo no ano que vem, mas só vai acelerar à medida que o quadro eleitoral ficar mais definido.

Valor: Apesar da alta menor do PIB no segundo trimestre, a composição é melhor do que no primeiro?

Jensen: No primeiro, houve crescimento bem maior, mas concentrado no agronegócio. Agora está um pouco mais disseminado, ainda que a velocidade seja muito baixa. Uma alta de 0,2%, depois de tudo o que o PIB caiu, é muito pouco. Mas temos um dado mais disseminado no segundo trimestre, com serviços ganhando força, a indústria de transformação e a extrativa crescendo um pouco.

Valor: E do lado da oferta, tanto no segundo semestre quanto em 2018, o que dá para esperar?

Jensen: Será uma recuperação ainda gradual, da indústria e dos serviços. No trimestre que vem, a indústria ainda deve cair, puxada principalmente pela construção. A indústria de transformação vem em trajetória de expansão, assim como serviços. Mas dificilmente veremos aceleração do ritmo de crescimento. No terceiro trimestre, a taxa deve ser próxima aos 0,2% do segundo trimestre.

Valor: Qual é o espaço que o BC tem para ajudar nessa retomada?

Jensen: A queda de Juros tem sido relevante, mas o crédito ainda não é fator fundamental nessa recuperação. Vimos queda importante no endividamento das famílias nos últimos meses, e há uma recuperação incipiente no processo de concessão de crédito. A Taxa Básica de Juros caiu bastante e vai cair mais. O spread caiu pouco, ou seja: os bancos não estão com essa confiança toda. Mas é uma variável que vai ganhando relevância.

Valor: Dá para dizer que a recessão ficou para trás?

Jensen: Já são dois trimestres consecutivos de crescimento, com desenhos bem diferentes entre eles, mas dois trimestres de alta depois de oito quedas consecutivas.

Fonte: Valor

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