Incerteza volta a subir entre empresários
Os desdobramentos da crise política deflagrada após a revelação do conteúdo das denúncias da JBS contra o presidente Michel Temer já aparecem nas sondagens de confiança, um sinal de como a economia reagiu à onda de turbulência. Segundo o economista Aloísio Campelo, superintendente de estatísticas públicas do Ibre/FGV, o Índice de Incerteza Empresarial (IIE) apresentava queda de 3 pontos até o dia 17 de maio, quando o GLOBO revelou o conteúdo da conversa comprometedora entre Temer e o empresário Joesley Batista. Depois, encerrou o mês com alta de 9 pontos.
– Esse índice chegou a quase 146 pontos em setembro de 2015, vinha caindo, mas o que é mais importante é que, no caso desse indicador, cujo carro-chefe é a captação de perguntas do tema incerteza em matérias sobre economia em várias fontes, houve uma guinada muito grande. Todo mundo percebeu que a incerteza entrou no noticiário. É uma alta expressiva – afirmou Campelo ontem, durante Seminário de Análise Conjuntural da FGV.
“CHOQUE DURADOURO” APÓS TSE
O economista explicou ainda que, no dia 17, a equipe da sondagem já havia coletado cerca de 70% das informações necessárias para o mês. Ou seja, os 30% restantes coletados após o início da turbulência foram suficientes para influenciar o resultado do mês inteiro.
– Na verdade, (considerando apenas) a coleta de informações entre os dias 17 e 25 de maio, o índice teria subido para 150, a máxima histórica – afirmou o economista.
A incerteza política deu o tom das análises de economistas, que destacaram principalmente o impacto sobre o esperado ajuste fiscal, com a reforma da Previdência em suspenso.
Na avaliação do economista Manoel Pires, pesquisador associado do Ibre e ex-secretário de Política Econômica de Dilma Rousseff, a incerteza põe um ponto de interrogação sobre a economia, principalmente após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que absolveu a chapa Dilma-Temer.
– O que a maioria dos analistas imaginou é que esse choque ia ser grande, mas bastante curto. Semana passada, o TSE decidiu que esse choque vai ser duradouro, ou um pouco mais permanente do que todo mundo estava imaginando – pontuou Pires.
Na visão do economista José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/ FGV, a trajetória da taxa de juros também é incerta. Ele explicou que o Banco Central já deu sinais de que é cedo para dizer se a turbulência causará aumento da inflação ou não. Portanto, pode ser cedo para continuar a fazer cortes no mesmo ritmo. O especialista, que é ex-diretor do BC, acha difícil que a autoridade monetária repita a dose da última reunião, quando cortou em 1 ponto percentual a taxa Selic, hoje em 10,25% ao ano. O perigo é ter que voltar atrás da decisão.
– A política monetária funciona em função do caminho projetado da taxa de juros. Quanto mais volatilidade, é sinônimo de que é maior o leque de possibilidades. Se ele vai com muita sede ao pote, reduzindo juros agora, pode ter que voltar atrás – explicou o economista, antes de recorrer a uma analogia para explicar o momento atual: – Juro é igual perder peso: reduzir é muito fácil. O difícil é mantê-lo baixo.
O Ibre/FGV também apresentou as projeções para a economia atualizadas. Os economistas esperam que o PIB crescerá 0,2% neste ano. Já a inflação oficial – considerada a notícia positiva do ano – deve encerrar o ano em 3,4%, uma revisão ante previsão anterior de 4,1%.
Fonte: O Globo