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IBGE prepara pesquisa sobre o uso do tempo das famílias brasileiras

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pretende colocar em campo, entre 2019 e 2020, uma pesquisa inédita sobre o uso do tempo das famílias brasileiras. O instituto quer saber como as pessoas dividem suas horas entre o trabalho, a educação, os deslocamentos e os afazeres domésticos. A pesquisa poderá resultar numa extensão do Produto Interno Bruto (PIB), chamada de Conta-Satélite das Famílias.

O levantamento permitirá descobrir como os brasileiros gastam seu tempo, em que local e mesmo com quem (sozinhos, como amigos ou parentes) e entender como esse uso pode variar em função de fatores como gênero, idade, cor e raça, nível de instrução, tipo de trabalho e tamanho da família.

O presidente do IBGE, Roberto Olinto, disse que a pesquisa vai preencher uma “lacuna” nas informações sobre as famílias. Segundo ele, o IBGE já conhece o trabalho e a habitação, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), e os hábitos de consumo e renda pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).

“Vamos complementar o conjunto de informações hoje disponíveis. Por exemplo, vamos saber o tempo de traslado das pessoas para o trabalho, o que serve para orientar políticas públicas. Esse é um indicador de qualidade de vida. Entenderemos melhor o ócio, excesso de trabalho”, disse Olinto ao Valor.

Por enquanto, a pesquisa está mais no campo das intenções: não há previsão orçamentária e cronograma detalhado. Segundo Olinto, o custo não seria “nenhum absurdo”. “O IBGE testou essa pesquisa anteriormente. Ela ainda não foi feita simplesmente porque nossa agenda está atolada de pesquisas.”

Com a pesquisa de uso do tempo, o instituto terá mais um insumo para lançar a chamada Conta-Satélite da Famílias. Essa conta vai usar dados também da POF e da Pnad Contínua para medir de forma mais detalhada o que as famílias produzem e consomem, além de informações complementares.

Segundo Olinto, a pesquisa de uso do tempo contribuiria para a Conta-Satélite ao permitir medir o valor da produção de serviços das famílias para consumo próprio. Ou seja, o IBGE vai calcular um valor para o tempo que as pessoas dedicam aos afazeres domésticos, como cozinhar, limpar, passar e cuidar dos filhos.

Hoje, esse trabalho doméstico não remunerado não está inserido no PIB brasileiro – e nem estará após a elaboração da pesquisa, porque os padrões internacionais das Contas Nacionais não permitem somá-los. Olinto disse é difícil atribuir um valor aos afazeres domésticos.

“Eu sou professor universitário e ganho R$ 100 por dia. A babá que fica com o meu filho em casa ganha R$ 50 por dia. Quando eu estou em casa cuidando do meu filho, esse serviço doméstico vale quanto? Vale R$ 100, que é o custo do meu dia, ou R$ 50, que é o custo da babá? Existe uma grande discussão em torno disso”, afirmou o presidente do IBGE.

A economista Hildete Pereira de Melo, pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF), calculou o que chama de “PIB da vassoura”, considerando o salário médio das empregadas domésticas. Segundo ela, esses afazeres não remunerados valiam 11% do PIB em 2015, algo como R$ 634,3 bilhões.

Hildete reconhece, porém, que o resultado pode estar subestimado. Ela usou como base da conta dados do IBGE que colocam na mesma cesta trabalhos como limpeza, cozinha e cuidado com idosos. “Com a nova pesquisa do IBGE poderemos fazer essa conta com mais precisão” disse a pesquisadora.

Além da pesquisa de uso do tempo, o IBGE pretende incluir no calendário uma pesquisa sobre característica da vitimização. A intenção é colocar a pesquisa em campo em 2021. Esse levantamento, já realizado em 2009, traça o perfil socioeconômico das vítimas de roubo, furto, agressão física e tentativa de furto ou roubo, informou o IBGE.

 

Fonte: Valor

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