Histórico de pacientes vira negócio para companhias
Imagine que um dia você possa ligar o computador e acessar todo o seu histórico de saúde, desde o registro das primeiras vacinas recebidas durante a infância até os mais recentes testes de sangue, exames de imagem e prescrição de remédios. Mais: imagine que você possa medir sua pressão ou taxa de glicose com aqueles aparelhos portáteis e depois descarregar todos os dados no PC, como faz com sua câmera digital. Pode ser que você não tenha o mesmo prazer em olhar a evolução da taxa de triglicerídeos que teria revendo as fotos da última viagem de férias… Mas é bem provável que seu médico fique satisfeito por consultar essa batelada de dados de forma organizada, em um lugar só.
A solução completa para integrar todos os dados de saúde de um paciente ainda não existe. Tampouco, há certezas sobre o tamanho da demanda por um serviço como esse. Mas, à medida que a população envelhece e os tratamentos ficam mais caros e complexos, espera-se que médico e paciente busquem cada vez mais formas de organizar as informações para ter diagnósticos mais eficientes. Gigantes multinacionais como Microsoft e Google colocaram o pé nesse negócio. No Brasil, companhias de diagnósticos falam em oferecer soluções no futuro e uma pequena empresa começou a prestar serviços.
Em setembro passado, o médico Henrique Schützer Del Nero, que também é filósofo e doutor em engenharia de sistemas, abriu a Immi com um aporte de R$ 250 mil de um investidor e amigo. A empresa se propõe a arquivar todos os exames e documentos de saúde do cliente em formato digital, que podem ser acessados por meio de uma senha no site da empresa ou num CD-Rom; e reunir esses mesmos documentos em papel, numa espécie de apostila – conforme o plano escolhido, o preço inclui bolsa de lona ou de couro para o cliente carregar tudo.
Del Nero conta que está negociando a venda dos serviços para uma rede de seguradoras, com cerca de 100 mil clientes. Hoje, por ter apenas três funcionários, a empresa poderia atender cerca de 30 pedidos por mês. O médico conta que está em busca de mais investidores e, por esse motivo, já constituiu a Immi como uma sociedade anônima, mais transparente.
No Fleury, está sendo criado um portal para que os médicos acompanhem os dados de saúde de um paciente. Já a Dasa, líder de mercado, ainda não tem um projeto nesse sentido. “Temos muitas informações centralizadas dos clientes e estudamos uma forma de disponibilizá-los no futuro”, diz o presidente da Dasa, Marcelo Marques.
A mais avançada na questão parece ser a Microsoft. No fim do ano passado, ela disponibilizou o Health Vault, onde cada paciente pode criar gratuitamente uma conta, colocar seus dados e ainda acessar conteúdos ligados à saúde. A companhia vem firmando parcerias com diversos fabricantes de aparelhos que medem, por exemplo, a taxa de glicose no sangue, para que os dados possam ser transferidos ao computador. Hospitais nos Estados Unidos também poderão fornecer informações de pacientes. Segundo Eduardo Longano, gerente de saúde para a América Latina, a grande receita da Microsoft deverá vir da venda de sistemas para os próprios hospitais, em geral pouco informatizados e interessados em ter acesso a informações organizadas dos pacientes. Já o Google ainda está desenvolvendo o serviço “Health”, onde cada usuário poderá incluir seus dados de saúde.
Em todos os casos, as empresas afirmam que o acesso aos dados de saúde serão protegidos e restritos ao cliente e seu médico.
Fonte: Valor